Jackson Vasconcelos: Uma campanha ruim

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre a imagem dos políticos e as estratégias adotadas ao longo de seus mandatos

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Marcelo Crivella - Foto: Reprodução/Internet

Durante a semana, Marcelo Crivella foi entrevistado pelo canal True Podcast. Ele chegou às lágrimas quando comentou a prisão dele nos dias finais de governo na Prefeitura do Rio de Janeiro e lembrou o falecimento da mãe no meio daquilo tudo. Eu assisti e ouvi o Crivella com muita tristeza.

Quando estive mais próximo dele, vi nele uma pessoa bem intencionada, de boa índole e obstinada a ponto de ser um teimoso. Um homem honrado! Um teimoso que não conseguia dizer não às pessoas, embora, na prática, o sim dele, nemsempre se convertesse em uma ação efetiva.

Contudo, eu entendo que nenhuma das decisões que ele tomou durante o tempo em que foi Prefeito, teimosas ou não, justificaram o tratamento que ele recebeu do sistema Globo de TV, jornal e rádio e dos adversários, uma situação que, pela imagem negativa que se criou dele e do governo, autorizou os dissabores que ele enfrentou.

O que houve com Crivella aconteceu com outros políticos ao longo da história e recentemente, com mais velocidade, numa avalanche de condenações em razão da imagem negativa, bem mais do que de delitos, de fato, cometidos por eles. Essa questão me acompanha há tempos: o exercício da função pública é atividade de elevado risco no Brasil, porque quem a exerce já se inicia nela com a pecha de desonesto.

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Lamentável é que a imagem que condena os políticos tem sido produto, muitas vezes, do embate entre eles mesmos, quando ninguém deveria, melhor do que eles, entender isso e, ao entender, evitar a estratégia sórdida de destruição da imagem de uns pelos outros a ponto de autorizar que venham de outros segmentos, medidas como as cometidas contra Crivella.

Marcelo Crivella deve ter aprendido isso. Ele, certamente, orientado por alguém, usou como argumento de campanha nos debates, a intimidação do adversário com o alerta de prisão. Exaustivamente, Crivella avisou que o adversário seria preso, assim que assumisse o governo. Declaração infeliz, que não condizia com o espírito pacificador que Crivella tinha na imagem.

Muita gente desejou que, por essa atitude do Crivella, Eduardo Paes comemorasse a prisão dele. Eduardo não fez isso e desautorizou os aliados, que quisessem fazer. O principal aliado, o deputado federal Pedro Paulo declarou na época: ”Político experiente não celebra a prisão de outro, mesmo que sejam inimigos vicerais”. Verdade!

As acusações mútuas em campanha autorizaram que os justiceiros de plantão, caso do Sérgio Moro, entendessem como crime as práticas normais de campanha e jogassem num mesmo balaio, criminosos presentes na política e políticos de verdade. Uma situação que o STF resolveu, quando encaminhou para a Justiça Eleitoral, as denúncias originadas nas campanhas.

Estamos, novamente, em campanha e do mesmo jeito que me incomodou o discurso do Crivella contra Eduardo Paes e pelo mesmo motivo, fico irritado com o discurso de moralidade que faz o candidato Paulo Ganime, quando sai a dizer aos quatro ventos que ele é a melhor opção para romper o ciclo de seis governadores presos por corrupção.

Ora, os seis ex-governadores aos quais ele se refere foram eleitos pelos mesmos eleitores que ele tenta cativar agora e, certamente, confrontados com os iguais argumentos de combate à corrupção, que ele utiliza.

Ou seja, ele, sem a menor habilidade, diz para os eleitores do estado do Rio de Janeiro, que espera que eles confiem nele como confiaram nos demais, com a certeza de que ele fará diferente dos demais, como os demais prometeram que fariam. Por isso, a comunicação na política é arte para poucos artistas. Bem poucos!

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Formado em Ciências Econômicas na Universidade Católica de Brasília e Ciência Política na UNB, fez carreira com dezenas de cases de campanhas eleitorais majoritárias e proporcionais. É autor de, entre outros, “Que raios de eleição é essa”, Bíblia do marketing político.
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