O arquiteto Arturo Isola sempre gostou de beber bem. Especialmente o gin, destilado de origem holandesa que ganhou fama no Reino Unido. Mas no Brasil, de tradição cachaceira, a oferta de gin sempre foi irrisória. Por isso, ainda em 2014, Isola reuniu alguns chegados e criou uma confraria – um clube de amigos que, na volta de viagens ao exterior, trariam rótulos para o grupo experimentar. A entrevista foi publicada no site da revista Exame.
“Depois de um tempo, nos demos conta que muitos países sem tradição de gin conseguiam produzir coisas muito boas. Se todo mundo faz o seu próprio gin, porque o Brasil também não pode ir além da cachaça?“, relembra o arquiteto, que então decidiu criar um pequeno brew de coquetelaria na sua própria casa. Em pouco tempo, o processo de destilação estava dominado. Mas faltava a receita.
Para encontrar a alma do seu gin, Isola e o artista plástico Alexandre Mazza, também confrade, convidaram o mixologista argentino Tato Giovannoni e embarcaram numa viagem à amazônia para explorar a botânica local. Se houvesse um gin, a paixão estética de Mazza gritava que também deveria haver uma roupagem à altura – o que levou ao desenvolvimento da garrafa que até hoje envolve o que veio a se tornar o Amázzoni.
Curioso para entender se a destilação caseira feita em um alambique elétrico de 5 litros daria certo em escala, Arturo encontrou no Vale do Paraíba, no interior do estado do Rio de Janeiro, onde mora, um alambique parado há mais de 30 anos. “Era uma relíquia de família, em uma fazenda de 300 anos, que abriram para a gente usar. Ali, realmente, brilhou o olho, e o projeto para os amigos se tornou um projeto de vida.”
Com a receita do seu gin e muita vontade, Isola visitou Minas Gerais para entender o segredo dos melhores alambiques de cachaça. Investiu dinheiro e um bom punhado de horas no projeto de reforma do alambique centenário e, seis meses depois, estava pronto o que, segundo ele, foi o primeiro alambique de gin do Brasil, com capacidade para produzir 250 garrafas por dia.
Em março de 2017, chegava ao mercado o Amázzoni Gin. As 50 mil garrafas produzidas no primeiro ano venderam como água e, no ano seguinte, a marca foi reconhecida como Produtora Artesanal do Ano pelo World Gin Awards, em Londres. O prêmio funcionou como uma injeção de confiança para que os confrades vislumbrassem o futuro promissor que tinham pela frente.
Depois de três ciclos de reforma, em 2019 os agora sócios decidiram estruturar a destilaria para o futuro, aumentando a capacidade para 15 mil garrafas por dia. E o reconhecimento, de novo, veio rápido: em março, o Amázzoni ganhou mais um troféu do World Gin Awards, desta vez o de Destilaria do Ano.
O produto certo na hora certa
Segundo a International Wine and Spirits Research (IWSR), consultoria de consumo de bebidas alcoólicas, só de 2016 para 2017, o consumo de gin cresceu 111% no Brasil. Ou seja: ao fazer a aposta no gin lá atrás, os confrades surfaram na crista da onda da bebida no Brasil. Desde a chegada deles ao mercado, o país ganhou mais de 300 novas marcas (metade delas, nacionais). Hoje, além do Brasil, o Amázzoni é importado para mais de 10 países, incluindo Itália, Portugal, França e Estados Unidos, que devem ser o grande palco do Amázzoni fora do Brasil, por ter se mostrado um mercado promissor mesmo em meio à pandemia. Mas o segredo, mesmo, está dentro de casa.
“Por ser uma brincadeira de amigos, um hobby mesmo, nós fomos em um nível de detalhe, de excelência que… se tivéssemos planilhado tudo isso, feito um bussiness plan antes de começar, não teríamos começado. Porque excelência custa, e nós puxamos o sarrafo lá em cima, porque quando você faz algo para você, não quer nada além da perfeição“, lembra Isola, que credita o sucesso do Amázzoni também à construção de uma marca consistente fora dos territórios já dominados pelos concorrentes importados.
“Um pouco da nossa inovação vem também porque transitamos nos circuitos da arte, da moda. Inserimos o Amázzoni em vernissages, desfiles, pequenos eventos ligados à música… Complicamos muito a vida para fazer um produto diferente e isso se desenrolou também no marketing“, explica o empresário, que pretende continuar crescendo sem abandonar as raízes que moldaram a marca, como a produção 100% artesanal, a sustentabilidade e o primor pela qualidade. “Fazemos isso porque é o que a gente gosta.”
Meus parabéns… Pouco planejamento e muito esforço, motivado pelo sonho de quem gosta do que faz.
Realmente, se pensar muito, principalmente no Brasil da balbúrdia fiscal e trabalhista, ninguém faz nada.
Desta terra do Vale do Paraíba, já saiu muita gente especial e muita coisa boa para o país…
Sucesso.