Eu não procuro, acho!

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(Un)successfull search por Rene Silbernagel

O psicanalista francês, Jacques Lacan, ao homenagear Picasso, em 1964, disse: “eu não procuro, acho”. O que devo fazer no sentido de não me perder numa estéril procura mas sim poder me encontrar justo no ato do meu querer?

O “eu não procuro, acho”, é o necessário atrevimento de uma realização conclusiva frente às escolhas que a vida me propõe. Isso equivale a dizer que, diante dos momentos cruciais implícitos nos impasses do desejo, em que cada um se vê convocado a dizer um sim ou um não, vai afirmar para si mesmo qual é a sua, o que realmente quer.

Quando se afirma, “eu não procuro, acho”, esse é o meio, através do qual, eliminam-se as perdas de tempo na sua vida, depressões, justificativas. É quando não se quer mais gozar nas doentias esperas, nas vielas do medo de achar.

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O “eu não procuro, acho”, remete o sujeito à uma responsabilidade solidária, a querer aquilo que deseja. O sujeito não mais se perde nas enganosas trilhas inférteis de um itinerário vazio. Ele acha, paga o preço de sua escolha, não se ilude mais com o fascínio da dúvida, das procrastinações.

Mas, existem aqueles aprisionados no talvez, e não são poucos! Talvez isso, talvez aquilo, são pessoas que amarram a vida, a coisa não anda, paralisados na dúvida e imersos no território de uma indeterminação, uma errância.

Pode-se afirmar, que a perda de tempo é coisa que incomoda alguns. Mas, cá entre nós, alguns neuróticos obsessivos e ou histéricas, se perdem nos impedimentos e insatisfações, gozam insistência de um tempo que gera o não cessar de uma procura, pois têm na perda de tempo a sua eterna e verdadeira paixão.

Quando se afirma “eu não procuro, acho”, tarefa psíquica nada fácil, aliás, das mais difíceis para o humano, passa-se a lidar com a vida pelo viés de uma realidade sem grandes ilusões, sem expectativas, livre da promessa de felicidade. É quando existe uma reconciliação consigo mesmo.

Trata-se de um instante paradoxal onde uma triste liberdade lhe será oferecida e, você poderá desfrutá-la como um passageiro solidário de si mesmo.

Nesse momento o sujeito não procura mais pelos pais para socorrê-lo. Pais que poderiam vir dizer qual é o seu desejo. Quando você não procura mas, acha, trata-se de um momento de profunda solidão, um momento fértil de um encontro consigo mesmo em que você se vê atravessado pela ética de seu desejo. Você não espera nada de ninguém, nada que possa vir de um outro pois, você encontra no real da experiência aquilo que buscava.

Achar aquilo que se deseja é se responsabilizar pelas suas escolhas, seus atos, seu porvir. É a hora de limpar os espelhos que por tanto tempo serviram para você  procurar fora o que precisava encontrar dentro de si mesmo. ?Pergunto: em que modelo você se encaixa? Fica apenas procurando ou acha o que deseja? É isso aí!

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Médico, Psiquiatra e Psicanalista. Especialização e Mestrado em Psiquiatria (UFRJ); Membro da Escola Lacaniana de Psicanálise de Brasília, Rio de Janeiro e Vitória; Membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP); Editor-chefe da Companhia de Freud Editora
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