Ediel Ribeiro: Bolsonaro, o sensitivo

'A notícia de que o presidente Jair Bolsonaro tem poderes sensitivos provocou as mais variadas reações naqueles que se preocupam com essas coisas'

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A notícia de que o presidente Jair Bolsonaro tem poderes sensitivos provocou as mais variadas reações naqueles que se preocupam com essas coisas.

O secretário de comunicação André de Souza Costa empurrou a porta e entrou no gabinete do presidente, esbaforido:

– Presidente! Presidente! 

O presidente:

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– O que é isso, André?  Você não bate mais na porta antes de entrar? Que algazarra é essa? E se eu estivesse tirando um cochilo? 

– Desculpe, presidente! É que eu encontrei este prospecto, no gramado, em frente ao Palácio e quis saber se é verdade o que está escrito nele. Diz aqui: “Pai Bolsonaro. Trago seu emprego de volta em 3 dias. Desvendo casos federais ou estaduais. Sigilo absoluto (favor não ligar de celular comum). Aceito barras de ouro. Desconto para pastores. Ligue Dja!!!

– Gostou?

– Como, gostou!? Isto é ilegal, presidente! O senhor não pode vazar informações privilegiadas e confidenciais da presidência da República.

– Quem é você? É meu pai, agora, porra!?

– Presidente, eu sou o seu Secretário de Comunicação. Minha obrigação  é a coordenação das ações de comunicação governamental para que obedeçam a critérios de sobriedade, transparência, eficiência e racionalidade na aplicação dos recursos, além de supervisionar a adequação das mensagens aos públicos. É minha função aconselhá-lo para que não cometa atos anti-republicanos.

– Não se trata de vazamento de informações, taokey? Foram apenas ‘pressentimentos’, isso daí. E desde quando pressentimento é crime?

– O que significa essa bola de cristal na sua mesa?

– É que agora eu estou mexendo com isso daí de prever o futuro. É que eu estou com um pressentimento de que não vou ser reeleito e estou investindo nesta nova profissão.

– E o que foi aquelas mensagens telefônicas trocadas entre o senhor e o ex-ministro Milton Ribeiro, se referindo à possibilidade de uma operação da Polícia Federal para investigar a atuação do ex-ministro da Educação e de pastores ligados ao presidente de organizar um balcão de negócios no MEC.

– O Milton é o meu primeiro cliente, taokey? Eu tive um ‘pressentimento’ e liguei para ele. Qual o problema nisso daí?

– O senhor tem certeza de que foi só um ‘pressentimento’? É que no mesmo dia da ligação, o senhor esteve com o ministro da Justiça, Anderson Torres. Que como titular da Justiça tem sob a aba do seu ministério a Polícia Federal, responsável pela operação ‘Acesso Pago’, que prendeu e fez busca e apreensão em endereços do ex-ministro e dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.

– Coincidência, isso daí – afirmou o presidente.

– Este papo místico, fez com que a imprensa apontasse indícios de vazamento da operação policial e possível interferência ilícita por parte do senhor nas investigações.

– “Pressentimento” não é prova de nada, taokey? Pressentir é crime?

– Esta não é a primeira vez em que o nome do senhor é atrelado a ingerências em órgãos públicos ligados ao governo. O senhor chegou a ser investigado após o ex-juiz Sérgio Moro acusá-lo de trocar o comando da PF para proteger aliados e familiares.

– Isso daí já é outra ‘cuestão’. 

– Presidente, apareceu uma viatura da Polícia Federal, na porta do Palácio do Planalto, na sua bola de cristal. Estou com um mal pressentimento!

– Desliga esse troço! Como é que desliga isso daí???

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"
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