Diego Maia: O Jeito Carioca de Vender e Atender o Cliente

Neste artigo de opinião, Diego Maia mostra o jeito peculiar que o carioca tem de atender e vender

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Foto: David Mark por Pixabay

Todos sabemos que o Brasil é um país vasto e diversificado, repleto de peculiaridades culturais que se refletem em diferentes aspectos da vida cotidiana. Quando se trata de vendas e atendimento ao cliente, cada região possui características únicas que influenciam a forma como os negócios são conduzidos. 

Mas no Rio de Janeiro…. ah, no Rio de Janeiro…

No Rio não tem jeito: nosso dialeto revela, de pronto, nossa naturalidade e é nossa marca registrada. Não tem como ouvir um “já é”, um “meu chefe” ou um “tá ligado” e achar que está em Salvador ou em Porto Alegre. Ouvir essas gírias nos situa exatamente onde estamos…

– É mermão!

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– Tá tranquilo, tá favorável!

– Tamo Junto meu patrão!

Conhecido por suas praias paradisíacas, o Carnaval animado e o estilo de vida descontraído, nossa região também se destaca por seu jeito particular de vender. Seja na venda popular, na venda de veículos ou na venda de imóveis, o dialeto carioca nos une e nos representa.

Nós, os cariocas, somos conhecidos por nossa extroversão. Somos calorosos, comunicativos e, na maioria dos casos, afetuosos. E essa personalidade carismática é uma das principais características do jeito carioca de vender.

Na hora de atender o cliente, tendemos a utilizar o humor e a simpatia como ferramentas para conquistá-lo. Quem nunca ouviu as chamadas de gosto duvidoso “tem promoção e pra mocinha”?

Intuitivamente ou não, procuramos estabelecer uma conexão pessoal e criar um ambiente descontraído durante a interação com o cliente. E essa abordagem amigável e acolhedora pode fazer com que o cliente se sinta mais à vontade e confiante na hora de tomar decisões de compra.

Mas de onde vem o dialeto carioca?

O dialeto carioca é resultado de uma mistura de influências culturais que remonta à época colonial do Brasil. A cidade do Rio de Janeiro foi a capital do país durante muitos anos, recebendo imigrantes de várias partes do mundo. Além dos povos indígenas e dos africanos trazidos como escravos, os imigrantes europeus, principalmente portugueses e italianos, também contribuíram para a diversidade linguística da região.

Essa riqueza linguística se reflete na forma como nos expressamos, incorporando palavras e expressões de diferentes origens ao vocabulário cotidiano. Além disso, o contato com turistas de todas as partes do mundo, especialmente durante o Carnaval, também contribui para enriquecer nosso repertório linguístico.

O que nos diferencia dos outros estados?

Enquanto o jeito carioca de vender é marcado pela descontração e pela informalidade, em outros estados brasileiros a abordagem pode ser diferente. Em São Paulo, maior centro financeiro do país, as vendas costumam ser mais focadas na eficiência e na objetividade. Os paulistanos tendem a ser mais diretos e pragmáticos durante a interação com o cliente, valorizando a agilidade nas negociações. Olham de forma estranha pro nosso “x”, pro nosso desenrolo, pra nossa sagacidade e pro ddd 021 dos nossos telefones. 

Por outro lado, em estados do Nordeste, como Bahia e Pernambuco, é comum encontrar vendedores com uma abordagem mais afetiva e cordial, valorizando o relacionamento interpessoal. Nesses estados, a empatia e a troca de experiências pessoais podem ser consideradas mais relevantes no processo de venda, assim como por aqui.

Mas no Rio de Janeiro a coisa tem um tempero a mais. Na terra de Sebastião, o atendimento costuma ser caloroso, atencioso e, principalmente, bem-humorado. Cara fechada e gente desmotivada não tem vez por aqui: eles afugentam o cliente, todo mundo sabe. Cliente carioca não tolera ser mal atendido: quando não reclama, simplesmente sai e vai comprar de outro lugar.

No Rio temos uma forma cativante de lidar com os clientes, sempre mostrando disposição para ajudar e resolver problemas de forma descontraída. Menos quando ele brota nas horas mais impróprias. Me refiro ao cliente que chega dois minutos antes do expediente terminar… Aí o tempo fecha.

O carioca é informal

A informalidade é nossa marca registrada, o que pode deixar o cliente mais à vontade e confortável durante a interação. A empatia é uma característica essencial desse nosso jeito de atender, o que demonstra que estamos genuinamente interessados em ajudar e satisfazer as necessidades do cliente.

Se em Minas o vendedor é mais cordial e educado e se no Rio Grande do Sul o atendente é mais reservado e direto, aqui tem malemolência. E isso é bom, beleza?

Mas, como tudo nessa vida, tem que ter limite. 

A linha que separa o estilo carioca de vender e atender os clientes é uma fronteira muito frágil com a má impressão. Não são poucos os clientes que acham que serão enrolados durante um discurso ao estilo sambarilove.  Afinal, somos regidos por uma espécie de lei imaginária que determina que, por aqui – quase – todo mundo quer levar vantagem em tudo. 

