‘Estávamos num momento difícil’, diz Rodrigo Costa sobre término do Forfun

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Foto: Reprodução/Instagram Rodrigo Costa

Fundada em 2001, a banda carioca Forfun se consolidou no cenário musical carioca e brasileiro a partir de 2005, encerrando suas atividades em 2015, de maneira até surpreendente, pode-se dizer. De lá para cá, muito se especulou sobre os motivos exatos que levaram ao fim do grupo, nunca explicados de maneira muito detalhada pelos ex-integrantes.

E hoje, pouco mais de 3 anos após o último show, realizado em dezembro de 2015, na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, o DIÁRIO DO RIO conversou, com exclusividade, com Rodrigo Costa, ex-baixista e vocalista da banda, que, entre outros assuntos, admitiu o ambiente difícil que a banda vivia à época, comentou sobre sua amizade e apoio à família Bolsonaro e, claro, deu sua opinião sobre a cidade.

1 – Impossível começar a conversa com você não falando de Forfun. Na época, o término da banda pegou a todos de surpresa, e houve muita lamentação por parte dos fãs. Como foi entre vocês essa decisão, exatamente?

Houve lamentação da nossa parte também, claro, afinal estamos todos juntos nessa. Mas a questão é que realmente talvez tenha ficado difícil levar à frente composições e convívio intenso como tínhamos, dentro das tensões que vivíamos no momento. Por isso a decisão da separação.

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2 – Especulou-se muito um possível ‘racha’ entre vocês, por conta de divergências ideológicas/políticas. Tanto que, depois de alguns meses, surgiu o Braza, com Danilo, Vitor e Nicolas, apenas sem a sua presença. O que de fato aconteceu? E como é a relação de vocês hoje em dia?

Sim, exatamente, rachou. Os dois, amizade e banda. Observando tudo agora, com certo tempo passado, acho que todos nós conseguimos ter melhor noção do que poderia ter sido feito pra evitar tal ou tal situação, relevar tal ou tal diferença, mas, na época, no que cabe a mim, pelo menos, não houve essa maturidade.

É como casamento realmente: com a sequência dos anos, precisamos constantemente nos adaptar, ceder aqui, firmar opinião ali, num equilíbrio tênue, que, se mantido, leva ao sucesso da relação. Parece que com a gente essa fórmula uma hora saiu do prumo e não conseguimos trazer de volta.

Hoje estamos todos melhores resolvidos com isso, creio, e naturalmente a amizade e contato vão voltando. Além do carinho sempre presente, apesar de tudo, que nunca deixou que nos separássemos por completo, nos dirigíssemos ofensas sem volta, qualquer ato sequer próximo de agressão física ou coisa parecida. Posso afirmar com certeza que nos amamos demais.

Estamos aqui, em minha concepção que também é embasada em espiritualidade, justamente pro resgate de uma série de tensões pregressas, débitos de existências anteriores, já que as relações duradouras nunca são fáceis e tropeços podem ocorrer.

E essas tensões, esses desalinhos energéticos que temos, costumam vir de encontro a nós conforme o curso dos dias, justamente pra que saibamos superá-los. Por tantas vezes conseguimos, a exemplo da história bonita que deixamos, mas também somos falhos. Seguimos!

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Um dos últimos registros de Danilo, Rodrigo, Vitor e Nicolas juntos, logo após o último show da carreira do Forfun até o momento, em dezembro de 2015, na Fundição Progresso – Foto: AF Rodrigues

3 – Ano passado, surgiu uma matéria mostrando a antiga amizade de vocês com Carlos e Eduardo Bolsonaro, e inclusive isso foi confirmado por você no Twitter. Como é sua relação com a família Bolsonaro hoje? E como avalia a gestão presidencial de Jair/Mourão até aqui?

Peguei de rebarba a amizade que já existia entre a banda e os 2 (Carlos e Eduardo Bolsonaro) quando passei a integrar o Forfun. Éramos todos mais novos e política sequer era assunto diário, portanto quaisquer diferenças nesse sentido tinham muito pouca influência nas amizades.

Com o aprofundamento das óticas de todos nós ao longo dos anos, o estudo, a maior cristalização de certos conceitos, tais diferenças ganharam corpo e evidência, não tenho certeza se feliz ou infelizmente, e houve maior distanciamento, creio.

