Fomos, eu e a Sheila, conhecer um pouco da história do desenhista, pintor, ilustrador, caricaturista, fotógrafo e poeta bissexto, Augusto Rodrigues, em Penedo (RJ), cidade que era seu refúgio e onde mantinha um ateliê.
A cidade revela muitas das apaixonadas facetas do artista. A mais famosa delas talvez seja a sua obsessão por mulheres. Muitas delas estão retratadas de várias formas em sua arte pela cidade.
“A mulher talvez seja mesmo uma obsessão, mas eu jamais procuraria um analista porque ele poderia me tirar essa fixação” – disse, certa vez.
Outra de suas paixões era a vida boêmia. Quando não estava trabalhando podia, invariavelmente, ser encontrado nos bares da cidade acompanhado de sua cerveja. Sua arte, algumas criadas nas mesas dos botecos, está espalhada por bares, restaurantes, hotéis e pousadas da cidade.
No Casa Encantada, nosso hotel em Penedo, a recepção e os quartos são decorados com obras magníficas do artista. Sobre nossa cama, um original do pintor: um corpo de mulher nua, de costas.
Em 1933, Augusto Rodrigues realizou sua primeira exposição individual no Recife. Nela, Rodrigues traz para seus trabalhos a liberdade dos traços do ilustrador e caricaturista integrando a pintura ao desenho, evitando o virtuosismo da linha ou das questões cromáticas.
Filho de uma família composta por jornalistas, escritores e artistas. Rodrigues deu os primeiros passos no jornalismo com o tabloide “Alma Infantil”, ao lado do primo Nelson Rodrigues – que se tornaria um dos maiores dramaturgos brasileiros.
Aos 16 anos, participou da criação do I Salão de Arte Moderna de Pernambuco. Seu primeiro trabalho profissional com caricatura foi no jornal “Diário de Pernambuco”.
Em 1935, aos 21 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro e tornou-se colaborador de jornais e revistas como “O Estado de S. Paulo” e “O Cruzeiro”. Participou da fundação e do planejamento dos jornais “Folha Carioca”, “Diretrizes” e “Última Hora”.
Ao lado dos pintores e amigos Guignard e Portinari expôs, na Associação dos Artistas Brasileiros, no Rio de Janeiro.
Pernambucano, chegou ao Rio na década de 40, onde com a colaboração de Lúcia Alencastro, Oswaldo Goeldi, Vera Tormenta, Fernando Pamplona e Humberto Branco, fundou a Escolinha de Arte do Brasil, em 1948.
A escola descobriu e influenciou diversas gerações de artistas plásticos no país. A trajetória de Augusto Rodrigues é repleta de exposições e prêmios no Brasil e no exterior.
“Nosso objetivo não era só formar artistas, mas preparar pessoas sensíveis, e consumidoras de arte” – comentava.
O artista morou por mais de 30 anos no Largo do Boticário, um pequeno paraíso encravado no Cosme Velho. No ateliê-casa, montado no andar térreo de um velho casarão, o pintor ouvia o murmurar das águas do Rio Carioca. Augusto Rodrigues pintava compulsivamente, empilhando telas e mais telas pelo casarão do Cosme Velho e pelo ateliê de Penedo.
Em 1971 editou seu primeiro livro de poesia, “27 Poemas”. O segundo livro, “A fé entre os Desencantos”, foi publicado em 1980. Em 1989, lançou “Largo do Boticário – Em Preto e Branco”, composto por 80 fotografias tiradas no decorrer de vários anos.
O artista plástico, que nasceu no Recife, em 21 de dezembro de 1913, morreu de parada cardíaca, na Santa Casa de Resende, há poucos quilômetros de Penedo, no dia 9 de abril de 1993.
O corpo do “pintor das mulheres” – como o poeta Carlos Drummond de Andrade definiu o amigo – durante o velório, no saguão do Museu Nacional de Belas Artes , no Rio de Janeiro, esteve cercado de estátuas de mulheres nuas.