Ediel Ribeiro: O salário dos generais

'Enquanto tá todo mundo discutindo sobre como esticar o salário mínimo até o fim do mês, o governo arranja solução para aumentar o salário do funcionalismo público, em ano de eleição'

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Foto: O Globo

Enquanto tá todo mundo discutindo sobre como esticar o salário mínimo até o fim do mês, o governo arranja solução para aumentar o salário do funcionalismo público, em ano de eleição.

A solução para o aumento dos servidores públicos – o corte no Orçamento em R$ 13,5 bi – foi mais uma pedra no sapato do presidente “Contra a Velha Política do Toma-lá-dá-cá” Bolsonaro.

Os cortes serão na Saúde e Educação e beneficiarão os servidores públicos, inclusive a elite do funcionalismo. Generais bolsonaristas, por exemplo, receberão acima de R$ 60 mil, furando o teto de R$ 39,2 mil, equivalente ao salário de um ministro do STF.

Os generais bolsonaristas Luiz Eduardo Ramos, Walter Braga Netto e Augusto Heleno, passaram a receber respectivamente R$ 66,4 mil, R$ 66,2 mil e R$ 63 mil por mês, depois de uma canetada do presidente Jair Bolsonaro, em maio de 2021.

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Os generais bolsonaristas deverão ainda ser beneficiados pelo aumento linear de 5% para os servidores, assim como toda a elite de funcionários públicos, em detrimento da Saúde, da Educação, da Ciência e da Tecnologia.

Enquanto isso, o novo piso nacional previsto para 2023 propõe o salário mínimo com um valor de R$ 1.294, ou seja, R$ 82 maior do que o atual salário mínimo de R$ 1.212.

Nos últimos dias, os servidores e os assalariados discutiram acirradamente sobre o direito aos reajustes. As negociações foram difíceis e tensas e só agora posso revelar pela primeira vez como o presidente “Fim da Velha Política” Bolsonaro conseguiu fazer com que as duas partes entrassem em acordo.

O presidente “Acabou a Mamata” Bolsonaro chamou a Brasília um assalariado e um general. Foram recebidos no aeroporto por limusines e levados ao Palácio do Planalto, onde foram recebidos pelo presidente em seu gabinete. O assalariado e o general sentaram-se de frente um para o outro, em uma enorme mesa, onde , na cabeceira, estava o presidente.

O presidente “Acabou a Mamata” Bolsonaro disse ao assalariado que se aumentasse o salário mínimo em mais 1 real isso custaria as despesas com Benefícios da Previdência, Abono e Seguro Desemprego um aumento de mais de R$ 300 milhões ao Tesouro Nacional e quebraria o governo.

O presidente Jair Bolsonaro será o primeiro presidente da República, desde o Plano Real, a concluir o mandato com o menor poder de compra que um salário mínimo poderá alcançar; e isso tem prejudicado o relacionamento do governo com os assalariados, que pareciam se dar bem um com o outro.

Bolsonaro só chamou os assalariados que foram às ruas protestar pelo aumento salarial de “ganaciosos”, porque achou que eles queriam o aumento para viajarem para a Disney, como nos tempos do Lula.

– Como ficariam nossos aeroportos, cheios de pobres? – indagou o presidente.

De repente, o aposentado diz ao presidente:

– Nós só queremos comprar um quilo de carne. Ninguém aguenta mais comer osso!

O general pergunta:

– E quanto a nossa picanha, o leite moça e a cervejinha?

O assalariado, constrangido:

– Nós só queremos comer…

– O senhor não tem vergonha de vir pedir aumento salarial acima dos 82 reais que o governo já concedeu, enquanto nós, generais, ralamos pintando quilômetros de meio-fio pelos nossos míseros 60 mil?

O assalariado, como se não acreditasse no que ouviu:

– R$ 82 não compra nem um botijão de gás! O gás já chegou a R$ 120.

– Para que o gás se não tem o que cozinhar? – interveio o presidente.

O assalariado , resignado:

– Não dá para comer osso sem cozinhar.

– Pobre tem que parar com essa mania de comer todo dia – disse o general.

– Enquanto nós passamos fome, as Forças Armadas compram leite condensado, picanha e cerveja com o dinheiro público.

O general, furioso:

– Vocês queriam o que? Que nós gastássemos todo o dinheiro só com Viagra e lubrificante?

– Nós só queremos um salário digno…

– Vamos combinar assim – disse o presidente – se eu for reeleito, eu prometo aumentar o salário mínimo para R$ 3 mil, taokey?

Enquanto o assalariado fazia cara de resignação, o general e o presidente caíram na gargalhada.

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"
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1 COMENTÁRIO

  1. Tirando os exageros é claro, concordo em grande parte com o texto, mas vocês da imprensa e infelizmente o público em geral, talvez por desconhecimento, tem o hábito de malhar o chamado funcionalismo público.
    Em primeiro lugar, existem inúmeras modalidades de funcionários “públicos”, federais, estaduais, municipais e de economia mista, que apesar de concursados são regidos pela CLT (eu diria, a maioria), outros tantos contratados.
    O aumento dos soldos dos militares (por motivos óbvios, políticos), não representa de forma alguma algo em cascata, nós funcionários públicos em empresas de economia mista, em geral, não temos aumentos a anos (simplesmente para se corrigir a inflação, de acordo com os índices oficiais), e nos últimos 3 anos foi zero, a margem do que fizeram com todos nós trabalhadores, onde aumentaram tudo e querem vendem as empresas públicas, para se pagar as contas.
    Não vou nem fomentar, as sempre ridículas declarações de nosso presidente, mas também diria que em sua grande maioria os funcionários públicos, incluindo-se os militares, são extremamente preparados e capacitados.

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