Felipe Lucena: Tiros e mortes em looping infinito no Rio de Janeiro

A política de segurança adotada no Rio de Janeiro há décadas, intensificada no governo Claudio Castro, repete erros e falta de resultados efetivos como na operação desta quinta-feira, no Complexo do Alemão

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Foto: Reprodução Twitter/Voz das Comunidades

Mais uma vez, estamos aqui debatendo mortes após uma operação policial no Rio de Janeiro. A história se repete como tragédia. Tragédia mais que anunciada e repetida. Por décadas. Desta vez, foi no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. A Polícia confirma 5 mortes; a Defensoria e a OAB dizem que há mais 15 corpos em uma UPA do Complexo. Isso até o fechamento deste artigo de opinião. Entre os mortos estão a moradora Letícia Marinho Sales, de 50 anos, atingida enquanto estava com o namorado, e um PM: o Cabo Bruno De Paula, que tinha 38 anos, era casado e deixou dois filhos portadores do espectro autista..

Há praticamente dois meses, no último dia 24 de maio, uma operação policial deixou mais de 20 pessoas mortas, na Vila Cruzeiro. É fácil lembrar-se de tantas outras situações semelhantes. Antes que venham com argumentos rasos: sim, o crime precisa ser combatido. Contudo, não é evidente que esse tipo de ação não resolve o problema e só enxuga gelo? Gelo sujo de sangue, sobretudo sangue de pobre, de preto.

A prova de que os erros se repetem em looping infinito de tiros e mortes na política de segurança pública do Rio de Janeiro é que vou repetir, a partir do próximo parágrafo, frases que escrevi em um artigo de opinião publicado no último dia 24 de maio, após a operação na Vila Cruzeiro.

Há quem defenda este tipo de ação, inclusive a diretoria do DIÁRIO DO RIO. Contudo, a história do Rio de Janeiro mostra que este modelo de segurança pública não é eficaz. Se funcionasse, considerando as décadas que este tipo de estratégia é aplicada pelas forças de segurança, estaríamos vivendo no paraíso. Mas quem mora em favela no Rio sabe que até do purgatório estamos longe. Principalmente em dia de operações do tipo. Os relatos dos moradores sobre a operação desta quinta-feira, no Complexo do Alemão, são de escolas e clínicas da família fechadas (algumas delas com caixas d’água furadas por tiros), trabalhadores, crianças e idosos acuados, escondidos, enquanto escutavam tiros e mais tiros.

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Estas ações, em muitos casos, terminam em mortes. Seja de inocentes, policiais, traficantes ou milicianos. No dia seguinte, os mortos são enterrados e a vida continua. Inclusive com os mesmos grupos tomando conta dos mesmos lugares, com outras pessoas nos lugares dos que morreram. Também em muitos casos, o saldo de apreensões de armas e drogas das operações é baixo em relação ao que poderiam alcançar caso a tática fosse diferente.

As maiores apreensões de fuzis da história do Rio de Janeiro não foram feitas em operações dentro de favelas. Elas foram realizadas no Aeroporto do Galeão e em uma casa, no Méier, que pertencia a um amigo de Ronie Lessa, acusado de ter assassino Marielle Franco e Anderson Gomes.

Essa política de segurança baseada no conflito, dando o mínimo de prioridade à tecnologia, investigação e estratégia para combater o crime organizado tem esse resultado: vivemos em uma das metrópoles mais violentas do mundo.

Os policiais também sofrem com esse modelo de segurança pública. São eles quem vão para a linha de tiro matar e morrer. Secretários e governadores seguem blindados em seus gabinetes. Falando em governadores, em julho do ano passado, de acordo com dados do Fórum de Segurança Pública publicados na coluna do jornalista Guilherme Amado, no site Metrópoles, as gestões de Wilson Witzel e Cláudio Castro não investiram um centavo em informação e inteligência na segurança pública.

Ainda de acordo com o texto de Guilherme Amado, em 2020 e 2021, as despesas empenhadas foram apenas no policiamento, defesa civil e demais subfunções, que não são especificadas pela pesquisa. O dinheiro gasto foi apenas para manter a máquina funcionando, e não para pensar em um plano para uma das áreas mais necessitadas do estado, a segurança pública.

Eu adoraria não ter que repetir argumentos enquanto a política de segurança pública do Rio de Janeiro repete erros. Mas, infelizmente, pelo jeito terei que continuar. Quem está no governo não parece nada interessado em fazer diferente.

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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13 COMENTÁRIOS

  1. Se operações com fuzil atingem inocentes. Em qualquer operação com agentes flagrados pelas câmeras atirando se vê que apontam numa direção e atiram nem nenhum bom senso se atinge ou não outras residências e mesmo numa direcionada se ali onde se encontra suspeito ou criminoso há outras pessoas (pois invadem casas de pessoas) que nada tem a ver… e claro, se atingem e matam algum inocente nessa circunstância colocam arma na mão e falam que estava armado… que dirá bombardeio e atiraria pesada…
    Aliás, num bombardeio nem precisaria colocar arma na mão do inocente eventualmente atingido (né?) poupariam os maus agentes desse trabalho. Alegariam que todos são criminosos.

    • Ué, ninguém obriga o morador de favela a morar lá. Sai desse inferno que é o Rio, vá morar no Nordeste ou qualquer lugar deste país. Se fosse governante dava era bolsa e aluguel social pra quem quisesse morar fora. Se continua lá, é porque é masoquista e/ou gosta de ilegalidade e imoralidade.

  2. Luto pelo policial e pelo inocente! Dito isto
    PARABÉNS POLIÇADA! 18 RATOS EXTERMINADOS
    BALA NOS VAGABUNDOS E PORRADA NOS DEFENSORES DELES!

  3. Favelas são território inimigo e ponto final. Precisam é ser bombardeadas e dominadas com mísseis e artilharia pesada. O Estado precisa entender que estamos lutando contra um Estado inimigo e não contra bandidos comuns.

  4. Há 5 décadas a mesma política desastrosa de segurança pública…

    Em outros países mesmo na Europa tem tráfico de drogas e armas, organizações criminosas, locais em que a Polícia não entra sem operação, mas não se adota política de guerra (às drogas) como vemos no RJ/Brasil que vitima de forma letal indivíduos de todos os lados, com consequências em suas famílias e moradores, além de outros danos como o funcionamento de serviços educação, saúde, comércio etc.

    • Qual o custo total(??) de:
      – Mobilização de agentes, viaturas e helicópteros
      – Escolas fechadas
      – Comércio fechado
      – Pessoas impedidas de ir ao trabalho
      – Atendimento aos baleados nas unidades de saúde
      – Enterro dos mortos
      – Eventuais pensões ou indenizações

      Resolveu alguma coisa do problema que pretendia combater com a operação???

  5. É como eu sempre digo, que favela não é bairro; precisa sim os próprios moradores dize sim para a transformação em bairro. Becos e vielas passarem por uma transformação em ruas, com rua principal do bairro. Favelas fechadas, trancadas, como um ninho de passarinho, casas em cima da outra sem ventilação. O povo tem que decidir por querer transformação em bairro, em abrir a favela realmente, da espaço a seus habitantes. Precisam pensar nisso com urgência, porque do jeito que está só favorece os bandidos.

    • A política habitacional, o custo de vida e o achatamento salarial (o salário mínimo do Brasil é dos menores do mundo – se o país fosse ingressar na União Europeia seria um dos mais ricos em PIB e que mais mais pagasse os trabalhadores).

      Com isso não se proporciona condições para, nos termos do artigo dignas de moradia.

      Lembramos que ainda governos (como na ditadura) adotam programas habitacionais (racistas e excludentes).
      Veja a construção de moradias populares em áreas bem distantes de onde tem trabalho (regiões centrais) com ausência ou baixa qualidade dos serviços de transporte, saúde e educação, além de condições de lazer.

      Muita daquelas localidades que receberam projetos habitacionais (grandes conjuntos) no passado foram se degradando, além pela falta de serviços por esquecimento dos governos, também à medida que imóveis passaram por transformações para cima e para os lados (os puxadinhos) as áreas dos terrenos conforme a família ia se ampliando e as condições econômicas dessas não permitiam ir para outras regiões.

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