Dom Orani leva ao conclave a “profecia” de quem previu seu futuro religioso

Cardeal Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, participa do conclave carregando consigo uma antiga "profecia" de sua mentora religiosa, que previu sua trajetória rumo ao episcopado e, possivelmente, ao papado.

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Dom Orani João Tempesta na Missa de Reabertura da Igreja da Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores - Foto Daniel Martins/DIÁRIO DO RIO

O cardeal Orani João Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, leva consigo ao próximo conclave mais do que a responsabilidade de escolher um novo papa: carrega a lembrança de uma antiga profecia feita ainda em sua juventude.

Nascido em São José do Rio Pardo (SP), o caçula de nove irmãos quase desistiu da vida religiosa por preocupação com seus pais idosos e humildes. Porém, a intervenção da professora e religiosa Maria de Lourdes Benedita Nogueira Fontão, conhecida como Lourdinha, foi decisiva. Ela não apenas encorajou Orani a seguir seu caminho, como prometeu cuidar de seus pais. Ainda naquele período inicial, vaticinou: “Ele será bispo e papa”.

Hoje, como cardeal apto a votar e ser votado no conclave, Orani mantém vivas suas raízes. Pessoas próximas asseguram que o religioso jamais manifestou ambição pelo papado, mas nunca se esqueceu da amizade com a família de Lourdinha, que teve cinco filhos.

“Orani falou que queria estudar para padre, mas que não ia por causa dos pais idosos. Minha mãe falou: ‘vá e eu cuido deles. Eu prometo ir lá todo dia levar a comunhão para eles’”, recorda a professora Maria de Lourdes Fontão, filha de Lourdinha.

A ligação entre as famílias nunca se rompeu. “Dom Orani nunca deixou de ter um vínculo com a comunidade de onde ele saiu. E nunca deixou de ter um vínculo com a minha família”, afirma o médico Paulo Celso Fontão, autor do livro “Um coração para amar”, que relata a história de sua mãe, hoje em processo de beatificação.

O destino traçado por Lourdinha seguiu se concretizando: Orani foi ordenado bispo em 1997, arcebispo de Belém em 2004, arcebispo do Rio em 2009 e criado cardeal em 2014.

A devoção e o apoio da educadora à sua comunidade foram igualmente marcantes. Lourdinha realizava visitas a doentes e necessitados, usava seu salário para ajudar os mais pobres e, segundo relatos, foi uma inspiração para a vocação de muitos, como o atual abade do mosteiro de São José do Rio Pardo, Paulo Demartini.

“Ela era uma mulher muito piedosa e hoje em processo de beatificação. Eu devo a ela a minha vocação”, conta Demartini.

A influência de Lourdinha ultrapassou as fronteiras da fé. Seu filho, o médico Paulo Fontão, relata que os ideais recebidos da mãe inspiraram sua atuação em prol de populações vulneráveis. “Eu sempre procurei entender que seria essa a maneira de fazer o meu trabalho como médico, iluminado pela realidade dessa relação com Deus”, afirma.

Fontão também estudou a interseção entre espiritualidade e saúde, inspirado pelas mensagens do papa Francisco, cuja defesa é assumida com entusiasmo. “Quando comecei a estudar os textos do papa Francisco, vi que ele fala das periferias existenciais e geográficas. A gente deve se deixar tocar pela realidade”, explica.

No dia 23 de janeiro de 2021 foi realizado o translado e reconhecimento canônico dos restos mortais de Lourdinha Fontão da Igreja de Nossa Senhora do Loreto para o Santuário de São Roque em São José do Rio Pardo (SP) a solenidade foi realizada com missa celebrada pelo bispo diocesano, Dom Antônio Emídio Vilar com participação da Comunidade Cisterciense. Maria de Lourdes Benedita Nogueira Fontão, conhecida como Dona Lourdinha Fontão, faleceu no dia 18 de julho de 1988 e foi sepultada no interior da igreja Nossa Senhora do Loreto, em São José do Rio Pardo e em 2014 declarada pela Igreja Católica Serva de Deus.

Entenda o que é o conclave: a eleição do novo papa

Conclave é a reunião secreta dos cardeais para escolher o novo papa. Saiba como funciona, quem participa e as tradições envolvidas.

O conclave é o processo pelo qual a Igreja Católica escolhe um novo papa, líder espiritual de mais de um bilhão de fiéis no mundo. A palavra vem do latim cum clave, que significa “com chave”, em referência ao isolamento dos cardeais votantes em um local fechado até que uma decisão seja tomada.

O conclave é convocado após a morte ou renúncia do papa. Durante o período de sede vacante, o governo da Igreja é assumido pelo Camerlengo, um cardeal designado para cuidar dos assuntos administrativos até a eleição do sucessor.

A eleição ocorre na Capela Sistina, no Vaticano, e apenas cardeais com menos de 80 anos podem votar. Atualmente, cerca de 120 cardeais têm direito ao voto. Todos prestam juramento de sigilo absoluto sobre o que ocorre durante o conclave.

O processo é meticuloso: os cardeais realizam sessões de oração e reflexão antes de votar. Cada eleição é feita por voto secreto e são necessárias duas votações pela manhã e duas à tarde. Para ser eleito, o candidato precisa obter dois terços dos votos.

Os votos são depositados em urnas e, após cada rodada, são queimados. A cor da fumaça que sai da chaminé da Capela Sistina indica o resultado: se a fumaça é preta, não houve eleição; se é branca, um novo papa foi escolhido.

Além das regras formais, o conclave também é envolto em tradições seculares. Entre elas, a clausura dos cardeais e a proibição de qualquer contato com o mundo exterior — celulares, internet e televisão são terminantemente vetados.

O anúncio do novo papa é feito da varanda central da Basílica de São Pedro, com a tradicional frase em latim: “Habemus Papam!” (“Temos um Papa!”), seguida pela apresentação do nome do escolhido.

O conclave é um dos eventos mais solenes e observados da Igreja Católica, carregado de história, simbolismo e significado espiritual. Mais do que uma simples eleição, é um momento que marca uma nova etapa na liderança da fé católica no mundo.

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