‘Equipes especializadas trabalham diretamente com as questões de risco e incêndio’, diz arquiteta responsável por restauração do Museu Nacional

Em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO RIO, Sandra Branco falou sobre os trabalhos pra recuperar o espaço que pegou fogo em setembro de 2018

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Foto: Nationalmuseum in Rio de Janeiro/D. Vasconcellos

Há três anos, seis meses e 19 dias, o Rio de Janeiro, o Brasil e o mundo assistiram chamas tomarem o Museu Nacional, localizado na Quinta da Boa Vista. As imagens, até hoje, são impactantes. A maior parte dos 20 milhões de itens que o museu abrigava foi totalmente destruída. Entre tantos, estava o mais antigo fóssil humano já encontrado no país, a Luzia; a coleção egípcia que começou a ser adquirida ainda por Dom Pedro I e coleções de paleontologia que incluam o fóssil de um dinossauro que veio de Minas Gerais.

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Foto: AFP PHOTO / STR

Em 2020, a Polícia Federal encerrou as investigações sobre a tragédia e afirmou que o incêndio não foi criminoso. Segundo as investigações, as chamas foram iniciadas a partir de um curto-circuito causado pelo superaquecimento em um aparelho de ar-condicionado.

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Encontrado na gruta da Lapa Vermelha, em Minas Gerais, o crânio de Luzia é um dos vestígios humanos mais antigos das Américas, com idade estimada entre 12 mil e 13 mil anos. FOTO: MUSEU NACIONAL DO RIO DE JANEIRO/DIVULGAÇÃO
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Sandra Branco

À frente do projeto de restauração interna do Museu está a arquiteta Sanda Branco, formada na UFRJ, com Curso de Restauro dei Monumenti na Universidade La Sapienza em Roma. “Meu primeiro trabalho no IPHAN foi, justamente, no Museu Nacional, um projeto que daria suporte à Restauração do edifício”, lembra Sandra, que também foi professora universitária no curso de Arquitetura e Urbanismo nas Universidades Santa Úrsula e Gama Filho e arquiteta do IPHAN por mais de 20 anos.

No Rio de Janeiro, ela desenvolveu os projetos de restauração da Sala Cecília Meireles, do restaurante Albamar (antigo Mercado Municipal do RJ), do Teatro Poeira, Capela da Luz e Reservatório da Mãe d’Água.

Em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO RIO, Sandra Branco comentou como estão os trabalhos de recuperação do Museu Nacional.

DDR: Quando você começou nos trabalhos de restauração do Museu Nacional? Como foi essa chegada nessa função?

Sandra Branco: Eu sou integrante de uma equipe premiada na licitação/concurso para o Projeto de Restauração do Museu Nacional, constituída pelos escritórios H+F e Atelier de Arquitetura, em 2020-21, onde sou responsável pelo projeto de restauro. No entanto, todos os arquitetos envolvidos trabalham de forma integrada e multidisciplinar. Minha participação compreende diferentes áreas de conhecimento como as transformações históricas e arquitetônicas, a análise dessas sobreposições, a recuperação de seus elementos artísticos e integrados, compatibilizando-as com o projeto de recuperação. Trata-se de uma oportunidade singular trabalhar com um edifício de tantas camadas construtivas históricas, muito raro no Brasil, reveladas em sua essência, a partir da tragédia do incêndio. A partir da queda do Império e o esvaziamento do Paço como residência, assistimos a sucessivas transformações de seus ambientes com severas demolições internas e ampliações outras.  O resgate e a mediação desses tempos marcados nas estruturas é nosso maior desafio na elaboração desse projeto. As prospecções arqueológicas desenvolvidas pela equipe da UFRJ, ora em curso, são também fundamentais nesse processo de apreensão deste conjunto.

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DDR: O está sendo mais difícil neste trabalho?

Sandra Branco: O desenvolvimento do projeto iniciou justamente no período da pandemia, o que dificultou o pleno acesso à documentação como, por exemplo, o Arquivo Nacional, que se encontrava fechado, assim como outros possíveis acervos. No entanto, tais dificuldades foram superadas por momentos de encantamento de descobertas constantes dos registros históricos consultados.

DDR: O que está sendo feito para que uma situação como a que levou ao trágico incêndio aconteça novamente?

Sandra Branco: A questão do sinistro ocorrido no Museu Nacional expõe a necessidade imediata de providências em relação à prevenção. Neste projeto, existem equipes especializadas que trabalham diretamente com as questões de risco e incêndio, responsáveis pela apresentação de projeto específico sobre esta questão.

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Foto: Nationalmuseum in Rio de Janeiro/D. Vasconcellos

DDR: Qual sua opinião sobre o atual trabalho dos órgãos de conservação do Brasil, em todos os níveis do municipal ao federal?

Sandra Branco: Diante da complexidade da pergunta, prefiro me abster.

DDR: É possível dar um prazo para o final dos trabalhos no Museu Nacional?

Sandra Branco: O projeto é muito complexo, com atuação de diversas equipes distintas e complementares, responsáveis por etapas distintas, inclusive da obra.  O projeto de arquitetura e restauração é atribuição de uma dessas equipes, que integro. Portanto, a definição de prazos é uma questão muito abrangente e maior, que não podemos estabelecer.

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Foto tirada antes do incêndio. Fábio Motta/Estadão Conteúdo.

DDR: O que a população pode esperar do Museu Nacional Restaurado?

Sandra Branco: O projeto de uma nova arquitetura e restauro do Museu Nacional parte da análise das demandas de programa sem abandonar as referências às múltiplas camadas históricas do edifício.  O resultado apresenta um percurso que integra o visitante com a história do edifício, incluindo nessas temporalidades não apenas o período imperial e republicano, mas também a história pré-imperial e contemporânea. A preservação de elementos históricos estará associada a uma proposição museal contemporânea, incluindo necessariamente soluções para acessibilidade universal, iluminação, controle ambiental, integrando os blocos de modo que crianças, adultos e idosos com restrições de mobilidade possam circular juntamente com os demais usuários através dos ambientes.  Além disso, importante destacar a relação do edifício principal com seus jardins (como o Jardim das Princesas) e o parque onde está inserido, conhecida área de lazer, intimamente associada ao Museu, estabelecendo um constante e necessário diálogo e integração.

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