Ediel Ribeiro: Por onde anda Márcia Z?

Só depois descobri que se tratava de uma mulher. A desenhista misteriosa era Marcia ‘Z’ Braga, sobrinha do escritor Rubem Braga

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Em algum momento dos anos 80, pulando de frila em frila, me deparei, numa redação de um jornal qualquer, com um calhamaço de papéis com desenhos de um tal ‘Z’. Cópias.

Fique intrigado e deslumbrado com aquele desenhista de traço implacável, agressivo e vigoroso e com aquela assinatura – um ‘Z’ riscado com raiva e rasgado, ao estilo ‘Zorro’.

Só depois descobri que se tratava de uma mulher. A desenhista misteriosa era Marcia ‘Z’ Braga, sobrinha do escritor Rubem Braga.

Suas caricaturas eram arrasadoras.

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Marcia Braga, a Marcia Z, desenha desde a adolescência. O tio Rubem a apresentou a Tarso de Castro e, durante anos, ‘Z’ fez caricaturas para ‘O Nacional’.

A cartunista teve uma rápida passagem como repórter da TV Globo, e uma experiência profissional na imprensa baiana, em Salvador, antes de decidir abandonar definitivamente o jornalismo escrito para se dedicar ao desenho.

Colaborou ainda com a revista ‘Mad’ e com os jornais ‘Estado de São Paulo’, ‘Pasquim’ e ‘Cartoon” entre outros.

Artista premiada, em 1985 ganhou os prêmios de caricatura no Salão de Humor de Volta Redonda; caricatura no Salão de Humor de Piracicaba, com uma caricatura do ex-presidente Jânio Quadros; caricatura no Salão de
Humor do Piauí, com a caricatura de Risoleta Neves e do Salão de Humor de Franca, com a caricatura de Roberto Gusmão.

Em 1986 organiza uma exposição de desenhos em Salvador, BA, e recebe o prêmio de imprensa no Salão de Humor do Piauí, com caricatura de Ibrahim Abi-Ackel.

Todo cartunista tem histórias com Marcia Z, mas ninguém sabe o paradeiro dela, depois que deixou o desenho de humor.

Uma das histórias que ouvi, do jornalista Kenard Kruel, um dos criadores do Salão de Humor do Piauí:

“A conheci por meio do Ota Assunção, no Rio de Janeiro. Fiz convite para que ela viesse participar do Salão de Humor do Piauí. Veio.

Bebeu água do Rio Parnaíba e gostou. Lembro dela navegando pelo Rio Parnaíba, com dezenas de outros cartunistas. Era linda de fazer inveja a qualquer sereia.

Um dia perguntei ao Ota por ela. Ele disse que ela havia largado o humor. Estava noutra”.

Outra história. Contada pelo cartunista Nei Lima:

“Encontrei Marcia Z em uma exposição do Salão Carioca de Humor. Ela estava sendo assediada por um fã. Afastei o importunador e ficamos amigos.

Cheguei a desenhar uma historinha em quadrinhos retratando o nosso encontro inusitado. Os desenhos originais foram presenteados a ela, que os recebeu com muito carinho e com a atenção que ela sempre dispensava aos amigos.

Excelente cartunista. Rara especialista nesta área onde os homens é que predominam na profissão.

Disseram que ela foi morar algum tempo na Espanha e que já voltou ao Brasil, mas que agora se dedica a outros projetos que não são do mundo do cartum. Enfim, deixou saudades”.

O cartunista Luiz Trimano, que com seu trabalho com caricatura influenciou uma geração de brasileiros, entre eles Cássio Loredano, Lula, Paulo Cavalcante, Glauco Cruz, e a própria Marcia Z, disse:

“Marcia “Z” Braga, não terá que mastigar os seus desenhos até virarem picadinho e jogar na cara do editor, como fez Loredano, em 1976, nem terá que se dedicar a outra profissão, pois qualidade do seu trabalho está aí para testemunhar permanência.

Quando entrevistei Marcia Z, para o meu blog, suas palavras finais foram: ‘Tem que dar certo. Se não der certo, não vou ser nem contorcionista nem cantora lírica. É provável que empunhe uma tesoura e seja encontrada num cabeleireiro de luxo, cegando a minha lâmina nos cabelos de peruas e mocréias’.”

Talvez esteja. Não sei.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"
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