Com um panorama dos 11 anos de trajetória da artista carioca Fernanda Leme, a exposição “Monstros” apresenta cerca de 80 pinturas, a maioria inéditas, criadas entre 2013 e 2023. Com curadoria de Alexandre Sá, a mostra debate a interseção entre pintura e fotografia na contemporaneidade, abordando temas como a fugacidade das imagens, luto, perdas e a efemeridade da sociedade atual. A exposição será inaugurada no dia 3 de outubro, às 18h30, na Z42 Arte, no Rio de Janeiro. Fernanda Leme conduzirá uma visita guiada no dia 26 de outubro, às 17h, ao lado do curador.
As obras de Fernanda, inspiradas em fotografias antigas e registros feitos por celular, mesclam memória pessoal e elementos do cotidiano, criando narrativas que ampliam o debate sobre a transitoriedade das imagens. “A exposição é uma crônica da nossa época, um trabalho de memória e de imagem”, afirma a artista. Filha da jornalista Lúcia Leme (1938-2021), Fernanda utiliza sua arte para abordar questões universais e, ao mesmo tempo, profundamente pessoais, como o protagonismo feminino e a experiência do luto.
O título da exposição, “Monstros”, faz referência a uma pintura homônima de 2013, que retrata uma figura capturada por dois homens encapuzados, cercada por anjos e diabos. Para a artista, o quadro simboliza uma reflexão sobre os monstros do nosso tempo, como as perdas e o peso da História da Arte. “Pesquiso a monstruosidade angustiada de capturar o presente, que nos sufoca e aprisiona numa fantasia de liberdade”, comenta a artista. O curador Alexandre Sá reforça o questionamento sobre a “monstruosidade” do legado da pintura na história.
Na entrada da exposição, um painel composto por 56 pinturas, no formato 30x40cm, faz uma analogia com fotos 3×4, retratando rostos de mulheres da convivência da artista e também anônimas. As obras discutem o contraste entre a pintura, que requer tempo para ser realizada, e a fugacidade das selfies, imagens digitais descartáveis na era da sociedade líquida. Fernanda reflete: “Enquanto as selfies são muitas vezes jogadas fora, a pintura é o oposto; ela exige um tempo para ser criada.”
Na sequência, a série “Fim da Infância” expõe cinco grandes obras, incluindo um políptico de 2013, que retratam personagens ao lado de seus super-heróis favoritos, criando um desconforto entre realidade e fantasia, numa reflexão sobre a perda da inocência. A série “Retratos”, produzida desde 2013, apresenta personagens em diversas situações, sempre com a introdução de novos elementos que transformam as imagens originais, como na obra “No trem”, baseada numa fotografia de 1981.
A Arte do Luto e da Superação
A série “Luto”, de 2023, foi criada após a artista ser diagnosticada com câncer de mama, pouco depois de perder seus pais e irmão para a mesma doença. As obras, no entanto, trazem cores vibrantes, refletindo a leveza com que Fernanda escolheu encarar sua própria jornada de superação. “Nunca parei de produzir, mesmo diante das adversidades”, revela. O curador destaca que os trabalhos abordam a experiência pessoal sem recorrer ao trauma, mas sim com um vigor de enfrentamento do cotidiano.
A exposição culmina com a obra “Pente” (2023), que representa um ponto de virada na vida e na produção artística de Fernanda Leme. A peça, com fios de cabelo presos ao objeto retratado, marca o encerramento de um ciclo de transformações e dá início à série “Morfemas”, onde a artista passa a explorar desenhos geométricos formados por fios de cabelo, criando novos signos visuais.
A exposição “Monstros” ficará em cartaz até o dia 30 de novembro na Z42 Arte, no Cosme Velho, Rio de Janeiro.
Serviço:
Abertura: 3 de outubro, às 18h30
Exposição: 4 a 31 de outubro de 2024
Visita-guiada com a artista e o curador: 26 de outubro de 2024, às 17h
Z42 Arte
Rua Filinto de Almeida, 42, Cosme Velho – Rio de Janeiro
Telefone: (21) 98148.8146
De segunda a sexta, das 11h às 16h. Sábado, mediante agendamento.
Entrada franca