Episódio final da série ‘A vida em quarentena como ela é’

A família Weiss perdeu temporariamente a alegria e o brilho que tinham

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Imagem meramente ilustrativa - Foto: Reprodução/Internet

A família Weiss perdeu temporariamente a alegria e o brilho que tinham.

Jaime, o patriarca, segue internado com Covid.

A esposa se recupera em casa na companhia de Fábio, seu filho mais velho, que resolveu passar uns dias com ela para dar-lhe o devido suporte, mesmo que distanciado e de máscara o tempo inteiro. Marcelo, irmão de Fábio, foi o primeiro a testar positivo para o coronavírus, mas já se livrou dele, testando negativo depois de duas semanas.

Você deve se perguntar por que então o Marcelo, já imunizado, não cuida de sua mãe, Clarice? 

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Pois é, Fábio e Marcelo brigaram. Fábio não o perdoa por ter sido irresponsável e visitado os pais sem estar cumprindo o devido isolamento. Os dois brigaram feio e Marcelo se afastou, já que Fábio diz que ele não tem condições nem maturidade para cuidar dos pais. 

Basta um clima péssimo entre irmãos, uma mãe com o vírus e um pai no CTI com complicações pelo Covid, para entender o porquê de uma família estar vivendo momentos difíceis. 

No caso de Fábio, há um agravante: ele deixou sua mulher Joana  e seus amados filhos em casa num clima de tristeza e decepção, já que Joana, sua mulher, flagrou-o trocando mensagens com uma mulher que conheceu no trabalho.

Mensagens picantes que incluíam fotos sensuais da moça em lingerie.

Joana tomou um baita susto, pois também estava de lingerie quando entrou no escritório de Fábio e resolveu abraçá-lo pelas costas para fazer-lhe uma surpresa sensual. Foi um pesadelo para Joana.

A família que eles estavam  construindo tem um quê de margarina e esse tipo de susto não cabe no script de famílias assim.

Segunda-feira amanhece no apartamento do Fábio e da Joana. Mas sem o Fábio.

Joana acorda diferente. Pesada, estranha, magoada.

Levanta pra preparar o café antes de as crianças pularem da cama. 

Hoje é um dia curiosamente diferente e especial para Joana.

Quem acompanha esta história sabe que Joana resolveu interagir virtualmente com alguém e , para tanto, criou uma conta num aplicativo de paquera.

Encontrou um cara que estudou na mesma escola que ela.

Os dois se falam há menos de uma semana (quando tudo aconteceu) e hoje ligarão o vídeo pela primeira vez.

Se Joana se sente mal? Muito. Se se sente culpada? A terapia tem ajudado a se libertar de tal sentimento inútil.

Todos nós somos mais de um quase que o tempo todo de nossa existência. Hoje Joana é pelo menos duas: a que queria que nada disso tivesse acontecido, pois ama Fábio, filhos e a vida que construiu, e a que quer viver essa novidade com um cara separado que a acha linda desde os tempos de colégio. 

Em outras palavras, autoestima e desejo também são fonte legítima de felicidade.

O dia começou a mil. 

Crianças de pé.

Camas a fazer.

Café da manhã pros dois.

Aulas online.

Dever de casa.

Reunião.

Planilha.

Call.

Cabelo.

Roupa.

Pele.

“Será que vai dar tempo?”

Joana jamais faria sua primeira aparição em vídeo sem estar se sentindo  maravilhosa. 

No meio do dia toca o telefone.

-Oi, Jô. Tudo bem? E aí, já arrumou um namoradinho na internet pra ficar quite comigo?

– Jura que você ligou pra isso, Fábio? Imaginei que quisesse saber de seus filhos.

– E quero. Desculpa. Eles dormiram bem?

– Sim.

– Imagino que você ainda queira bem aos meus pais…

– Fábio, eu estou sentida, decepcionada, mas nunca deixei de querer o melhor pra você e pros seus…

– Papai tá tirando os tubos e com bom prognóstico, deve sair da UTI e mamãe já está sem febre. Na sexta ou sábado faremos novo teste nela. Aproveito e faço outro também.

– Que notícia boa, Fábio! Manda um beijo pra Clarice. Diga a ela que teremos final feliz! Aproveite a alegria e chame a Luiza pra comemorar. Manda ela vestir lingerie nova!!

– Jô, não tô nem falando com ela. Uma brincadeira boba virou um pesadelo. Azedou.

– Que pena! Pois eu ainda nao me diverti e pretendo brincar no mesmo grau de bobeira que você.

– OK, Joana. Estou me esforçando muito para aceitar que você tem suas razões e que não posso te demonizar por isso.

-Não pode mesmo. Ambos queremos um mundo mais igual pra nossa filha Olga, certo? Pelo menos era assim que pensava e foi uma das coisas que me encantou em você: o seu baixo nível de  achismo. 

Fábio, vou trabalhar. Tem um link aberto me esperando aqui. Estou feliz por vocês. E por mim. E pelas crianças. Me dê notícias de seu pai.

-Posso falar com as crianças?

-Peraí, vou chamar.

-Amo você, Jô. Amo vocês.

-Beijo, Fábio.

Joana começou o turbilhão que eram os seus dias em casa: aulas online, comida das crianças, banho, dever de casa, reunião, prazo, meta. 

Comeu qualquer coisa do dia anterior e foi tomar banho: queria secar o cabelo hoje. Sim, ela ia estar com o Marcos em vídeo e seu plano era causar boa impressão. 

A próxima reunião era às 3 da tarde e Joana aproveitou o intervalo pra cuidar de si.

Passou óleo de argan, algo que ela sempre fez para cuidar dos cabelos, secou e ainda arrematou com uma chapinha. Seus cabelos ficaram lindos.

Passou um creme no rosto, no corpo e, rapidamente, se preparou pra reunião.

O dia de trabalho chegava ao fim. 

Crianças jantadas e vendo televisão.

Fábio havia dado notícias novas: sua mãe Clarice continuava bem e seu pai estava bem, sem os tubos. Em breve iria pra casa, já que estava pra testar novamente pra covid. Negativado em novo exame, sairia do hospital. Ufa!

Joana resolveu pedir comida no aplicativo – comida asiática.

Abriu um vinho e a primeira taça se foi enquanto ela se arrumava e se maquiava.

Fazia tempo que Joana não se arrumava assim. Não falo de vestimenta ou brilhos – falo de animação e nervoso. Nervoso bom.

Joana pensou em ligar pra sua amiga Márcia, mas desistiu:

“Quero fazer isso sem falar com ninguém. Sei que erro e não quero julgamentos. Preciso fazer isso.” – fala Joana consigo mesma. 

Camiseta de seda preta. Pérolas. Batom claro. Delineador. Mais vinho.

– Tá ai?

– Oi, Marcos. Tô sim.

– Tá de pé? Vamos falar?

– Sim, tá de pé. Vc chama no whatsapp?

– Pensei em irmos pro zoom. Queria te mostrar umas fotos …

– Fotos?

– Sim, mas não se preocupe… haha. Foto de escola… foto da minha filha…

– Ah sim…

– Você tá muito assustada. Relaxa. Você deve fazer reuniões com vídeo o dia inteiro. É só mais uma. Só que com um cara que quer te beijar…

Joana entrou no link que Marcos mandou. 

Ele tava lá – de camiseta branca, cabelos grandes e desalinhados, cor de jambo. Abriu um sorrisão quando Joana apareceu na sua tela:

– Nossa, a mesma carinha da escola. 

– Não minta. Os anos já começaram a pesar…

– Joana, você é uma mulher linda… Me fala de você. Você me disse que tinha um história longa pra contar sobre essa crise no seu casamento.

– Nossa….longa e esquisita. Marcos, vivia uma vida tranquila: pandemia chata, dia a dia desgastante por conta das crianças em casa e do acúmulo de tarefas de ambos, mas parecia tudo bem como sempre. Confesso que não parei pra pensar se ambos estávamos felizes como casal ou se estávamos somente tocando a vida.

– Esse é o problema do casamento, Joana. A gente acostuma e deixa de cuidar. O cuidado com a gente e com a relação são fundamentais. Às vezes, muitas vezes por sinal, o desgaste e um eventual fim, não acontecem por falta de amor. Mas acontecem, né?

–  Mas não havia sinal de grande desgaste. Podíamos estar namorando menos, em casa sem sair, com as crianças o tempo inteiro por perto, mas tínhamos nossos momentos.

– Então o que houve?

– Ah, um dia de briguinhas e desgaste acabou e eu resolvi dar uma atenção maior a nós. Quando as crianças dormiram eu fui ate o escritorio dele de surpresa e quando o abracei pelas costas na cadeira, vi que ele estava no whatsapp recebendo fotos sensuais de uma mulher. Foi uma pancada.

– Putz, chato mesmo. Mas ele se explicou? É caso extraconjugal mesmo? Ou bagunça virtual de pandemia?

– Cara, pra mim não faz diferença…

– Desculpa, Joana. Não quis fazer deboche. Mas eu acho que são coisas diferentes…

– A falta de respeito e a insatisfação é a mesma.

– Joana, eu poderia malhar o Judas aqui pra te conquistar. Você sabe que desde que te vi no aplicativo, quero muito te ver. Sair com você. Te beijar. Mas sou um cara honesto. Claro que você precisa entender o que tá havendo, mas sabe que pode ser uma bobagem sem qualquer intenção de até mesmo ter um caso “presencial”, haha.

– Então, ele diz que a conheceu no Linkedin por conta de um contrato de novo fornecedor. Tanto faz. Eles começaram a se falar e deu nisso. O ponto é que não imaginava e parece que não o conheço mais. Não sei se é só ela ou se tem mais mulheres. Não sei se é caso ou não é. Um vaso se quebrou e eu tenho a impressão de que estou lidando com um desconhecido. Essa sensação é muito ruim.

– Eu te entendo, juro. E você entrou no aplicativo pra se vingar?

– Não sei se é bem vingança porque, pra ser,  ele teria que saber e sofrer por isso. 

– Ele não sabe? 

– Não exatamente… Entrei porque minha autoestima ficou uma bosta. Entrei pra me sentir também desejada. Entrei pra viver o que ele viveu. Empatar o jogo sabe? Minha amiga me deu força e era o que eu precisava…

– Fez bem. Se não tá fazendo mal a ninguém e buscando somente ser mais feliz, tá no seu direito à liberdade e à felicidade.

– Eu não tô confortável. Sinto-me culpada também. Pra amenizar, disse a ele que também teria um crush virtual. 

– Sério??? E ele?

– Não gostou. Está triste. Mas consegue me entender. Fábio é um cara legal e bastante inteligente.

– Você ama ele, né?

– Ninguém deixa de amar em pouco mais de uma semana. Eu tô muito magoada com ele, mas temos uma vida juntos.

– Queria tanto estar com você, te tocar. Sei que é um momento difícil pra você, mas é uma oportunidade pra mim. Um desejo que guardo dos tempos de escola.

– Você é incrível, Marcos. Se eu estivesse em outra fase da minha vida, não teria dúvidas – ficaria com você de olhos fechados, literalmente, haha.

Pela primeira vez em um bom tempo, Joana se pegou desejando outro homem. Marcos é um cara muito charmoso: sua voz, seu nariz grande, seus braços e, sobretudo, o jeito que ele olha pra ela. Poucas resistiriam. Joana sentiu vontade de cair nos braços dele, mas, como vontade é coisa que dá e passa, e como eles estão distantes fisicamente, ela segurou a onda e só o olhou fixamente.

– Jô, eu quero tanto você. Sei que essa crise é bobagem e que você e o Fábio vão se acertar. Ele não seria louco de deixar passar uma mulher como você.  Mas quero que saiba que não vou desistir fácil.

– Não tenho muito a dizer nem a prometer. Na verdade não tenho nada pra te dar em troca nesse momento. Só o que posso te dizer é que eu devo ser a pior mulher do mundo, pois no meio desse caos, meu sogro no hospital com Covid, meu marido me traindo, eu queria ficar com você.

Os olhos de Marcos explodiram em brilho e desejo:

– Me dá um gole desse seu vinho, gatinha? Quero te ver…

– Não dá né?

– Por que não?

– Porque minha vida não está resolvida, porque sou casada, porque estou em isolamento. Um monte de empecilhos…

– O terceiro item é o único objetivo e eu lhe afirmo que estou também isolado e com todos os cuidados possíveis. Vamos?

Joana olhava pra ele sem conseguir dizer uma só palavra. Extasiada. Apavorada. Dividida. Vontade de sorrir e de chorar. 

– Queria te ver sem roupa, Joana. Queria muito.

Neste momento, a Joana que conhecemos ruborizaria ou desconversaria, mas não foi isso o que aconteceu. Não sei se foi pelo vinho, pela mágoa do Fábio, pela autoestima que se inflou ou se por um pouco de tudo, junto e misturado, mas Joana tirou lentamente sua camiseta preta, soltou o sutiã também preto e ficou nua na frente da câmera.

– Nossa, como você é linda e como eu te queria agora nos meus braços. Eu tremo de tesão por você. 

Joana parece ter acordado de um sonho, ou de um pesadelo. De repente, fechou a câmera, saiu do link sem se despedir e desandou a chorar.