Em relação a mim, tenho muito carinho pelos 2 e orgulho pelo papel que desempenham na política brasileira. Não temos quase contato, mas estou sempre os acompanhando e torcendo pelo sucesso de ambos, além do de Flávio e Jair.

No pouquíssimo tempo, menos de 2 meses, que há de governo para se avaliar, num aspecto geral estou satisfeito e confiante, porém ao mesmo atento ao fato de que não será fácil para Jair Bolsonaro governar sequer por um dia, pelo risco que todas as suas pautas juntas representam para o atual sistema brasileiro por vezes engessado, outras corrupto, em suas esferas política, econômica, educativa, cultural, etc, que hoje, após um quase bem sucedido completo aparelhamento do Estado, atuam sob a égide da ideologia marxista/gramsciana em sua maioria.

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Ex-integrantes do Forfun e um dos filhos de Bolsonaro – Foto: Reprodução/Instagram Forfun

4 – Do Das Pistas de Skate às Pistas de Dança até o Nu, foram 5 álbuns de estúdio (músicas inéditas) lançados pelo Forfun. Quais são suas 5 canções favoritas entre todos esses diferentes trabalhos?

Putz! Isso é sempre difícil, sem demagogia, e acho que inclusive existem fases em que o apreço por tal ou tal música aumenta ou diminui, pelo menos comigo a coisa é meio fluida nesse sentido.

Mas vou escolher 5 que me venham à cabeça agora pra gente poder ter uma resposta pra pergunta: ”Suave”, ”Descendo o Rio”, ”Infinitas Possibilidades”, ”Morada” e ”Alegria Compartilhada”.

5 – Mudando um pouco a temática, você sempre demonstrou gostar bastante de futebol. Tem acompanhado o futebol carioca? Que avaliação faz do campeonato estadual até o momento, e mais precisamente do Vasco, campeão da Taça Guanabara e seu time do coração?

Sim, curto desde pequeno. Jogava direitinho, até. Cheguei a começar aquela fase de fazer testes em clubes nas categorias de base, com uns 13, 14 anos. Fui em Xerém, no Fluminense, mas fiquei na peneira logo, e no Botafogo, na época em Marechal Hermes, onde fiquei uns meses em teste. Morava na Tijuca. O 638 (ônibus) demorava 2 horas para fazer de lá até Marechal Hermes. Acabava perdendo aula 2 dias da semana, então acabei largando.

E para abrir o jogo de verdade, sou um vira-casaca: nasci Botafogo (tudo bem, até aí não escolhi), mas mudei pra Vasco aos 6 anos, com direito a festa de aniversário do clube. Mas com 7, por influência dos amigos do prédio e do super time do Flamengo nos anos 80, virei torcedor rubro-negro.

Depois disso, mais velho, me arrependi, porém era adolescente, e aí não era mais tão fácil assim dizer que simplesmente mudou de time. E o cagaço da zoação eterna?! (risos). Mas com uns 20, vindo de alguns anos tendo o surf como maior influência esportiva (por influência talvez da frustração em não ter sido jogador) e não mais o futebol, decidi largar o foda-se e ‘sair do armário’, futebolisticamente falando.

Tomo uma zoada até hoje dos que sabem e dos amigos antigos, mas, diferentemente daquele tempo, hoje não ligo. Antes tarde do que nunca. Contrariando a primeira frase do hino do “Urubu”, hoje sou vascaíno. E o futebol voltou a ter minha preferência. Hoje tá tudo no lugar. Quando dá, estou lá na arquibancada.

Falando do atual campeonato, é excelente a conquista da Taça Guanabara, principalmente com um elenco menos valorizado que o de outros times. O time se colocou acima disso, pois o futebol é mais que isso, e levou o caneco. Que tenhamos continuidade na boa fase.

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Foto: Reprodução/Instagram Rodrigo Costa

6 – Com a proximidade do carnaval, para quem gosta de Forfun, é impossível não lembrar da música Largo dos Leões. Como foi o processo de criação da letra dessa canção, isto é, a junção sequencial/cronológica dos nomes dos blocos? E de quem foi a ideia?

