Papo de Talarico: Conheça o amor da Líquida

Uma crônica sobre a liquidez sentado no Teatro João Caetano

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Cia Líquida no Espetáculo de Dança Líquida
Cia Líquida (foto: Alvaro Tallarico)

Em tempos de amores líquidos, no início de 2022, uma grande amiga, terapeuta integrativa, Priscila Pessamillio, me disse que esse ano teria, no primeiro semestre, muitas tragédias com água. Num sábado, fui convidado para ver o espetáculo “Líquida”. E foi o oposto de tragédia.

Fluidez. Essa é a palavra que molhou minha mente ao ver o primeiro ato. Ao mesmo tempo, lembrei das últimas relações amorosas com as quais me deparei, onde, ao menor sinal de desentendimento, tudo ia por água abaixo. Olhava as dançarinas indo e vindo, como ondas no mar, num ritual próprio. Às vezes me sentia como um barco à vela. Ou seja, ao sabor do vento, mas com possibilidades de mudar meu rumo e direcionar, se souber usar a brisa a meu favor.

No segundo ato, a coreografia me trouxe um certo medo. Medo do mar. Afinal, para onde poderia me levar? Sereias e tubarões convivem no mesmo mundo. A dança ficou nervosa, e me mexi na poltrona do Teatro João Caetano. Imaginava a Praça Tiradentes atrás de mim completamente submersa. Era possível correr, mas não fugir.

Bruce Líquida

Respeito. Há de se ter respeito pela força líquida. A capacidade da água de se adaptar é incrível. “Seja como água”, já dizia Bruce Lee, em um de seus momentos de genialidade. Enquanto lembrava desse relevante ensinamento sobre sermos capazes de nos moldar aos acontecimentos da vida, veio, com jeito de raiva, o terceiro ato. Era tempestade, mar revolto. Prendi a respiração.

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Então, de súbito, no balanço de iê, iê,´iê, manjar. O quarto veio cômodo. A caneta na mão. Água mansa. Calmaria. A tão aguardada bonança.

Pássaros que cantam; contam novas rumos. Odeio olhos de ressaca, com cores de traição.

Amo o olhar de maresia, com sabor de tentação.

Cabelos de um lado para o outro, respiro sem sufoco. Grito e não fico rouco.

De tão poeta, sou quase tolo.

A arte me inspira a ser artista. A sorrir para o meu dentista. Dar um abraço no analista. De Bagé. Sem maré.

Meu veículo não dá ré. Segue reto até nas curvas.

O batidão das ondas lembra o funk carioca, que faz mexer até o calhorda. Meu conceito não tem pré. Nem pressa.

Dançar é bom à beça.

No quinto dos invernos há de ter areia, daquela que escorre entre mãos frias.

As cálidas caladas bailavam sobre os grãos, sob as luzes teatrais.

As ampulhetas me encantam, com suas cinturas finas, no tempo da bailarina.

Quem mergulha na areia, come grão de bico.

Ah, agora me lembro, ao sentir a goteira no escritório. Fui convidado para fazer crítica. Ao invés disso, virou poesia. Líquida.

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