Ediel Ribeiro: A culpa é do Borjalo

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre o cartunista Mauro Borja Lopes, o Borjalo

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Foto: divulgação

Já culparam Borjalo por muitas coisas.

De ter vendido a alma a Roberto Marinho e até de ser censor, por conta dos 36 anos que passou na “Rede Globo”.

A maioria por ciúmes e inveja, é certo.

Mas, de uma coisa o Borjalo é culpado: pelo Jaguar. Sem Borjalo, não existiria Jaguar – pelo menos o nome.

“Há 50 anos, eu fui mostrar os meus desenhos ao Borjalo na revista ‘Manchete’ e assinava Sérgio Jaguaribe; então ele disse: “Com esse nome você não vai emplacar”. E criou o Jaguar”, disse o humorista.

Borjalo criou ícones que resistem até hoje na memória afetiva do brasileiro, como a zebrinha que durante anos anunciou o resultado da loteria esportiva, criada em 1972.

Alguns anos depois, o cartunista, já usando computação gráfica, criou os cartuns eletrônicos para as vinhetas da Globo, os famosos “plim-plins”.

Borjalo era um gênio. Um dos melhores do mundo. Conhecido por seus personagens de traços simples, desenhados sem boca. Na maior parte das vezes, não usava palavras, o que é muito mais difícil.

Borjalo tinha vocação rara para o desenho, desde criança. Antes de usar o lápis e o papel, desenhava com carvão nas paredes de casa, em Pitangui – antiga Velho da Taipa – Minas Gerais, onde nasceu.

A carreira do cartunista mineiro Mauro Borja Lopes, o Borjalo, nascido em 1925, começou no final dos anos 40, em Belo Horizonte, fazendo charge esportiva no jornal “Folha de Minas”.

Em 1947, foi demitido e, no mesmo dia, convidado para trabalhar na “Gazeta Esportiva”. Na mesma época fazia charges políticas na primeira página do “Diário de Minas”.

Com o sucesso alcançado em Minas, em 1954, a convite de Otto Lara Rezende, Fernando Sabino e Augusto Rodrigues, veio para o Rio de Janeiro, trabalhar na revista “Manchete”.

Aqui, colaborou também com a revista “A Cigarra”.

Naquele tempo, todos os grandes humoristas estavam na “O Cruzeiro”, menos o Borjalo, que estava na “Manchete”. Aí, “O Cruzeiro” foi lá, comprou o passe do Borjalo.

Em 1955, participou do “Congresso Internacional de Humorismo“, na Itália, sendo incluído entre os sete maiores caricaturistas do mundo.

Teve trabalhos publicados nos Estados Unidos, Inglaterra, Itália, Suécia, França e outros países. Publicou seus trabalhos nos icônicos “The New York Times” e “Paris Match” e foi apontado por outro mestre de desenho, o cartunista Saul Steinberg, como um dos cinco maiores do mundo.

O cartunista era bom de copo. Bebia todas. Teve como parceiros de traço e de copo, os cartunistas Jaguar, Fortuna, Millôr e Ziraldo, entre outros.

O pai do menino maluquinho, por sinal, foi quem substituiu Borjalo no “Folha de Minas” quando este veio para o Rio trabalhar na “Manchete”. “Borjalo foi o primeiro cartunista moderno do país”, diz Ziraldo.
Além do trabalho em jornais e revistas, Borjalo fez sucesso também na televisão e no rádio. Trabalhou na “TV Excelsior” e na “TV Tupi”, antes de, em 1966, a convite de Walter Clark, ingressar na “TV Globo”, onde trabalhou por 36 anos.

Entre 1967 e 1976, a imagem da emissora esteve associada a um logotipo criado por Borjalo que só seria substituído com a chegada do alemão Hans Donner, no final dos anos 70.

No rádio, durante anos participou do programa “Debates Populares”, do radialista Haroldo de Andrade, na “Rádio Globo” – AM do Rio de Janeiro.

Em 1978, lançou o livro de cartuns “O Caçador de Borboletas”, com tiragem limitada e distribuído entre os amigos, pela Globo Livros.

Borjalo morreu em 18 de novembro de 2004, aos 79 anos de idade, em decorrência de um câncer.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"

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