Matheus Carneiro de Almeida Canuto é pintor, grafiteiro e artista digital carioca. Mais conhecido como Sagace Proibidão, ele nasceu no Morro dos 48 em Bangu e vive atualmente na Pavuna, onde ficam os complexos de favelas do Chapadão e da Pedreira.
A estética e o cotidiano das periferias são o fio condutor de sua pesquisa artística, que traz temas como a miséria, a violência, as relações interpessoais, a música e a arte como forma de liberdade.
Neto de costureira, filho de artesã e de um funcionário do Jornal do Brasil, sempre teve a arte por perto. ”Comecei desenhando na infância, na escola era a minha atividade preferida. Minha paixão era ir ao Centro da cidade com meu pai e ficar vendo os grafites”, conta.
Mais tarde, seus desenhos saíram do papel e foram para as paredes. O grafite foi uma forma de ocupar o território com seu próprio nome. Autodidata, Sagace trabalhou com design gráfico e encontrou no digital uma forma de contornar a falta de materiais de desenhos.
”Meus primeiros trabalhos digitais nasceram no Orkut, onde todo mundo colocava um desenho animado como avatar. Eu não me sentia representado por nenhum, então decidi me tornar um desenho. Depois que viram o meu desenho, algumas pessoas encomendaram os seus. Eu era um adolescente ainda, então foi meu primeiro dinheiro através do talento”.
Sagace só produziu sua primeira tela em 2018 por achar a pintura muito formal e até então não se ver ocupando este espaço. A venda deste trabalho para um colecionador de São Paulo, que conheceu seu trabalho pelas redes sociais, quebrou esta crença.
Atualmente produz pinturas em acrílico, caneta e spray, com muitas camadas. Cria personagens e situações em que moradores de comunidades fogem de seus estigmas e quebram estereótipos. ”Hoje vejo minha arte um registro histórico, o manifesto de um jovem que vive num ambiente de uma guerra pouco comunicada”.
Nessas batalhas diárias do cotidiano do carioca, o artista já é um exemplo em sua comunidade. ”A arte já muda realidades, eu sou a prova disso, sou resultado de projeto social de uma ONG. É através disso sou espelho para mudar outras realidades. Já ouço dos amigos que querem sair do crime para fazer arte. É uma pirâmide do bem”, explica.
E seu sonho é poder transformar outras histórias: ”Quero abrir uma escola gratuita de artes plásticas na Pavuna, e fazer uma exposição itinerante, apenas em locais identificados como áreas de risco.”
Em agosto, ele leva sua arte carioca para o estande da Galeria Radiante, que o representa, na feira de arte Rotas Brasileiras, desdobramento da SP-Arte.
”Vou abordar a fé em meio a guerra. E trazer uma analogia da guerra da vida selvagem e da nossa guerra”, conclui Sagaz, que tem o improviso, liberdade e atitude não só na arte, mas no estilo de vida.