Engenheiros florestais do Rio tentam salvar árvore em extinção que é símbolo do período imperial

Apelidada de ''árvore do imperador'', espécie tem apenas um exemplar catalogado na cidade, no Campo de Santana

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''Árvore do imperador'', no Campo de Santana, Centro do Rio - Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

O Campo de Santana, na região central do Rio de Janeiro, guarda o único exemplar centenário catalogado da chamada ”árvore do imperador” (Chrysophyllum imperiale) – referência a Dom Pedro I e o filho, Dom Pedro II, grandes admiradores dela – em território carioca.

A espécie é considerada ameaçada de extinção e, para tentar preservá-la, dois especialistas locais se uniram em prol da causa. Vale ressaltar que a árvore foi plantada em 1871 pelo paisagista francês Auguste François Glaziou, que era responsável pelos projetos urbanísticos da Família Real no Brasil.

No último mês de março, o engenheiro florestal Sydney Brasil, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), foi convidado a escalar a árvore, que tem mais de 12 metros de altura, e realizar um cabeamento. Trata-se de uma espécie de sustentação das rachaduras com cabos de aço, que visa evitar o aumento de danificação.

Vale ressaltar que, em 2019, o próprio Sidney já havia identificado o problema, à época a convite do colega de profissão Flávio Telles, que atuava na Fundação Parques e Jardins (FPJ), vinculada à Prefeitura do Rio.

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”Como a árvore é de interesse histórico, muito rara e ameaçada de extinção, ele me pediu para escalar e dar uma olhada para ver se havia alguma frutificação. Não havia frutificação, mas aproveitei para fazer uma avaliação da copa e encontrei duas cavidades na madeira, o que enfraquece os galhos e, eventualmente, pode levar à morte da árvore”, explica Brasil.

Origem e simbologia

A ”árvore do imperador”, que também é conhecida como guapeba imperial e marmeleiro-do-mato, foi originalmente descrita pelo naturalista alemão Friedrich Von Martius (1794-1868). Ele chegou ao Brasil em 1817 na comitiva que trouxe a arquiduquesa austríaca Leopoldina, então futura esposa de Dom Pedro I.

A planta acabou se tornando símbolo da exuberante vegetação dos trópicos e também do próprio Rio de Janeiro, uma vez que é originária da mata atlântica local.

Glaziou e a admiração imperial pela árvore

Voltando a Auguste François Glaziou, o francês chegou ao Rio em 1858 com a missão de comandar a diretoria de Parques e Jardins da Família Real. Ele foi o responsável por diversos projetos, entre eles o do Passeio Público, Palácio do Catete e Quinta da Boa Vista, além, é claro, do próprio Campo de Santana.

Sabendo da admiração da Corte Portuguesa pela guapeba imperial, Glaziou fez questão de plantar ao menos um exemplar da espécie em cada jardim que projetou. Isso porque tanto Pedro I quanto Pedro II apreciavam bastante o fruto da árvore, que, segundo consta, é similar ao abiu, da família do sapoti, isto é, com casa amarelada e polpa translúcida bastante adocicada.

Diante da admiração pela árvore, Dom Pedro II acabou se tornando uma espécie de ”embaixador” da mesma, enviando mudas para diversos países. Atualmente, ela está oficialmente presente em cidades como Bruxelas (Bélgica), Buenos Aires (Argentina), Florença (Itália), Lisboa (Portugal) e Sidney (Austrália).

Desaparecimento

O desaparecimento no Brasil e, mais precisamente, no Rio, se deve, além da gradual destruição da mata atlântica, ao aumento desordenado da capital fluminense. Há uma teoria, que não é comprovada, que, após a Proclamação da República – ocorrida no Campo de Santana, diga-se de passagem -, muitas das referidas árvores teriam sido derrubadas. A justificativa é que elas eram justamente um símbolo imperial e, por isso, precisavam ”acabar”.

”Eu pesquiso a história da arborização do Rio e não encontrei nenhuma fonte histórica afirmando isso, embora seja a história que se conta. Com a reabertura do Arquivo Nacional e do Arquivo da Cidade, terei a chance de retomar a minha pesquisa”, conclui Telles.

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