Crônicas Cariocas: o povo do Rio não sabe usar guarda-chuva

Em dias chuvosos, a crônica de Felipe Lucena faz todo sentido

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Foto Cleomir Tavares / Diario do Rio

“Cariocas não gostam de dias nublados”, diz a música da gaúcha Adriana Calcanhoto. A grande compositora e cantora pode até ter razão, mas acho que nosso problema maior é com os dias de chuva. Ou pior, com o guarda-chuva.

Basta andar por uma movimentada rua da cidade em dias chuvosos que se percebe isso de olhos fechados. A propósito, é melhor caminhar com os olhos fechados, mesmo, pois o risco de ter a vista atingida por um daqueles ferrinhos que sobram de qualquer guarda-chuva é enorme. Se o trânsito de carros fica ruim quando cai água do céu, o de pessoas, nas calçadas, fica quase impossível. Ninguém consegue desviar de ninguém, ficamos sem noção de espaço. Haja choque cultural.

Quando é para baixar o guarda-chuva, nós o erguemos, quando é para levantá-lo, nós o abaixamos. Se o caso é tirar para o lado, as pessoas, frente a frente, movimentam a arma do Pinguim do Batman para o mesmo flanco. Embaixo de áreas cobertas, pode desarmar, gente. Não é crime, não.

A falta de prática para tal uso é também recorrente em locais fechados. Sim. Até onde não precisamos do guarda-chuva, nós mostramos que não sabemos usar esse troço. Em qualquer dia de chuva, o que mais vemos por aí são lojas, escritórios, salas, casas e outros espaços cheios de pequenas poças d’água no chão. Os guarda-chuvas saem pingando por aí, como se chorassem de tanto rir de nossa falta de habilidade.

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Entretanto, nós precisamos deles. Então, o que acontece? Nós os perdemos. Quem nunca perdeu um guarda-chuva que atire a primeira pedra de granizo. Difícil é achar quem já achou um. Acredito que exista uma máfia do frevo que fica com todos os guarda-chuvas que se perderam nos ônibus, metrôs e ruas da cidade do Rio.

Ainda bem que a Terra da Garoa é em outro lugar. Ainda bem que aqui faz mais sol que chuva. Até porque, guarda-sol, nós sabemos usar. E muito bem.

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8 COMENTÁRIOS

  1. Parabéns pelo texto…fazia muito tempo que não lia uma crônica, leve, gostosa, bem carioca como o objeto de seu discurso. Fico eu, carioca da gema, aqui pensando como se daria essa tão sonhada utilização do guarda-chuva pelas ruas do Rio. Já imaginou um código de trânsito para calçada em dias de chuva… Rsrs. Difícil pensar no Carioca despojado, Largadão andando como se estivesse em uma pista automobilística. Mão de ida, mão de volta…distanciamento de um metro de raio para cada sombrinha aberta… Então seria tudo tão mecânico e robotizado que já não seria o funduncio carioca que, de um jeito ou de outro, amamos. Rsrsr

  2. Rio de Janeiro uma cidade que deveria ser estudada pelos centros de pesquisas mundo afora Mais amo esta cidade onde tuto acaba em musica e cerveja com prais , faça sol ou chuva .

  3. Ótimo humor e seria trágico se não fosse cômico.
    O choque cultural que vivemos é realmente enorme, e maior do que muitas pontas de armação em um mesmo olho…
    Embora o frevo seja uma dança com sombrinhas, pois não é para se dançar, nem se cantar em chuvas holywoodianas, a peça também tem pontas e armações… Mesmo assim, nunca se ouviu falar de um olho furado na história do frevo…
    Talvez esteja aí a solução para um sistema educativo, e altamente pedagógico, sobre o uso do apetrecho. Em vez dos vereadores ficarem perdendo tempo e gastando o dinheiro público somente para dar nome a ruas e inventar feriados inúteis, quem sabe, para justificarem sua inação e indolência públicas e notórias, sugiro que instituam aulas de frevo em praças públicas neste mar de feriados e feriadões.
    Garanto que será uma festa comemorada por todos, ao mesmo tempo em que o preparo físico conseguido diminuirá as filas nos hospitais de tratamentos cardíacos e, certamente, a habilidade com os “morcegos”, atualmente usados com total imperícia e falta de educação, melhorará substancialmente.
    Sem falar que enquanto se dança frevo não há tempo para se perder com celulares inúteis e guerras de pontas de guarda-chuvas…

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