Ediel Ribeiro: Os ditadores e a cultura

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Arte: Nani

As primeiras vítimas dos governos autoritários e dos ditadores, são sempre a cultura e a imprensa.

Esta postura, na realidade, sempre foi uma constante ao longo da história. Desde a Grécia antiga, os ditadores mais cínicos sempre combateram os intelectuais, as faculdades e a cultura em geral.

Desde Sócrates, filósofo criador da filosofia ocidental, que por causa do incentivo ao raciocínio foi acusado de corromper os jovens. Perseguido pelas autoridades de Atenas, foi julgado, e condenado a suicidar-se, ingerindo cicuta.

Passando por Platão, filósofo criador da primeira universidade, chamada de Academia; que por suas ideias políticas, foi perseguido e feito escravo, sendo como tal, vendido no mercado da ilha de Egina.

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Até Aristóteles, filósofo que fundou a sua própria escola e deu o nome de Lyceum, mas, que por perseguição política, foi obrigado a deixar Atenas e sua escola. Todos sofreram perseguições dos ditadores que viam com receio e desconfiança tudo o que envolvia cultura e arte.
Essa prática não se limitou a Grécia Antiga.

Na Alemanha de Hitler, 1933 foi o ano que marcou o auge da perseguição dos nazistas aos intelectuais, principalmente aos escritores. Em toda a Alemanha, principalmente nas cidades universitárias, montanhas de livros foram queimados no auge de uma campanha iniciada pelo mestre da propaganda Joseph Goebbels. O regime justificou a queima, logo depois da ascensão do nazismo ao poder, com a “necessidade de purificação radical da literatura alemã de elementos estranhos que possam alienar a cultura alemã. Stefan Zweig, Thomas Mann, Sigmund Freud, Erich Kästner, Erich Maria Remarque e Ricarda Huch, foram algumas figuras literárias alemãs perseguidas na época.

Na Argentina, do general Jorge Rafael Videla, “listas negras” foram elaboradas pelas autoridades da ditadura militar com nomes de pessoas consideradas “subversivas” pelo regime. As listas continham nomes de artistas da música, teatro, cinema, literatura, e intelectuais. Entre os nomes estavam o do escritor Julio Cortazar, o da cantora Mercedes Sosa, e o dos escritores Ernesto Sábato e Jorge Luis Borges, entre outros.

No Chile, do ditador Pinochet, a situação não foi diferente. O governo de Pinochet usou de todos os meios disponíveis para impedir a veiculação e expressão de quem atacasse o governo. Foram silenciadas muitas rádios, bem como os jornais “El Clarín”, “El Siglo” e “Puro Chile”. Entre os incluídos na chamada “lista negra”, estavam artistas e personalidades como Vitor Jará e Violeta Parra (cantores), Pablo Neruda (poeta), Isabel Allende (escritora), Luís Sepúlveda (romancista), Roberto Bolaño (escritor) e Alejandro Zambra (poeta), entre outros.

No Brasil, Bolsonaro, homem alheio à cultura, caracterizado por uma marcada intolerância e desprezo para com as prestigiadas universidades pública, consideradas pelo seu governo como berços da subversão e do comunismo, achou politicamente conveniente promover o maior desmonte das universidades públicas, dos institutos federais, dos ícones da cultura – como Paulo Freire – e das leis que protegem a cultura como um todo.

A cultura é um pilar da democracia. O papel da intelectualidade sempre foi – e sempre será – em todo o mundo, o de alertar as classes sociais, dos perigos dos regimes não democráticos e de denunciá-los quando estes tentam reviver antigas práticas das ditaduras.

É preciso enfrentar os ataques à educação pública, defender a autonomia universitária e a pluralidade de ideias.

Ou voltaremos aos calabouços da idade média.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"
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