Crônicas Cariocas: Círculos

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Joatinga por Rafa BahienseEla andava de ônibus, cansada, tentando ler qualquer livro sem conseguir, perambulando pela cidade, rodando-a, fazendo um enorme círculo: saía de Jacarepaguá, passeava pela orla da Barra, admirava a vista do Elevado, se distraía com as formas geométricas da cidade e retornava pelo centro cortando o subúrbio pela Linha Amarela. O trajeto parecia infindável, e os pensamentos corriam como a paisagem pela janela.

Às vezes algumas coisas simples enchiam-na de felicidade, como no dia em que o homem vendia no ônibus um livro mágico, daqueles que tem uma página de plástico listrada com algumas figuras de animais, e ele os fazia mover rapidamente: um panda corria desesperado, o pinguim executava uma dança exótica, enquanto ele cantava, e todos sorriam sem querer com a brilhante apresentação que o homem fazia do livro. Aparentemente um evento cotidiano, mas cheio de luz, de graça, em um dia de sol atravessando os rostos, aumentando a sensação de encantamento.

A vida tem seus coloridos, mas é tão difícil percebe-lo quando se está imerso em tantas coisas. Andar de ônibus era algo que a fazia esquecer do tempo, dos compromissos, eu a observava de vez em quando, sentada em um café, imersa em qualquer nuvem que cruza o céu antes de criar um temporal inesperado, daqueles que só quem mora no Rio conhece. Fico pensando, talvez assim como a menina que se perdia entre os túneis, vias expressas e praias, que quando o clima muda assim a cidade ficou de mau humor e não avisou a ninguém, já o declarando em suas lágrimas repentinas, para logo depois nos dizer que está tudo bem, com um sol escancarado.

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Ela voltou pra casa em um engarrafamento gigantesco, esperando uma surpresa qualquer, como o vendedor inspirado, mas não houve encantamento. Foi mais uma das voltas pra casa.

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