“Sempre escrevi”, disse Severino Honorato. O paraibano, que está no Rio de Janeiro há 40 anos, é um dos principais nomes propagadores da cultura nordestina por aqui, sobretudo a literatura de cordel. É mais um Gente do Rio imprimindo suas histórias.
Nascido em Mulungu, no interior do estado da Paraíba, Severino quase foi para a carreira religiosa. Estava caminhando para ser seminarista e seguir as palavras da Igreja Católica quando o Rio de Janeiro surgiu em sua vida como vírgula.
Severino ao lado da escritora Conceição Evaristo. Arquivo Pessoal
Veio para o Rio em 1984 para passar um ano, através de uma pastoral da igreja, e com intenção de aprofundar sua escrita. A história tomou rumo um pouco diferente e Severino foi ficando, ficando, ficando e outros versos foram sendo escritos.
“Comecei a atuar na Pastoral do Operário, Paróquia São Francisco de Paula, na Barra da Tijuca, fui trabalhar na construção civil. Escrevia cartas para meus colegas de trabalho que não eram alfabetizados para que eles pudessem conversar com suas famílias. Dessas cartas, embora fossem mensagens pessoais, surgiam muitos textos poéticos“, conta Severino.
Como disse, Severino sempre escreveu. Os cordéis surgiram na sequência, nas rimas da vida. Ele também assina prosa, outros textos.
Em 1987, ainda funcionário da construção civil, organizou sua primeira oficina de cultura nordestina. Dois anos depois, participou de uma coletânea de novos autores de poesia.
Arquivo pessoal
Nos anos 1990, criou um sarau para textos relacionados à cultura nordestina. Já em 2008, fez um curso de produção cultural na Universidade Federal Fluminense (UFF) e passou a usar a literatura de cordel em todas as suas ações em escolas públicas e particulares, igrejas, locais de trabalho. Formou uma parceria com a Secretaria de Cultura.
Ele tem mais de 100 cordéis publicados, entre eles está o maior folheto de cordel do mundo. “Não é o que tem mais quantidade de versos, mas é o com o formato de 30×45, com 12 páginas, o que o torna fisicamente grande em ralação ao padrão“, explicou o autor.
Foto com o maior folheto de cordel do mundo. Arquivo pessoal
Sobre a aceitação da literatura de cordel no Rio de Janeiro, Severino sentencia “se tiver uma palavra além de excelente é a que eu aplico. Os cordéis têm muito futuro em todo o Brasil”.
Pesquisador e um dos diretores da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), Severino segue com suas ações culturais em escolas, ruas, campos, construções. Promove oficinas e clube de leitura na Biblioteca Parque.
“Sempre escrevi. Escrevo todos os dias“, disse Severino. Escreve mesmo. Cordéis, outros textos e capítulos da vida, essa história da qual somos autores e personagens o tempo todo. Em verso e prosa.