Emanuel Alencar: Restinga some, aeroporto avança

O Aeroporto de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, conseguiu autorização junto ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea) para suprimir 22 hectares de vegetação de restinga na cabeceira de sua pista

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Foto: Gustavo Pedro

Jornalistas gostam de fazer associações para tornar mais visíveis, palpáveis, alguns números que expressam contundentes modificações em determinado território. Recorro a essa estratégia agora, com a licença de vocês, para abrir a coluna de hoje. O Aeroporto de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, conseguiu autorização junto ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea) para suprimir 22 hectares de vegetação de restinga na cabeceira de sua pista – isso equivale a 22 campos de futebol oficiais. O mais grave é que a concessionária responsável pelo terminal, a PAX Aeroportos, esconde o jogo. Questionada por conselheiros do vizinho Parque Municipal Bosque da Barra, informou apenas que o objetivo é expandir algumas benfeitorias, como contêineres de suporte. Conselheiros do parque foram impedidos de inspecionar a área afetada.

Recentemente, este DIÁRIO DO RIO publicou reportagem sobre os objetivos expansionistas do aeroporto com pista de 900 metros – novos voos da Azul foram anunciados em maio de 2024. Para além do óbvio contrassenso que representa um aumento das operações do pequeno aeródromo – cercado por prédios e por vias totalmente esgotadas, entupidas de veículos -, face à necessidade de se concentrar as operações no Aeroporto Tom Jobim/Galeão ou no Santos Dumont, nada pode ser menos sustentável do que admitir o corte de um tipo de vegetação fundamental para a Zona Oeste não sucumbir de vez ao calor e às enchentes. Restingas, com seus arbustos e pequeninas árvores, não são menos importantes do que o frondoso verde das florestas atlânticas de terra firme.

Ainda que exija plantios compensatórios em 10 hectares, a autorização do Inea é um “liberou geral” descuidado e que impressiona por atropelar os ritos de licença da Prefeitura. É estarrecedor o fato de boa parte do território a ser desmatado fazer parte de um projeto do próprio governo municipal de ampliação do Bosque da Barra – os estudos remontam a 2016. Na cidade que se prepara para receber o maior espetáculo do planeta, o seu Carnaval poderoso, não se aplicam estudos de impacto de vizinhança. “A área tem especiais atributos ambientais, e sequer tivemos acesso a estudos que apontem a biodiversidade presente ao lado do aeroporto”, critica Manoel Antônio Costa Filho, coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas em Energias Renováveis (Ceper) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e membro do conselho do Bosque da Barra.

Cada hectare de vegetação derrubado é um golpe num modelo de cidade menos predatório à biodiversidade. A Lagoa de Jacarepaguá, colada ao aeroporto, tem sido alvo de ataques recorrentes em suas áreas de preservação permanentes (APPs). Não resistirá se essa toada destrutiva seguir sem pressões contrárias. O Rio tem na natureza o seu DNA mundial. Caminha a passos largos para desfazer essa imagem. Alerta ligado.

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1 COMENTÁRIO

  1. Maricá tá indo pro mesmo buraco, onde morava era cercado de bosques mas agora tá tudo descampado para construção de casas sem nenhum planejamento de área verde. Não tem quintais sufientew e os que tem não plantam nada para não dar trabalho e as calçadas são pequenas e não recebem vegetação. Desde o vilipêndio da natureza diversas aves e insetos que visitavam meu comedouro sumiram e o calor ficou insuportável num dia de sol pleno

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