Ediel Ribeiro: pra não dizer que não falei de Jésus Rocha

Jésus Rocha, mesmo fora da grande imprensa, ainda é um grande cartunista; embora nunca tenha aprendido a desenhar direito

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Já tinha escrito aqui, n´O Folha de Minas, sobre quatro dos cinco criadores do jornal de humor “O Pingente” – tablóide que teve vida curta, porém marcante na imprensa alternativa brasileira.

Escrevi sobre Nani, Guidacci, Duayer e Coentro. Só não escrevi sobre Jésus Rocha porque, depois que “O Pingente” fechou, ninguém mais soube dele.

Na literatura tem várias histórias de escritores que abriram mão da vida pública para se isolar e escrever seus livros – e no caso de Harper Lee, o isolamento foi tamanho que ela abandonou até a literatura.

A lista é grande, inclui ainda Marcel Proust, J.D. Salinger, Thomas Pynchon, Cormac McCarthy e os brasileiros Dalton Trevisan, Raduan Nassar e Rubem Fonseca.

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Entre os cartunistas, no entanto, são poucos os que, de repente, no auge da carreira, resolveram abandonar tudo e sumir do mapa.

Foi mais ou menos isso o que aconteceu com Márcia ‘Z’ e Jésus Rocha.

Jésus Rocha, embora não tenha deixado totalmente de desenhar, como a ‘Z’ – o artista ainda publica alguns cartuns em sua página no Facebook -, até hoje muita gente não consegue compreender o que o levou a se isolar em São Gonçalo do Rio Preto, um pequeno município do Estado de Minas Gerais, de pouco mais de 3 mil habitantes. O cartunista raramente aparece, da entrevistas ou fala sobre o assunto.

Segundo Marcelo Andrade, autor do “Dicionário Completo das Meias Verdades” (Editora Autografia – Rio de Janeiro – 2020) Jésus Rocha é brasileiro, filho de bons baianos, natural de São Paulo, japonês por afinidade, casado graças a Deus, pai orgulhoso, jornalista e cartunista.”

Jésus Rocha, porém, é mais do que jornalista e cartunista. É chargista, compositor, autor de jingles, poeta, escritor, redator e frasista dos bons.

O filho de Dona Zeca e pai do Diego, foi, junto com Jô Soares, Redi, Luís Fernando Veríssimo, Caulos, Hilton Marques, Brandão, J. Rui, Sèrgio Rabello, Alfredo Camargo, Marcos César e Expedito Fagioni, redator de “O Planeta dos Homens” – programa de TV de esquetes curtos, com duração média de cinco minutos que mostrava quadros de humor baseados em sátira de costumes, crítica social e paródia a programas de rádio e televisão.

Além de redator da Rede Globo, trabalhou no “O Pasquim” e junto com Nani, Guidacci, Duayer e Coentro criou o jornal “O Pingente”, um semanário lançado em 6 de junho de 1977, que publicou cartunistas de todo o Brasil, entre eles Reinaldo, Demo e Nilson. Além de desenhar cartuns e charges, Jésus era, junto com Carlos Eduardo Novaes e Alexandre Machado, redator dos textos de humor do tablóide.

Frasista de mão cheia Jésus criou pérolas como:
“Na ditadura, quando estranhos se aproximavam e não pediam meus documentos, eu relaxava: era só um assalto.”
“Todos os políticos honestos têm uma coisa em comum: nunca foram investigados.”
“A lentidão da justiça tem uma vantagem: atrasa as injustiças.”
“Morri tantas vezes que, hoje, quando não morro, parece que vou morrer.”

Jésus Rocha, mesmo fora da grande imprensa, ainda é um grande cartunista; embora nunca tenha aprendido a desenhar direito.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"
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