Escravizados que reflorestaram a Floresta da Tijuca podem ganhar memorial histórico

Hoje, a floresta plantada pelos escravizados corresponde a cerca de 14% da área total do Parque Nacional da Tijuca

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O Ministério Público Federal (MPF) propôs ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) a criação de um memorial em homenagem aos 11 escravizados que, no século XIX, iniciaram o reflorestamento do que viria a ser o Parque Nacional da Tijuca.

Segundo o procurador da República Sergio Gardenghi Suiama, trata-se de um reconhecimento necessário para nomes como Eleutério, Constantino, Manoel, Mateus, Leopoldo, Maria, Sabino, Macário, Clemente, Antônio e Francisco — responsáveis pelo feito ecológico com efeitos são sentidos até hoje. Ele explicou que já existe uma pequena estátua com placa no centro de visitantes, mas considera o símbolo modesto demais diante da importância histórica do grupo. Caso haja interesse do ICMBio, o MPF está disposto a colaborar com estudos mais aprofundados.

A proposta foi oficializada no último dia 3 de maio, após a aprovação unânime do Projeto de Lei 605/2023 na Alerj, que pretende inscrever os nomes dos escravizados no Livro dos Heróis e Heroínas do Estado. O projeto, de autoria da deputada estadual Dani Monteiro (PSOL), aguarda sanção do governador Cláudio Castro (PL). A parlamentar contou que a iniciativa surgiu após uma visita à floresta, em um dia de calor extremo, ao se deparar com a discreta homenagem no local. Para ela, é uma parte da história brasileira ainda invisibilizada, que precisa ser exaltada com o devido respeito.

O ICMBio, por sua vez, afirmou que irá avaliar as sugestões e considera a ideia compatível com sua missão de promover ações de reparação histórica. A instituição também informou que a placa da estátua existente passará por melhorias e atualização.

Reflorestamento da Floresta da Tijuca

Entre 1862 e 1894 foram plantadas cerca de 155 mil mudas na Floresta da Tijuca e outras 30 mil nas Paineiras. As mudas eram distribuídas com espaçamento exato e levadas até áreas de difícil acesso, priorizando espécies nativas e madeiras de lei.

Tudo começou com uma crise hídrica sem precedentes, causada pelo avanço das plantações de café e pelo desmatamento que comprometeu as nascentes. Em 1862, o imperador Dom Pedro II ordenou a desapropriação das terras para que o reflorestamento pudesse amenizar o colapso. Coube aos escravizados, então, a missão de reconstruir a mata.

Hoje, a floresta plantada pelos escravizados corresponde a cerca de 14% da área total do Parque Nacional da Tijuca. Estima-se que atualmente sem a floresta, a temperatura da cidade seria entre 4 e 6 graus mais quente.

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