– O que eu tô fazendo, meu Deus? Que idiota eu sou.

Quando parou de chorar, tirou a maquiagem, colocou a camisola e se deitou pra dormir. Mas quem disse que conseguia? Mandou mensagem pra Márcia, sua amiga e confidente e ficou à espera de uma resposta.

Levantou-se da cama indócil e foi até o escritório onde Fábio costumava trabalhar. Seu laptop tava lá: ele não levou pra casa da mãe, ia usar o de seu pai.

Joana abriu o computador, digitou a senha que sempre soube, e resolveu fuçar arquivos e aplicativos instalados.

Ela ainda não tinha consciência disso , mas ela vasculhava o computador que o Fábio usava para que, achando algo comprometedor ou desleal por parte dele, ela aplacasse a sua enorme culpa e se sentisse aliviada.

 Não encontrou muita coisa… emails, Linkedin, Facebook… Opa, Whatsapp web.

Joana clicou nele, mesmo sabendo que sem o celular do Fábio ele não ativaria. Ela encontrou o que procurava: o histórico de conversas do Fábio.

Joana tremia muito. Seu coração acelerou descompassado. Ela estava prestes a se machucar muito. Clicou na conversa com a tal Luiza.

Fábio não era bobo. O histórico havia sido apagado. Nem a foto de lingerie estava lá.

Mas tinha uma última troca de mensagens que ele, por descuido certamente, não apagou:

“ Acha que poderemos nos encontrar na próxima semana, Fábio? Estarei no Rio…”

“Oi, Luiza. Foi muito divertido esse tempo que estivemos juntos na internet. Você é uma mulher sexy e divertida. Tudo que se pode querer. E confesso que me encantou. Mas o que eu tenho por aqui é enorme, Joana e as crianças são a minha vida. Meus três grandes amores. Não trocaria minha vida com eles por uma fraqueza ou confusão.”

Joana voltou a chorar. Essa mensagem era de anteontem, pouco antes de Fábio ir pra casa de sua mãe.

“Então você não quer nem me tocar uma vez ao menos? É isso?”

“Adoraria. Adoraria viver isso uma vez. Mas prefiro não. Se pudesse ter as duas coisas. Se pudesse ter tudo. Mas não dá. Eu tô quase perdendo a Joana e isso eu não quero. Me perdoa se pareço um sacana. Você é uma mulher e tanto.”

“Tenho certeza de que ainda vamos nos ver. Beijo, lindão.”

Joana leu com ódio nos olhos. Raiva dessa mulher legal, divertida, loura e sensual. Raiva do Fábio.

Pegou seu celular.

Oi, amiga. Me chamou? Tá tudo bem? Jaime melhorou? E Clarice? Pegou Covid?

– Jaime deve ir pra casa em breve. Clarice testou positivo mas tá em casa e sob controle. Fábio foi pra lá, já que proibiu Marcelo de ir lá. Coisas de irmãos. 

– Então as notícias são boas, certo? E você e ele, como estão?

– Ah, uma droga. Eu avisei a ele que ia procurar alguém na internet pra viver o que ele viveu.

– E você já conseguiu fazer isso, Jô?

– Hoje falei com Marcos em vídeo. Tomei vinho e tirei a blusa pra ele. Fiz merda. Tô apavorada. E se ele espalhar isso nas redes? E se fotografou ou filmou? E se me chantagear?

– Calma, amiga. Ele é conhecido… Você levantou a ficha dele, lembra? Estudou na sua escola, frequentou os mesmos meios que você. Por que ele faria isso? Um cara sério. Esquece isso.  Você gostou de estar com ele? O que sentiu?

– Além de culpa, vontade de ficar com ele.

– Isso é bom! Ficaria com ele direto? Abriria mão do Fábio?

– Nesse momento eu me sinto dividida em duas. Vi mensagem do Fábio para a tal Luiza: ele enche ela de elogios mas encerra a aventura digital com ela, alegando que quer viver bem comigo e que me ama.

– Isso é fofo, Jô. Se eu te conheço, você balançou. Se comoveu, né?

– Sim, balancei. Chorei bastante quando li. 

– Então, ambos encerram aqui suas aventuras de namoro virtual na pandemia, certo? Você já se sente melhor pra tocar seu casamento com Fábio?

– Infelizmente, não.

– Por que, Jô?

– Ele claramente está dividido. Ele queria vê-la. Só teve que optar. 

