Jakcson: Quem decide nacionalizar ou não é o eleitor

Jackson Vasconcelos destrincha a entrevista do governador e pré-candidato Cláudio Castro deu ao jornal O Globo

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Foto: Philippe Lim

Cláudio Castro está em O Globo na arrancada que o jornal deu às entrevistas com todos os candidatos a governador do estado – aqueles que conseguiram vencer a cláusula pétrea de uma campanha eleitoral, tendo um partido.

O editor da matéria deu como chamada a frase do governador: “Não quero nacionalizar a eleição do Rio“. Foi uma boa escolha, porque com isso, o jornal polemiza, já que Cláudio Castro tem passado a imagem de estar alinhado com o presidente Jair Bolsonaro.

O governador, no entanto, deixou claro que está alinhado com todos e com nenhum deles, porque a pauta principal é o estado. Desse jeito, ele adota uma antiga prática da comunicação política: usar as palavras para esconder o pensamento. Na verdade, Cláudio Castro quer estar no muro que sempre pertenceu ao PSDB.

O governador não quer assumir uma posição na relação da campanha dele com os candidatos à presidência, porque quer os eleitores de todos eles e acredita que desse modo poderá alcançá-los. Quando ele faz referência ao Lula, busca trazer para o ambiente dele os eleitores que, potencialmente, acompanhariam Lula no apoio ao adversário Marcelo Freixo. Quando cita Ciro Gomes, ele quer os eleitores do PDT e quer Eduardo Paes. Uma decisão pragmática, como ele mesmo diz na entrevista. Resta saber o que os citados acham disso e que uso farão.

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No entanto, em seguida, Cláudio Castro, quando colocado diante de uma questão simples, os apoios políticos, ele mostrou onde é que a pancada nele dói mais e bateu durou nos adversários diretos, para dizer que na campanha do Freixo estão os saqueadores da Petrobrás e lembrar que o candidato Rodrigo Neves esteve preso.  Pautas vencidas, que só produzem polêmica e resultado eleitoral nenhum.

Depois, Cláudio Castro foi arrogante, ao dizer que Wilson Witzel teria caído antes se ele tivesse assumido a posição de defenestrá-lo do poder. E, reafirma a personalidade ao destacar que as alianças que fez para governar não será a aliança que, reeleito, fará, porque pesará em novos nomes a partir de uma reavaliação. Postura pragmática demais para os eleitores.

Mas, a política mudou o suficiente para sugerir ao governador e, principalmente, a seus adversários, que essa prática cria mais ameaças bem mais do que representa uma oportunidade no campo da comunicação estratégica.

É evidente que o eleitor, na hora do voto, levará em conta a opção nacional. O eleitor é quem decide nacionalizar ou não a eleição em todos os lugares e o grau de polarização da campanha presidencial indica que na base, os eleitores escolherão tendo o candidato à presidência como referência. Inclusive no que diz respeito aos candidatos proporcionais e ao senado.

Em seguida, Cláudio Castro entrou num campo no qual ele não deveria se aventurar: o enquadramento ideológico dele. Ele se diz liberal por ter privatizado a CEDAE e se diz de centro-direita, porque distribui café da manhã para os pobres e vai mais longe – corajosamente ou irresponsavelmente – vai mais longe para definir as políticas ambientais como temas associados à esquerda. Uma salada que mistura legumes, frutas, coco, carne linguiça e chiclete.

Foi uma entrevista longa onde o tema principal foi pouco abordado por quem tem, com exclusividade, a obrigação constitucional de cuidar da segurança pública. O entrevistador isolou o tema no episódio do Jacarezinho e Cláudio Castro aceitou a pauta.

Cláudio Castro trouxe à tona o espírito demolidor do Witzel, mesmo tendo sido alertado pelo entrevistador: “O meu governo não celebra a morte de ninguém, mas, quanto ao Jacarezinho, só havia um inocente: era o policial que acabou morto, deixando viúva e filho“. 

Enfim, tudo dentro do esperado. As palavras ditas com os cuidados adquiridos, certamente, em tensas reuniões de treinamento.

O diabo é que campanha tem adversários e quando os candidatos não estão atentos para isso, o debate pode desandar.

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Formado em Ciências Econômicas na Universidade Católica de Brasília e Ciência Política na UNB, fez carreira com dezenas de cases de campanhas eleitorais majoritárias e proporcionais. É autor de, entre outros, “Que raios de eleição é essa”, Bíblia do marketing político.
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