Ediel Ribeiro: O adeus à Alfredinho do Bip-Bip

Dois anos sem Alfredinho

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“É proibido batucar nas mesas”. Se você é de frequentar botecos, já deve ter dado de cara com esse simpático aviso.

Felizmente, nem todo dono de botequim é ruim da cabeça ou doente do pé. E as rodas de samba tomaram de assalto (calma, leitor, é só força de expressão) os botequins do Rio.

A do Bip-Bip, em Copacabana, comandada pelo Alfredinho, é uma das mais tradicionais e simpáticas da cidade.

O Bip – é assim que todo legítimo habitué chama o boteco – convenhamos, é apertado. Tá bom, apertadão! E quente! Mas, ainda assim ninguém reclama.

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O boteco é tão apertado que pra você mudar de assunto tem que ir lá fora. Quando a casa tá cheia é impossível ficar ao redor dos músicos. A turma se espalha pela calçada.

Só conheci um pé-sujo menor que o Bip: O Bar do Samuca, em Santa Tereza.

Eu costumava frequentar com o Bar do Samuca com Ykenga, cartunista do jornal O Dia. O bar era tão pequeno que só tinha uma mesa. Quem chegava depois, sentava na calçada, encolhendo a bunda por causa do bonde, que passava na porta. Mas isso já é assunto pra outra crônica.

O Bip-Bip – fundado em 13 de dezembro 1968, dia da implantação do AI-5, Ato Institucional que endureceu ainda mais a repressão do regime militar – era um local de resistência artística e cultural.

Reduto de boêmios, jornalistas, artistas e intelectuais; a partir de 1984, virou a casa da MPB, quando Alfredinho assumiu a casa.

É o quarto dono.

Carismático, apesar do senso de humor ácido, Alfredo Jacinto Melo, o popular Alfredinho, transformou o espaço de 18 metros quadrados em atração internacional.

Alfredinho é conhecido tanto pela generosidade como pela ira voltada contra os que quebram a etiqueta do local: no caso os que ousam falar mais alto durante as apresentações ao vivo, ou que gritam pedindo para serem atendidos.

Lá não tem garçons. Os próprios clientes pegam suas cervejas no freezer e cortam o queijo no balcão.

O nome do bar: Bip Bip é uma homenagem ao satélite russo Sputnik, pelo seu barulho. Mas lá, não se faz barulho. “É a casa da música – resume, Alfredinho.

Às segundas e terças, rola uma roda de choro; às quartas, bossa nova; quintas, sextas e domingos o samba come solto. Músicos da nova geração, vez ou outra, dividem o espaço com bambas como Beth Carvalho,
Cristina Buarque, Walter Alfaiate, Moacyr Luz, entre outros.

Mas como tudo o que é bom dura pouco, a roda de samba acaba ás 21h. Ordens do prefeito, acho.

Dá última vez que estive lá, mês passado, para o lançamento do livro “Sons da Palavra” do escritor e amigo Luís Pimentel tive o prazer de rever Alfredinho.

Hoje, em pleno carnaval, Alfredinho faleceu. Deixando todos nós que gostávamos dele e gostamos de música, boemia e carnaval, com cara de quarta-feira de cinzas.

Adeus, amigo.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"
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1 COMENTÁRIO

  1. Depois que o Alfredinho se foi, deixei de frequentar o Bip Bip. Quando passo pela manhã nas minhas caminhadas, ainda sinto a tristeza de ter perdido um grande amigo ou de um parente mais chegado.

    O pé de chinelo mais carioca de todos deveria ser tombado como Patrimônio Cultural.

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