Funcionário denuncia Supermercados Mundial por intolerância religiosa

Rafael, que trabalhava como locutor, é sacerdote de culto afro-brasileiro. O mercado afirma que as razões do desligamento do mesmo não possuem qualquer relação com o fato por ele narrado

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Um funcionário da rede de Supermercados Mundial acusa a unidade de Ramos de intolerância religiosa após ser demitido na última quarta-feira, 07/07. Rafael da Silva Oliveira, que trabalhava como locutor da rede, é sacerdote de culto afro-brasileiro e afirma ter sido perseguido após ir trabalhar com uma máscara estampada com o Orixá Ogum, símbolo das religiões de matriz africana. O fato ocorreu no dia 17 de junho.

A vítima conta que no dia foi chamada à sala da gerência e obrigada a trocar de máscara pelo gerente da loja. No mesmo dia, Rafael foi transferido de unidade e a partir de então passou por sucessivas mudanças em seu horário e local de trabalho, sem aviso prévio. Segundo a vítima, nas últimas semanas foram cinco transferências de local e oito trocas de horário de trabalho.

Na última sexta-feira, 02/02, o então funcionário foi até a sede da empresa, no bairro de Inhaúma, denunciar a suposta perseguição por parte da gestão. Menos de uma semana após a queixa, Rafael foi dispensado do trabalho. Ao questionar o motivo do desligamento, a vítima conta que foi coagida a assinar o documento e que seguranças à paisana o acompanharam enquanto ele tentava ligar para o ‘’Disque 100’’ e comunicar o ato de intolerância. Isso culminou numa crise de ansiedade, o que fez com que Rafael se trancasse no banheiro por três horas com fortes dores musculares motivadas pelo curto espaço em que permaneceu sentado.

‘’O gerente começou a me questionar e gritar sobre a máscara, dizendo que não era o padrão. Porém, haviam outras pessoas usando máscaras de time e outras escrito ‘’fé’’. Depois disso fui transferido, mudaram meu horário e agora me mandaram embora após a minha denúncia ao RH da empresa’’, afirmou Rafael.

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O deputado estadual Átila Nunes, que é relator da CPI que investiga a intolerância religiosa no Estado, prestou assistência jurídica à vítima, que só aceitou sair do banheiro acompanhado do assessor do parlamentar, que seguiu com Rafael até a Unidade de Pronto Atendimento do Complexo do Alemão.

‘’Uma empresa deve contratar ou desligar um funcionário por razões de competência e conduta profissional, mas jamais por questões raciais, de gênero ou religiosa. É gravíssimo o que aconteceu com Rafael, considerando que após ter que retirar a máscara, ainda foi transferido de unidade e horário. E quando confiou na administração da empresa para contar o que estava acontecendo, perdeu seu emprego’’, disse o relator da CPI da Intolerância Religiosa, Átila Nunes.

O primeiro atendimento médico prestado à vítima foi pela equipe do supermercado. A rede explicou à equipe do parlamentar que a possibilidade de mudanças no horário e transferências de unidade estão previstas no contrato de trabalho e que as máscaras são padronizadas, embora alguns funcionários usassem máscaras com outras estampas.

O Mundial afirma que “não compactua com qualquer ato de discriminação ou intolerância religiosa, e respeita todas as crenças. A rede desde o início da pandemia segue rigorosamente todos os protocolos de segurança contra a COVID, sendo um deles a obrigatoriedade do uso de máscaras por todos os colaboradores, e as mesmas precisam respeitar as normas técnicas dos órgãos oficiais de saúde e um bom estado de higiene. O Mundial reforça que a declaração não condiz com a cultura da marca, e oferece treinamentos constantes para todos os colaboradores e funcionários terceirizados sobre cuidado com o cliente, excelência, valores e propósito da companhia. O colaborador mencionado não integra mais a equipe do Mundial. As razões do desligamento do mesmo não possuem qualquer relação com o fato por ele narrado”.

A ocorrência será investigada pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância DECRADI, implementada em 2018 através de um projeto do deputado Átila Nunes. A especializada também investiga outra denúncia da vítima, feita em setembro de 2020 quando Rafael foi expulso de uma corrida de aplicativo por estar vestido com roupas do culto afro-brasileiro.

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3 COMENTÁRIOS

  1. Com o aumento da intolerante catequese fundamentalista evangélica, episódios como esse têm sido frequentes. Pobre Brasil dos ignorantes e fanáticos!

  2. Complicado isso aí, porque tem que ser visto caso a caso. Da mesma forma que o patrão pode proibir ir trabalhar com camisa de time de futebol, ele a princípio pode exigir a máscara que achar melhor… neutra ou inclusive com o logotipo do supermercado – desde que a ofereça. Não pode é exigir do funcionário algo humilhante. Neste sentido, a princípio parece que a reclamação do cidadão aí não procede.

    OBS: Existem certas palavras que do nada o povo a carimba de certos sentidos… “compactuar” virou palavra usada só nesses assuntos agora… que pobreza com a linguagem.

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