Felipe Lucena: Witzel, o Narciso que caiu no Rio

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp

Na mitologia grega, o mito de Narciso narra a história de um jovem caçador fascinado por sua beleza. Há dois desfechos para a narrativa. Um relata que ele morreu de desgosto por admirar tanto a própria imagem e não conseguir tê-la. A outra versão conta que ele morreu afogado ao tentar tocar sua imagem refletida em um rio.

Desde o início do governo, Wilson Witzel se mostrou um político muito vaidoso. Embora tenha sido eleito na onda do “não político”, Witzel provou que sabe usar a bravata como instrumento de trabalho, entre outras politicagens clássicas no Brasil, por exemplo, a vaidade. Dá para dizer que é nosso Narciso Witzel.

Antes mesmo do governo começar ocorreu o episódio de Harvard, no qual ele mentiu no currículo dizendo que havia estudado na universidade americana, quando na verdade nunca tenha cursado nada lá – apesar de ter tido vontade, como ele mesmo disse. Vaidade comum e deflagrada com força recentemente no Poder Judiciário brasileiro. A soma das vaidades políticas e jurídicas não dá resultado positivo.

Nos primeiros meses de mandato, Witzel mandou confeccionar uma faixa de governador. Inclusive, ele participou de algumas reuniões usando o traje. Traje este que não faz parte da vestimenta de um governante de estado, diferentemente do que acontece com um Presidente da República.

Advertisement

Falando em presidência da República, Witzel nunca escondeu seu desejo de disputar  a cadeira hoje ocupada pelo “mito” Bolsonaro, aliado de outras épocas. Pessoas próximas ao governador tiveram que pedir a ele para segurar a onda e não ficar pensando tanto na disputa de 2022. A cabecinha estava longe demais do Rio de Janeiro.

Em diversas oportunidades, Witzel apareceu fazendo flexões, posando com policiais e falando que com ele a violência no RJ não teria vez. Neste contexto foi dita a frase do “tiro na cabecinha”, repetindo um discurso mais que ultrapassado e que nunca funcionou na segurança pública do Rio de Janeiro e do mundo. Isso sem contar a operação da qual ele participou, em um helicóptero, em Angra, e a comemoração após a morte do homem que sequestrou um ônibus com reféns na ponte Rio-Niterói. Tudo filmado e postado por seus assessores. Mídia espontânea?

Também foi registrado e divulgado em redes sociais a presença do governador no jogo que deu o título da Libertadores da América ao Flamengo, em dezembro do ano passado. Igualmente à ajoelhada em frente ao jogador Gabigol, que driblou Witzel o deixando mais perdido que Narciso sem espelho.

Quando Crivella passou a jogar contra o carnaval carioca de forma mais descarada, Witzel inflou os pulmões e disse que assumiria a festa se preciso fosse. E não foi a única responsabilidade da Prefeitura que ele disse que traria para o Governo do Estado.

Durante a crise causada pelo Coronavírus, Witzel agiu de forma exemplar no inicio. As promessas de um número considerável de hospitais da campanha, o posicionamento ao lado da ciência (defendendo ações de isolamento social), a dureza ao peitar quem estava na contramão das posturas racionais diante do problema, o diálogo com políticos de oposição ao seu governo, entre outras atitudes, lhe renderam elogios. Inclusive meus.

Contudo, essa mesma postura diante da pandemia, passados três meses, se mostra, mais uma vez, mais discurso de palanque do que qualquer outra coisa. Falas vazias. Falas vaidosas. Embora muitas decisões do governo tenham ajudado no combate à doença, a demora na entrega dos hospitais de campanha (que não foi culpa só do governador, mas pelo cargo que ocupa é o principal responsável) e as denúncias de corrupção na compra de respiradores e aparelhos custaram muitas vidas e podem custar também a breve e espelhada carreira política de Witzel.

Como disse no início do texto, há dois desfechos para a narrativa sobre o mito de Narciso. Um relata que ele morreu de desgosto por admirar tanto a própria imagem e não conseguir tê-la. A outra versão conta que ele morreu afogado ao tentar tocar sua imagem refletida em um rio. O nosso governador Narciso Witzel está mais próximo do segundo final, afinal, é no Rio (de Janeiro) onde ele começou que ele pode cair.

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
entrar grupo whatsapp Felipe Lucena: Witzel, o Narciso que caiu no Rio
Advertisement

1 COMENTÁRIO

Comente

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui