Emanuel Alencar: Plásticos atravessam o samba na Sapucaí

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre a grande presença de recipientes de plástico nos desfiles da escolas de samba do Rio de Janeiro

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Sambódromo da Marquês de Sapucaí - 04/03/2025 Foto: Fernando Maia | Riotur

Já não é novidade em grandes festivais mundo afora, e o próprio Rock in Rio anunciou, no ano passado, a novidade para derrubar o descartes do milhares de copinhos plásticos. Funciona assim: cada bebida é servida em um copo específico e, ao retornar com o copo do mesmo produto para a segunda compra, os consumidores receberão desconto. Parece algo trivial, mas na maior festa do Rio, o Carnaval da Marquês de Sapucaí, essa realidade ainda parece distante. Cervejas, refrigerantes, água, tudo é serviço em copinhos oriundos de petróleo – e nem adianta reclamar. Ao término dos dias de desfiles, as arquibancadas, é claro, ficam abarrotadas de plásticos. De todos os tipos. Com reciclagem improvável, acabam indo parar num aterro sanitário.

Longe de querer aqui demonizar o plástico – lembremos que durante a pandemia de coronavírus, cateteres, maquinários diversos feitos desses polímeros salvaram vidas -, convido você a uma reflexão sobre o grande problema em questão: o uso único desses produtos. Que sentido faz usarmos uma única vez essas macromoléculas orgânicas, e as descartarmos no ambiente? É custoso, ruim para a biodiversidade, ruim para o planeta. Explico: para se fazer um copinho o plástico precisa ser derretido, colocado em uma forma e resfriado. Esse processo exige bastante água. A maior parte dela é reutilizada. Mas, pelo menos, meio litro vai-se embora.

E tem mais: o plástico em decomposição libera metano, um gás de efeito estufa 25 vezes mais nocivo do que o CO2. Pesquisa da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) mostra que o plástico é responsável por 70% dos resíduos encontrados nos mares brasileiros. Em décadas, haverá mais lixo plástico do que peixes no Oceano.

Países têm se mobilizado para combater esse consumo desenfreado de plásticos. Chile foi o primeiro país da América Latina a banir sacolas de polímeros em 2018 e, em 2021, estendeu a proibição para plásticos de uso único. O México tem seguido o exemplo com várias cidades adotando proibições similares, inclusive em sua capital, onde a infração à lei contra sacolas prevê prisão.

Fica o questionamento para a Liga das Escolas de Samba (Liesa): por que não cobrar das empresas parceiras, que tanto faturam com os supercamarotes, medidas efetivas de incentivo aos copos retornáveis? O plástico atravessou o samba na Sapucaí. Pode ser consumido com mais racionalidade.

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1 COMENTÁRIO

  1. O raciocínio vale também para a vida diária, não só para os dias de desfiles ou outros mega eventos. É no dia a dia que a cidade (e o mundo) vai se atolando em lixo.

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