Ediel Ribeiro: Que se Phoda o Iphan

Colunista do DIÁRIO DO RIO aborda a polêmica envolvendo a fala do presidente Jair Bolsonaro sobre o Iphan

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Foto: Anderson Riedel

Nesta quarta-feira, o presidente Jair Bolsonaro (PL) estava tranquilão, assistindo a segunda temporada da série “A Noiva de Aristides”, na TV Record, quando o telefone vermelho tocou.

– Jair, sou eu o Luciano Hang!

– Fala, Hang! O que é que você manda, véio?

– Bem, é que eu estou construindo mais uma loja no Rio Grande do Sul, e…

– Já sei, tá precisando de um incentivo. Passa lá no no BNDES e diz pro presidente que…

– Não. Não é nada disso, presidente. É que durante as escavações, a empresa responsável pela obra comunicou ao Iphan ter identificado cerâmicas e vestígios arqueológicos de civilizações passadas no local da obra. E o Iphan interditou a obra.

Iphan!??

– É. Iphan com PH.

– Que trem é esse daí? Que pôrra é o Iphan? Vou precisar ligar para o Ministério do Meio-Ambiente porque, você sabe, eu não sou tão inteligente como meus ministros.

– É, dá pra perceber – sussurou entre os dentes, o dono da Havan.
O secretário de comunicação, sussurrou no ouvido do presidente:

– Presidente, o Iphan não é ligado ao Ministério do Meio-Ambiente. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Iphan, é uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Turismo, responsável pela preservação e divulgação do patrimônio material e imaterial do país.

– Hang, já me informaram aqui que no tocante esse tal de Iphan, parece que é ligado a cultura. Deve ter sido criado pelo PT, para empregar comunistas e infiltrar militantes da extrema esquerda nas autarquias visando à derrubada do governo. Pode deixar que eu vou resolver essa ‘cuestão’ daí pra você.
O secretário tornou a interromper:

– Presidente, o Iphan não foi criado no governo do ex-presidente Lula. Foi criado em 1937 pelo presidente Getúlio Vargas e tem a função de defender e favorecer os bens culturais do país proporcionando sua existência e usufruto para as gerações presentes e também futuras. Buscando a preservação dos tesouros da cultura nacional.

– Hang o que eles encontraram durante as escavações? Um pedaço de cocô de índio fossilizado, um pedaço de azulejo, um prato?

Fragmentos de pratos.
O presidente quase arrancou os cabelos:

– Tão fazendo essa ‘cuestão’ toda daí por causa de um pedaço de prato? Vou acabar com essa marra da esquerda!

– Obrigado, presidente!! “Brasil Acima de Tudo e a gente Em cima de Todos”!!!

– Pronto,‘ripei’ todo mundo do Iphan, taokey? Botei outra pessoa lá, o Iphan não dá mais dor de cabeça pra gente” – completou Bolsonaro.

– Colocou um técnico no cargo? – quis saber o secretário. Sim, porque não é de hoje que nomeações políticas que vem negligenciando aspectos técnico-científicos para cargos estratégicos, têm sido comuns nas ocupações dos cargos no Iphan. O senhor tá vendo como está a cultura, com aquele ator da ‘Malhação’ no comando…

– É praticamente uma técnica! A moça é formada em hotelaria.

– É. É quase a mesma coisa – ironizou o secretário.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"

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