– Jô, você leu uma mensagem  que nao era pra você. Você invadiu a privacidade dele. De repente ele não pensa exatamente assim, mas não quis ser rude com a moça. É horrível invadir a conversa que não é nossa por isso…

– Você tá certa. Obrigada, amiga, por me ajudar a enxergar as coisas. Vou tentar dormir. Te amo.

– Te amo também, querida amiga. Fica bem, tá? Beijo nas crianças.

Jô já ia deixar o celular na mesinha de cabeceira quando viu a mensagem do Marcos:

– Nem se despediu. Não precisava ter medo. Jamais faria nada com uma imagem sua e nem mandaria pra ninguém. Você precisa me conhecer melhor. No pior cenário pra mim, você pode contar sempre com minha amizade.

Marcos foi malandro. Essa era a tática pra se manter próximo de uma mulher que muito o interessava e que estava confusa e dividida. 

– Joana, posso te perguntar uma coisa?

– Pode.

– Você gostou de me ver e conversar comigo?

– Muito.

– Então eu já posso dormir. Fico feliz.

– Marcos, queria te pedir uma coisa: eu não vou me separar e preciso encerrar esse episódio na minha vida. Vou investir nisso e não queria, nesse momento, ficar falando com você, pois não vai ajudar. Deixa que eu te chamo quando tudo melhorar, tá? Afinal, seremos amigos, certo?

– Certo, Joana. Como você quiser. Um beijo em você. Um beijo em várias partes de você. Você é incrível. Boa noite.

– Beijo, querido. Você também é.

Joana adormeceu tranquila.

Mais um dia amanheceu. 

Crianças acordando com os beijos da mãe. 

Café da manhã sendo preparado.

Roupas trocadas, camas feitas. 

Preparar pras aulas online.

Preparar pra reunião.

Esquecer o Marcos.

Focar em voltar ao que eram.

Joana se sentia aliviada e animada em se acertar com o Fábio. Era o que ela queria: viver feliz com sua família, curtir programas a quatro, mas também ter programas a dois e namorar o Fábio.  

Às 10 da manhã, o celular da Joana toca:

– Oi, Jô. Tudo bem por aí? As crianças dormiram bem? E você?

– Bom dia, Fábio. Tudo bem por aqui. Rotina a todo o vapor. E ai? E seu pai?

– A boa nova é que estou indo ao hospital pegar ele. Ele volta pra casa hoje. Tratei um enfermeiro pra ficar com ele aqui nas primeiras semanas. Tratei um fisioterapeuta respiratório também. Mamãe continua bem. Hoje ela faz o teste PCR para ver se já está livre do vírus. Vou fazer também pra ter certeza de que não peguei nada. Só que farei daqui a 2 dias pra não ter chance de dar falso negativo. Saudades de vocês e da casa. 

– Nós também.

– Eu te amo, Jô.

– Eu também. Quando seu exame der negativo, volta pra cá. Vamos tentar zerar essa fase e começar uma nova.

– Vamos. É tudo o que eu quero. Tô indo pro hospital buscar papai. Te dou notícias. Estou muito feliz. 

– Estamos também. Vou contar pras crianças que o vovô Jaime tá voltando pra casa! Um beijo, Fábio.

Os dias se passaram e tudo foi voltando ao normal. 

Fábio voltaria pra casa em poucos dias, livre do fantasma do Covid e pronto para recomeçar seu casamento.

Joana se prepara pra essa volta – também estaria pronta pro recomeço.

Mas como ser humano não é máquina que se programa pra agir e pensar, Joana pensava no Marcos. Volta e meia lembra dele de camiseta branca. Ela sente a falta dele no whatsapp.

Com certeza, Fábio também sente falta da Luiza.

E assim caminham os relacionamentos. 

O importante é termos a humildade de reconhecermos que falhamos, que somos seres divididos e isso não nos faz piores que ninguém.

O amor não tem limite e é possível, sim, querer coisas diferentes, pessoas diferentes.

Como é impossível ter tudo o que queremos, seguimos a vida fazendo escolhas. Nas opções escolhidas, vamos deixando de lado outros amores e dores.

E de vez em quando olhamos pro lado.

– Passando rapidamente pra saber como você está?

Essa é a Joana no whatsapp, deixando mensagem para o Marcos. Sabemos que o Fábio e a Luiza devem estar vivendo algo parecido.

E assim viveram Fábio e Joana: felizes sem hipocrisia, do jeito que conseguiram – com honestidade e luta pela felicidade. Não sei se para sempre, pois “para sempre” sempre acaba. Mas que seja eterno enquanto houver chama e infinito enquanto dure.

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