Nesta quinta-feira (28/11), o Ibama determinou que as girafas que foram importadas pelo Bioparque do Rio em 2021, sejam repatriadas para países africanos, como Angola e África do Sul, santuários de proteção aninal ou zoológicos.
O DIÁRIO DO RIO acompanhou esse caso de perto, com reportagens. Ambientalistas e a Polícia Federal chamaram a situação de “maior tráfico de animais da história do Brasil”.
De acordo com Gracicleide dos Santos Braga, coordenadora geral de fauna do Ibama, estão sendo avaliadas as possibilidades e o zoológico de Curitiba e a Associação de Zoológicos do Brasil já manifestaram interesse em ficar com os animais.
“Esse processo de destinação esperamos finalizar até primeiro semestre do ano que vem considerando que tem que fazer avaliação saúde e bem-estar dos animais pra poder colocar eles aptos pra transporte e efetuar destinação”, afirmou a coordenadora.
Ativistas da causa animal fazem alerta
Pofessor e defensor dos animais, Marcio Augelli foi uma das pessoas mais atuantes no caso envolvendo essas girafas. Ele alerta em relação ao local para onde elas serão levadas.
“Conversei com biólogos e eles me informaram que se esses animais forem para um santuário, eles podem passar por uma quarentena. Esse seria um bom futuro para elas, mas vem a questão: quanto vai custar isso? Se forem levadas de volta para a África do Sul, as girafas podem ser sacrificadas no aeroporto, porque podem estar levando doenças para lá. Essas girafas ficaram numa área que tinha boi. Pode ter acontecido alguma contaminação. E outra, já não são mais filhotes, estão enormes. Transportar animais desse porte é muito difícil. Deveriam ter resolvido isso muito antes. Agora, a situação se complicou bastante”, disse Márcio.
Entenda o caso
No dia 11 deste mês de novembro completaram-se três anos que 18 girafas foram trazidas da África do Sul para o Brasil. Desde então, elas estão no Portobello Resort & Safari, em Mangaratiba (RJ). Inicialmente, foi informado que os animais ficariam no local para uma quarentena de 15 dias e depois seriam transferidos para o BioParque do Rio de Janeiro. Nesse tempo, em dezembro de 2021, três dessas girafas morreram em uma tentativa de fuga. Uma quarta também morreu, um ano depois, e a necropsia acusou grande quantidade de areia no estômago.
Polêmicas
As polêmicas começaram já com a chegada dos animais ao Brasil. O processo de importação foi autorizado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, o Ibama, todavia, o laudo inicial, feito por técnicos em janeiro de 2022, diz que os espaços que abrigam as girafas no Portobello Resort & Safari, em Mangaratiba, estariam fora dos padrões mínimos de conforto.
Há outra questão no processo da chegada das girafas ao Brasil que também gerou mobilização entre biólogos e pessoas preocupadas com o bem-estar animal. O relatório inicial trazia a letra W (de wild, selvagem em inglês) ao se referir aos animais. Isso quer dizer que foram capturados na natureza. O artigo 18 de uma portaria do Ibama impede que animais retirados da vida selvagem sejam comercializados.Esse relatório foi questionado e o documento encaminhado ao Ministério Público. Fiscais do Ibama autuaram o BioParque por maus tratos. A Polícia Federal (PF) fez uma operação no Resort. Dois funcionários foram detidos e soltos no mesmo dia.
Roberto Cabral, um dos fiscais do Ibama e autor do laudo que acusa o Grupo Cataratas de maus tratos, foi afastado do cargo por alguns meses e só depois realocado às suas antigas funções. Ele afirmou à reportagem que prefere não falar sobre.Esse debatido relatório foi refeito, terminando favorável a todo o processo de importação das girafas vindas da África do Sul. À época, o Ibama informou que, após notificação, os recintos foram adequados conforme a legislação e que o Instituto segue acompanhando a adaptação dos animais, por meio de vistorias frequentes.
Na Justiça
Em janeiro de 2022, um dia após a operação da Polícia Federal, a juíza Neusa Regina Larsen de Alvarega Leite, da 7ª Vara de Fazenda Pública do Rio, concedeu liminar para remoção das girafas do Portobello Resort & Safari no prazo máximo de 48 horas, com multa diária de R$ 5 mil para o BioParque em caso de descumprimento. No entanto, o caso foi transferido para a Justiça de Mangaratiba, que se negou a aceitá-lo. Com isso, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro ficou de decidir quem será o responsável pelo assunto. As testemunhas já foram ouvidas. A sentença ainda não saiu.
Após a operação da PF em 2022, foram indiciados um servidor do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), um do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), além de um biólogo e um administrador do Portobello Resort.
O que diz o BioParque/Grupo Cataratas
O BioParque do Rio reafirma seu compromisso com o bem-estar das girafas, que vivem em um ambiente totalmente adequado e recebem acompanhamento diário de veterinários e tratadores. A empresa segue rigorosamente as recomendações dos órgãos reguladores, desde a importação dos animais.
O desenvolvimento dos animais é acompanhado pelas autoridades competentes e indica que os animais estão em boas condições. A definição sobre os próximos passos cabe ao IBAMA, enquanto o BioParque continua a primar pelo bem-estar das girafas.
O que diz o Inea
O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) informa que vistoriou e concluiu as avaliações necessárias na chegada dos animais do Rio e que o cuidado é de responsabilidade do Ibama, órgão que pode indicar a atual situação das girafas.
O Inea esclarece ainda que realiza vistorias frequentes no Hotel Portobello. No entanto, as visitas não incluem a área dos recintos das girafas, por estarem em um setor ligado ao BioParque, local vistoriado e acompanhado pelo Ibama.
O Portobello Resort & Safari também foi procurado pelo DIÁRIO DO RIO, mas não respondeu os contatos. A reportagem tentou falar com a Fundação Jardim Zoológico da Cidade do Rio de Janeiro (RIOZOO), no entanto, não conseguiu.