Perambulando pela rua num dia de carnaval, voltando pra casa, me veio o refrão em ‘loop’, já com a melodia: “No Largo dos Leões tá tendo bloco, é? No Largo dos Leões tá tendo o bloco e eu vou lá no Largo…”, e fiquei repetindo esse mantra. Mostrei pros outros, que curtiram. Mas ficamos nisso até o dia da gravação, sem conseguir preencher o resto da música.

Não me pergunte como nem por quê, simplesmente não ‘veio’. Até que, aos 45 do segundo tempo, no estúdio, na pressão, não lembro se eu ou Vitor teve essa ideia, de enfileirar os nomes dos blocos do Rio, que têm quase sempre uma brincadeira ou algo imaginativo com certa poesia. Vimos que podia dar certo (não tínhamos outra alternativa também), fizemos a lista e fomos rindo e bolando a tal narrativa, encadeando os nomes com vocais puxados pro Ragga.

Clipe oficial da música Largo dos Leões, filmado durante o carnaval de 2012.

7 – O nosso site é muito focado no Rio de Janeiro, como o próprio nome já diz. Como é sua relação com a cidade e quais são seus locais/pontos preferidos?

Sou carioca, nascido e criado na Tijuca até os 20 anos, quando fui morar em Pedra de Guaratiba. Sete anos depois, fui para Botafogo. Em 2010, me mudei para o Largo do Machado (onde também tem bloco) e ano passado vim para o Flamengo.

Como em cada área que moramos, adquirimos conhecimento não só dela como das redondezas. Por ter morado em diversas regiões da cidade, acabei me tornando certamente alguém com uma boa noção dela.

Depois da minha casa, gosto das praias. Inclusive, tenho uma bem perto de casa, a do Flamengo, e de vez em quando estou lá também, mas não mergulho para não sair com um terceiro olho ou orelha, ou com gosto de plástico ou óleo na boca. Tá sempre poluída, uma pena.

Paralelamente, sou fã de shopping centers também. Adoro a cidade, mas não tenho a fantasia de que ela seja tão maravilhosa assim, pelo menos para muitos. O tráfico é um perigo, as milícias são um perigo, a polícia, apesar de ter meu apoio e confiança, por vezes, também.

A última sequência de governantes afundou o Estado na maior crise da história. No Rio, é ‘Lei de Gérson’ (desculpe, Gérson) o tempo todo. Pelo menos é o que vejo vindo de todos os lados, de quem governa ou de quem conversa na fila do mercado. Se der pra ‘se dar bem’, mesmo que às custas de outros, ‘é nós’.

É uma cidade um pouco mal educada no geral também, frente à outras que conheci pelo Brasil. Os serviços no Rio são muito ruins. O Rio não me parece muito profissional. Parece que muita gente trabalha com a cabeça em outro lugar, ao invés de valorizar aquilo, para quem saber crescer ali e um dia chegar a este outro lugar. Parece que se quer pular etapas. Se quer uma vida tranquila, mas sem o conhecimento de que vida tranquila demanda esforço, paradoxalmente.

Mas é claro que há muitas exceções no campo profissional, assim como inúmeros prós na cidade, que acaba vencendo, quase que covardemente, pela beleza e simpatia.

8 – Atualmente, você faz parte de alguns projetos, como Carranca, Tivoli e Riocore All Stars, além de ter lançado um trabalho acústico (Luau) em 2018. Como estão seus planos musicais para 2019?

Destes que citou, o Tivoli é o que se encontra mais parado, devido à mudanças (de endereço) entre os integrantes.

O Riocore All Stars é um projeto de temporada anual. Esse ano, faremos os shows em julho.

Com o Carranca, estamos gravando o 2º disco, que deve sair no meio do ano.

2018 foi um ano de poucos shows, então me dediquei à composição de novos sons e no aprendizado na parte de produção musical. Lanço um disco solo agora nesse primeiro semestre, com o foco em ritmos caribenhos. Chamará Tijucaribe. Tenho ouvido bastante esse tipo de som, Dancehall, Reggaeton, Dembow, e resolvi testar o pouco que aprendi nesse tempo em produção para produzir e mixar um disco, utilizando, em sua maioria, instrumentos digitais e sintetizadores, até para facilitar com a parte de microfonação, etc, e preenchendo os arranjos com algumas cordas. A master também vou entregar para algum profissional dentre os amigos que tenho.

