Dias de luta, dias de glória: a mudança no panorama das artes marciais no Rio de Janeiro

Das brigas em ruas, academias e bailes para os eventos profissionais e a paixão do grande público; o lutador Alex Gazé viveu todas essas transformações e falou sobre com o DIÁRIO DO RIO

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp

Com o perdão do trocadilho ruim, mas ser lutador no Rio de Janeiro dos anos 1990 era uma luta. Brigas em academias, nas ruas, em bailes eram constantes e isso jogava a prática de artes marciais nas cordas da marginalização. Contudo, nas últimas décadas o cenário mudou e hoje eventos envolvendo lutadores são sucesso de público, além da prática de lutas como esporte, que entrou definitivamente na vida das pessoas.

Um dos caras que viveu todas essas mudanças foi Alex Gazé. Nascido e criado no bairro do Grajaú, na Zona Norte do Rio de Janeiro, Gazé tem 48 anos e iniciou na luta aos 12, em busca de técnicas de defesa pessoal e, consequentemente, elevação da autoestima, já que, naquela idade, era alvo de bullying na escola. Seus primeiros passos no tatame foram na tradicional academia Boxe Thai, sob a batuta da lenda da modalidade Luiz Alves.

WhatsApp Image 2022 07 15 at 15.32.41 Dias de luta, dias de glória: a mudança no panorama das artes marciais no Rio de Janeiro
Alex Gazé. Foto: Arquivo pessoal

“Essa época [anos 1990] foi muito louca. Eu, que treinava muay thai e luta-livre, diferentemente de muitas pessoas da minha geração, tinha amigos do jiu-jitsu e tinha vontade de treinar com eles, mas não consegui, porque existiam essas rixas. É até um arrependimento que tenho, hoje em dia meu chão seria muito mais refinado se eu tivesse treinado jiu-jitsu de pano nos anos 1990. Só que era complicado por causa dessa rivalidade e muita gente via lutador com maus olhos”, destaca o lutador Alex Gazé, que lembra bem dessa época, inclusive dos bailes de corredor, que ele não frequentava, no entanto, viu muita gente morrer e coisas ruins acontecerem nesses eventos.

Os bailes funk de corredor nasceram na década de 90 no Rio de Janeiro, de acordo com o portal Wiki Favelas, “foram gerados no seio dos festivais de galera. Festival de galera era o nome que se dava aos encontros dos bailes funks que, organizados por equipes de som, semanalmente traziam um tema social midiático para as galeras (comunidades). Cada ‘galera’ desenvolvia a sua própria criatividade para expressar o tema proposto através de maquetes, bolas coloridas e uma pessoa ficava incumbida de fazer um ‘grito’ (uma música/rap voltada para o tema)”. Contudo, o que era uma festa, muitas vezes terminava em brigas generalizadas.

Advertisement

As brigas entre membros de academias voltadas a determinadas artes marciais também eram muito comuns nessa época. Entre um dos episódios mais famosos está a invasão da Academia Naja, na Zona Sul do Rio. As brigas entre os praticantes de jiu-jitsu e da luta-livre eram constantes. Em vários lugares.

“Essas brigas aconteciam, era ruim, porque marginalizava os lutadores, não encaravam a gente como atletas. Era horrível. Por outro lado, foi daí que surgiu o MMA, que veio do vale-tudo sem regras, com a família Grace, foi o início do UFC. Foi o início de tudo”, lembra Gazé.

Os tempos de marginalização das artes marciais sofreram o golpe do tempo e a visão que as pessoas tinham, no geral, a respeito das lutas mudaram. Nesse meio tempo, Alex Gazé se tornou empresário do ramo. Ele fundou o Face to Face, evento de MMA que estreou em 2009.

“O Minotauro me ligou um dia e falou que o Sylvester Stallone, que estava gravando um filme no Rio, queria ver um evento de MMA. Eu nunca tinha feito um evento. O Minotauro me deu essa função. Era uma sexta-feira, 22h, e eu tinha que organizar o evento em 20 horas, para acontecer no dia seguinte. Eu fiquei muito louco na hora, mas fui ligando para as pessoas, como conheço muita gente na área, fui montando as lutas e conseguimos fazer o evento”. Assim nasceu o Face to Face. O resto é história.

WhatsApp Image 2022 07 15 at 17.59.58 Dias de luta, dias de glória: a mudança no panorama das artes marciais no Rio de Janeiro
Uma das últimas edições do Face to Face

Até aqui foram 12 eventos, todos sempre sucesso de crítica tanto dos especialistas quanto dos fãs, com direito a estrutura parelha aos grandes eventos internacionais e atuação de lutadores que hoje representam o Brasil ao redor do mundo no maior evento da modalidade, o UFC, casos de Gilbert Durinho e Paulo Borrachinha.

Em meio a tudo isso, os grandes eventos de lutas ganharam o público. É muito comum no Rio de Janeiro os bares ficarem lotados para assistir uma luta no UFC, envolvendo brasileiros ou não.  “É uma paixão nacional. O brasileiro adora o MMA. Foi criado aqui no Brasil, o vale-tudo nasceu aqui no Brasil. Depois do futebol, o MMA tomou conta na lista de esportes favoritos por nós brasileiros”, frisa Alex Gazé.

Tanto caiu nos braços do povo que hoje em dia é muito comum celebridades e outras pessoas públicas praticarem lutas. Alex Gazé foi personal fighter de artistas como Cléo Pires, José Loreto, Nego do Borel e do jogador da Seleção Brasileira Thiago Silva.

“Hoje em dia a luta, o MMA, têm regras, gera empregos, as pessoas se divertem acompanhando, não é mais uma coisa marginalizada. As pessoas entenderam isso e fico muito feliz por fazer parte disso desde o inicio”, finaliza o lutador.

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
entrar grupo whatsapp Dias de luta, dias de glória: a mudança no panorama das artes marciais no Rio de Janeiro
Advertisement

1 COMENTÁRIO

  1. Todo mundo devia praticar artes marciais, o mínimo de defesa pessoal. A sociedade seria mais confiante de si, haveria menos gente frouxa e, de quebra, a cidade seria mais segura.

Comente

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui