Crônicas Cariocas: Futebol à tarde

Na crônica da semana, Felipe Lucena destaca a importância de repórteres e cronistas estarem nas ruas atrás de boas histórias. Ideia que ele ele mesmo pratica bastante

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Senhores e senhora tomam sol na porta de casa em um Vargem Grande. Foto: Felipe Lucena

Eu levo a sério a máxima de que repórteres e cronistas têm que gastar a sola do sapato. Tem que ir aonde o povo está, como canta Milton Nascimento, merecidamente enredo do Carnaval da Portela esse ano. Tem que ir para a rua. Toda semana, tiro pelo menos um dia para ir a algum lugar aleatório na cidade do Rio de Janeiro. Ou já vou para uma pauta, ou escolho um bairro e simplesmente vou. Assim, acho que já fui em todos os 165 do munícipio. Pego transporte coletivo, desço em uma área mais geral e dou voltas, tomo um café, uma cerveja. Escuto. Olho. Observo e absorvo.

Essa prática sempre me garante uma ideia de matéria, reportagem, uma inspiração para crônica. Às vezes tudo isso. Nesta semana, o texto que me veio (ou que fui até ele) é nostálgico, meio lírico, reflexivo.

Peguei um ônibus para Vargem Grande. O bairro não é nenhuma novidade para mim, mas foi o escolhido da vez. Frequentei muito a região em outras épocas. Não mudou tanto – ainda mais em comparação com o vizinho Vargem Pequena. O clima de cidade de interior segue lá. Tranquilo, tranquilo, calmo, calmo.

Velhinhos nas calçadas tomando sol, a igreja católica no centro, pequeno comércio, casas com quintal. O futebol no meio da tarde durante a semana.

Nessa saída da vez, encontrei um amigo que não via há tempos, conversei com um tiozinho agricultor que já tinha tomando umas quatro doses de pinga enquanto eu ainda estava no segundo gole de café na padaria e fiz download  de várias boas memórias do passado.

No ônibus que peguei (bem precário, diga-se de passagem, o que também me deu ideia de matéria), aconteceu um acidente. Uma senhora, que estava em pé, caiu no chão após uma freada brusca do motorista. Ajudei a levantá-la. Ela não se machucou, apesar do tombo ter sido feio. Ficamos conversando até ela chegar no ponto dela.

Resolvi descer com ela, pois era próximo a um sítio onde eu jogava bola domingo de manhã. Coisa de 10, 15 anos atrás. Resolvi andar até lá e ver como estava. Eis que, numa quarta-feira à tarde, tinha uma turma jogando futebol. Jovens, coroas, homens de meia idade. Todos juntos.

Fiquei lá, do lado de fora, observando o jogo rolar. A partida estava corrida, movimentada. Pensei em como a vida pode prestar. Senti felicidade. Quarta-feira, meio da semana, meio do horário mais comum dos expedientes de trabalho, e os caras lá, se mexendo, se divertindo. Minha sola de tênis gasta funcionou mais uma vez. A vida é movimento.

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