Venho lançando material ocasional também como experiências dentro dessa esfera de produção., incluindo o ”Luau”, último lançamento. A maioria soa uma porcaria para mim, depois de um tempo. Ainda bem que é meu o trabalho. Não façam isso, crianças (risos). Entreguem seus trabalhos a profissionais do ramo.

Mas aos poucos vou crescendo nisso também, e em breve os sons virão só pedrada. O negócio é o caminho, a satisfação no caminho no momento em que ele acontece. E, claro, a não desistência frente às dificuldades naturais a qualquer avanço. Tem uma poetisa grega antiga que diz: “Tudo pode ser, se quiser será. Sonho sempre vem para quem sonhar.”

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Rodrigo em apresentação do Riocore All Stars, projeto que faz um ‘mix’ de bandas do cenário carioca originárias do início dos anos 2000. Novos shows estão previstos para julho – Foto: Gui Canelli

9 – Por fim, a pergunta que não quer calar e não pode faltar: existe possibilidade de retorno do Forfun, com alguma nova turnê ou shows esporádicos, similar ao que faz o Los Hermanos? Já conversaram sobre isso?

Olha, eu teria um prazer imenso se um dia rolasse. Porém, sinceramente, não creio que seja o momento e que vá rolar por agora. O Braza tá aí, demandou muito investimento em todos os sentidos, e talvez não seja ‘jogo’ para eles, do ponto de vista identitário, entrar numa turnê como Forfun novamente nesse curto tempo.

Creio que agora, como estão, é que estão fixando mais um público, consolidando a imagem de um lance que é diferente do Forfun em maioria, apesar de terem semelhanças. Como nos meus shows solo eu já toco bastante Forfun, não atrapalharia tanto conceitualmente, ao meu ver.

Mas posso estar errado, essa é só a avaliação que faço desse momento. Quem sabe para daqui a uns anos?! Independentemente disso, queria aproveitar para mandar um beijo pros quatro, Danilo, Vitor, Nicolas e Pedro (Lobo, baixista do Braza), além de toda equipe que os acompanha e que tá no coração, e reforçar o desejo pelo sucesso do grupo.


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9 COMENTÁRIOS

  1. Que bela entrevista! Imparcial e sóbria.
    Rodrigo também sempre se mostra respeitoso e evoluído, ao contrário de quem critica e se acha como tal, misturando tudo sem ver o todo.
    Sou fã do Carranca, por sinal. Dois discos maravilhosos até agora.
    Força e sucesso sempre pra esse cara iluminado.

  2. A quantidade de merda que os Haters do Bolsonaro espalham por ai em qqr lugar é impressionante. Eu mesmo odeio o cara e num saio por ai misturando as coisas.
    Parabens pelos novos projetos Rodrigo, você sempre foi e sempre será a alma do Forfun, a nova banda dos outros 3 é só casca crítica rasa e vazia.
    Top os novos projetos, to chegando meio atrasado, mas já fui buscar, ta muito maneiro. Só tem razão que suas edições tão fracas… aushaushuahsuahs mas a gente continua no apoio irmão! Equilíbrio sempre irmão!

  3. Entrevista bacana. Diferente dos intolerantes que infestam as redes sociais com poucos argumentos contundentes, achei o Rodrigo bem amadurecido mediante as experiências. Sucesso em sua carreira.

  4. “No pouquíssimo tempo, menos de 2 meses, que há de governo para se avaliar, num aspecto geral estou satisfeito e confiante, porém ao mesmo atento ao fato de que não será fácil para Jair Bolsonaro governar sequer por um dia, pelo risco que todas as suas pautas juntas representam para o atual sistema brasileiro por vezes engessado, outras corrupto, em suas esferas política, econômica, educativa, cultural, etc, que hoje, após um quase bem sucedido completo aparelhamento do Estado, atuam sob a égide da ideologia marxista/gramsciana em sua maioria.”

    Quanta burrice e desinformação neste parágrafo, um chorume de palavras e analfabetismo político gigante.

  5. O cara virou bolsominion… Ai fode né. Não tinha como continuar. A proposta da banda era completamente outra. Ainda bem que o resto continuou igual e formaram outra banda.

    • Mas o cara fez questão de afastar seu nome com os do Bolsonaros. Apesar de falar em “marxismo”, aquela palavra que todo minion que se preze menciona sem entender o que ela é realmente (e que aqui no Brasil nunca existiu).

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