Ediel Ribeiro: Ary Moraes, da charge a info

Colunista Ediel Ribeiro fala sobre o cartunista Ary Moraes

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Ary Moraes - Foto: Reprodução

Em 1985, do seu quadrado, no saudoso ‘Jornal do Brasil’, um cético Millôr anunciava em tom profético: “Um espectro assusta o país – o espectro do humor a favor”.

O cartunista e escritor Millôr Fernandes alertava os colegas de pena para o risco de se deixar esvair do humor aquilo que é a sua essência: “Cabe a nós, profissionais das transparências, não perder um minuto. Dar nome aos bois. E aos cavalos.”

O humor a favor é o que não revela, aquele que dá a entender que não há o que se esconder. É o humor de direita. Como disse Jaguar, em uma entrevista recente: “hoje, o humor não serve mais para nada”.

O velho cartunista certamente falava do ‘humor sem graça e pouco inteligente da direita’ e do fim das charges e do cartum impresso em jornais. Mas nem sempre foi assim. Houve tempo em que a charge e o cartum eram valorizados e ocupavam lugar de destaque nos jornais brasileiros. Em alguns jornais, substituíam as fotos e até o editorial. Valiam mais do que mil palavras.

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Os cartunistas eram valorizados, admirados e disputados pelos grandes jornais. Eram contratados com grandes salários e valorizados como grandes jornalistas. Eram as estrelas dos jornais. Ídolos. Como foram Lan, Millôr, Henfil, Jaguar, Ziraldo e os irmãos Caruso, entre outros. Cada jornal tinha o seu cartunista, alguns, até mais de um. Os jornais faziam concursos para descobrir novos talentos.

O cartunista Ary Moraes é desse tempo. Fã da revista ‘Mad’, do jornal ‘O Pasquim’ e inspirado no ídolo Ziraldo, Moraes começou a carreira de desenhista de humor em 1988, no ‘Jornal dos Sports’, publicando cartuns diários – alternando com o também cartunista Amorim – depois de ficar em segundo lugar num concurso de charges esportivas do ‘JS’.

Em 1991, após um teste que durou três meses, ingressou em ‘O Dia’ onde começou ilustrando, entre outras, a coluna do jornalista Cláudio Vieira e publicando charges e ilustrações. Mais tarde, Moraes passou a cobrir o espaço do Jaguar, quando o cartunista não publicava. Ficou no jornal carioca até janeiro de 2002.

“A charge foi o caminho que me levou às redações. É pena que o espaço desse tipo de desenho jornalístico esteja cada vez mais reduzido nos tempos digitais. No meu caso, as novas tarefas que a edição de infográficos trouxe, acabaram tomando muito do meu tempo e espaço. Por conta disso, tive de parar com as atividades de cartunista”- me disse ele.

Como ilustrador e cartunista, Moraes foi premiado no Salão de Humor de Piracicaba, no salão da UFRJ e no Salão Carioca de Humor do Rio de Janeiro, além de ser agraciado com menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo e Direitos Humanos.

No diário, ‘O Dia’, participou de um treinamento em infografia e se tornou chefe do departamento criado para a reforma do jornal. Logo depois, tornou-se o primeiro editor de infografia e ilustração do país.

Ary Moraes foi ainda editor de Infografia e Ilustração dos jornais ‘O Dia’, ‘Estado de Minas’ e ‘Extra’, além de editor de arte do ‘Correio Braziliense’.

Ary Pimenta de Moraes Filho, nasceu no Rio de Janeiro (RJ) em maio de 1966. É formado em Desenho Industrial e Jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Também é doutor em Design pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Pioneiro na produção de infográficos no Brasil e também no ensino e pesquisa nesse campo do design e do jornalismo visual, Moraes participou de diversos processos de reformulação gráfica e editorial de jornais brasileiros, como consultor ou freelancer.

Foi o primeiro brasileiro a receber um Prêmio Malofiej de Infografia, conquistou diversos prêmios de excelência gráfica da Society for News Design (SND), além do Prêmio Infografia da Sociedade Interamericana de Prensa (SIP).

Deu aulas de jornalismo e design UNESA, PUC-Rio e UERJ. Proferiu palestras e ministrou treinamentos em redações e universidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Brasília, Bahia, Pernambuco, Ceará e Goiás. Atualmente, Ary dá aulas de Desenho na UFRJ e é colaborador no jornal ‘Lance!’.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"
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