Todo cliente – carioca ou não – percebe quando está sendo enrolado e quando o vendedor está “somente” focado no dinheiro que vai ganhar. Tenha cuidado, irmão! Não adianta nada fechar a venda e não ficar com o cliente, criando uma legião de pessoas que falam mal da gente e que jamais voltariam a fazer negócios conosco.

Separei algumas características comuns do jeito carioca de vender e atender. Se você é 021 raiz, vai se identificar:

  • Simpatia: os cariocas geralmente são conhecidos por serem simpáticos e receptivos. Temos a tendência de cumprimentar os clientes com sorrisos e uma atitude amigável, mas isso precisa ser treinado diariamente pois somos humanos e ficamos desmotivados com muita facilidade. 
  • Proximidade: os vendedores cariocas costumam criar uma atmosfera descontraída e próxima dos clientes. Intuitivamente buscamos estabelecer conexões pessoais para tornar a experiência de compra mais agradável e às vezes passamos do tom na intimidade forçada chamando o cliente de “amor” e “meu bem”.
  • Expressividade: os cariocas são conhecidos por sua expressividade e comunicação gestual. Durante o atendimento, é comum usar gestos e expressões faciais para enfatizar pontos importantes ou demonstrar entusiasmo.
  • Flexibilidade: a abordagem carioca é geralmente flexível e adaptável às necessidades do cliente. Os vendedores estão abertos a negociações e tentam encontrar soluções que satisfaçam as demandas do cliente. É quase uma regra: se o vendedor não consegue o que o cliente quer, ele diz: “vou falar com meu gerente para ver o que ele pode fazer por você”, mesmo que isso seja uma técnica de vendas aprendida na escola da vida.
  • Informalidade: em muitas situações, a informalidade é valorizada. Isso não significa falta de profissionalismo, mas sim um estilo mais descontraído, que facilita a comunicação e cria uma atmosfera mais leve.
  • Valorização do relacionamento: os cariocas tendem a valorizar os relacionamentos com os clientes. Eles não estão apenas focados em fechar uma venda, mas em criar conexões duradouras que possam resultar em recomendações e retornos futuros.Ao menos é isso que eu propago nas empresas que contratam minhas palestras motivacionais de vendas

Guia rápido para compreender o dialeto comercial da cidade do Rio de Janeiro:

  • “Fala aí, meu querido(a)” – Expressão usada para cumprimentar o cliente de maneira amigável e informal.
  • “Tá tranquilo, tá favorável” – Uma expressão que indica que tudo está bem, criando um clima descontraído na conversa.
  • “Vamos desenrolar isso para você” – Significa que o atendente está disposto a resolver qualquer problema ou dúvida do cliente de forma rápida e eficiente.
  • “Tamo junto!” – Essa gíria é usada para demonstrar solidariedade ao cliente, mostrando que o atendente está ao lado dele e pronto para ajudar.
  • “Vou te dar um help nessa parada” – Significa que o atendente vai ajudar o cliente a resolver qualquer questão ou dificuldade que ele esteja enfrentando.
  • “Tô ligado!” – Essa gíria indica que o atendente está entendendo o que o cliente está dizendo ou pedindo.
  • “Pode deixar comigo!” – Essa expressão mostra ao cliente que o atendente assumiu a responsabilidade de resolver sua solicitação ou problema.
  • “Qual é a fita?” – Significa que o atendente vai verificar a situação e buscar a melhor solução para o cliente.
  • “Fechado!” – Uma forma informal de dizer que o acordo está selado ou que o atendente concorda com o cliente.
  • “Chama no zap” – Usada para indicar que o cliente pode entrar em contato através do aplicativo de mensagens instantâneas. Nas outras regiões do Brasil, o apelido do aplicativo verdinho é “Whats”. Por aqui é “zap” mesmo. 
  • “Vou dar uma olhada rapidão” – Indica que o atendente verificará algo rapidamente.
  • “Mermão” – Uma forma amigável de se referir ao cliente.

Morô?
* Diego Maia é um carioca apaixonado pela cidade, morador de Santa Teresa e apontado pelo Google como o palestrante de vendas mais contratado do Brasil. É CEO do CDPV, apresentador do podcast BoraVoar e escritor com sete livros publicados.

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1 COMENTÁRIO

  1. Sou carioca, moro no Rio minha vida toda, e gostaria muito de que a realidade fosse essa pintada no artigo. Mas não é.

    Pode ser quando o vendedor é o dono do seu negócio: o feirante, o camelô, o corretor, etc. Ou quando o trabalhador, embora não sendo o dono, é comissionado

    Mas quando falamos do atendimento do trabalhador comum, assalariado, do comércio e restaurantes, no geral ele é desatencioso, frio e muitas vezes até grosso e descortês.

    Muito diferente das experiências que tenho em outras grandes cidades, incluindo São Paulo, onde dificilmente não te atendem com um sorrizo e um bom dia.

    Repito, gostaria muitíssimo que a realidade do atendimento aqui no Rio fosse a pintada no artigo, mas está longe de ser.

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