Dirigente ligado ao setor de Turismo critica Embratur por manipulação de dados

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A matéria intitulada “Melhor resultado da história: gastos de turistas internacionais no Brasil alcança marca de US$ 3,7 bilhões no 1° semestre de 2024”, publicada no site da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), nesta segunda-feira (29), foi duramente criticada pelo presidente da Associação Rio Vamos Vencer (RVV), Marcelo Conde, por indício de manipulação de dados. O artifício foi repudiado pela entidade, que atua na defesa do turismo e da elaboração e execução de políticas públicas para o setor.

De acordo com Conde, com o intuito de valorizar os resultados do turismo receptivo no Brasil, a Embratur teria tomado intencionalmente como base valores nominais de 2014 – sem efetuar correções cambiais ou monetárias -, para afirmar que o turismo internacional no Brasil bateu recorde histórico de consumo, no primeiro semestre deste ano, contabilizando US$ 3,7 bilhões  – R$ 20,9 bilhões. O resultado, segundo a matéria, teria ultrapassado o do mesmo período de 2014, quando, conforme observação de Marcelo Conde, os viajantes estrangeiros injetaram US$ 3,5 bilhões – R$ 20,2 bilhões na economia brasileira.

Para o dirigente da RVV, a Embratur desconsidera deliberadamente que as correções dos valores de 2014, sob quaisquer índices, resultariam, atualmente, em R$ 41 bilhões: o dobro do valor divulgado na matéria. Situação semelhante foi identificada quanto aos valores em dólares que, na época, somavam U$ 3,5 bilhões, e, atualmente, bateriam U$ 4,6 bilhões, com a aplicação do CPI – indicador da inflação americana -, no período de 2014 até 2023, totalizando um acréscimo de 32%

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“A grande fragilidade é que o texto utiliza valores de 10 anos atrás sem corrigir esses números pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que foi mais de 100% neste período, e os compara com números atuais. Considerando a inflação ao longo deste tempo, o valor apresentado é um grande retrocesso e não um aumento histórico”, criticou Marcelo Conde, ressaltando o aumento das exportações brasileiras, que passaram de US$ 225 bilhões em 2014, para US$ 339 bilhões até 2023, sendo que o turismo estrangeiro é exportação, especialmente, de serviços.

Conde classificou como grave, para o próprio Governo Federal, o mascaramento do fraco desempenho do turismo internacional e da geração de receita no País.

“Já faz mais de 20 anos que estamos estagnados em 6 milhões de turistas estrangeiros ao ano, sem um crescimento expressivo mesmo com as realizações da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos de 2016, o que reforça a falta de prioridade do Governo com o setor de Turismo. Ao invés de manipular dados para mostrar um crescimento que não existe, confundindo inclusive o próprio Governo Federal, a Embratur deveria atuar na luta pela liberação de vistos, principalmente para os americanos, no apoio ao setor aéreo, na diminuição de tributos, na implantação do Tax Free e no desenvolvimento de um plano estratégico para o Turismo”, concluiu o dirigente da Associação Rio Vamos Vencer.

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Patricia Lima

Jornalista

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Ver comentários

  • Primeiro, esta informação foi azeitada pela Embratur da turma do Psol, do Maduro (Freixo). Mas também pelo Minsitério do Turismo que diz ser informações do Banco Central. Ano de eleição é o bicho. Haja melancia!

  • Na verdade, as duas contas apresentam equívocos.

    $ 1 dólar em 2014 valia, na média do câmbio do primeiro semestre, R$ 2,30. Convertendo R$ 3,5 bilhões teríamos R$ 8,05 bilhões. Atualizando o dólar pela inflação americana, de 32,71% entre julho de 2014 a junho de 2024, o valor chegaria a $ 4,64 bilhões de dólares. Convertendo pelo câmbio médio do primeiro semestre de 2024, de R$ 5,08, o resultado é de R$ 23,60 bilhões.
    Por sua vez, os $ 3,7 bilhões de dólares injetados na economia esse ano pelo turismo internacional, considerando o câmbio médio do primeiro semestre de 2024, resulta em R$ 18,8 bilhões. A Embratur converteu $ 3,7 bilhões usando câmbio de R$ 5,65, que é o câmbio da última semana de julho.
    Dessa forma, há clara manipulação de dados econômicos do setor na divulgação da Embratur, como a escolha do câmbio mais alto, só foi atingido no em julho e não no primeiro semestre, assim como na atulização com valores abaixo do real para os dados de 2014.
    Da mesma forma, os valores de 2014 não equivalem, em 2024, a R$ 41 bilhões. A inflação americana, como já demonstrado e dito na própria reportagem, foi de 32,71% no acumulado do período. Já a inflação brasileira foi de 75,36%, mas nesse caso, não pode ser aplicada para a correção dos valores referentes à conta turismo, uma vez que é preciso realizar a relação com o câmbio e a inflação americana, já que a moeda brasileira é o output da equação e não o input. E não se atualiza moeda estrangeira pelo IPCA.
    Mesmo assim, é verdade que o primeiro semestre de 2024 não foi melhor para o setor de turismo internacional que o mesmo período de 2014. Em termos reais, o resultado de 2024 foi R$ 4,8 bilhões inferior a 2014.