Jiu-jitsu como redenção: a história de Kleber ‘Buiú’, do Morro do Juramento à própria academia no Parque Olímpico

De aluno passou a professor sênior da sede da Gracie Barra e, anos depois, fundou sua própria unidade da equipe no Parque Olímpico, na Zona Oeste do Rio

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Kleber de Oliveira Paulino, mais conhecido como Kleber “Buiú”, nasceu no Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, e viveu parte da infância no Morro São José, em Madureira. Desde cedo, entendeu que viver em comunidade era também sobreviver às escolhas impostas pelas circunstâncias. “Se a gente quisesse conquistar algo — roupa, tênis, status — o caminho mais fácil era se envolver com o tráfico”, conta.

Ao ver muitos amigos seguirem por essa rota, optou por se afastar e buscar uma alternativa. Começou a frequentar mais a Barra da Tijuca, lugar onde mais tarde encontraria o rumo da própria vida. Sem estrutura familiar e com conflitos em casa, principalmente com o padrasto, saiu de casa ainda jovem e chegou a morar na rua. Vendeu doces no sinal, cuidou de carros durante a madrugada e dormia em qualquer canto disponível.

Aos dez anos, já havia tido contato com a capoeira e o taekwondo, mas foi no jiu-jitsu que encontrou o que chama de propósito. “O jiu-jitsu tem algo diferente. Não é só o esporte em si, é a energia, o contato com as pessoas, a forma como você sente quem tá ali contigo.”

Apresentado à arte suave pelo amigo Alexandre “Soca”, foi levado até a Gracie Barra, onde conheceu seu primeiro professor, Pitico, e logo se sentiu acolhido. O convívio com a equipe foi se intensificando, até que acabou próximo da própria família Gracie. Em uma das visitas à casa de Kairon, filho de Carlos Gracie Jr., dormiu na garagem depois de uma madrugada trabalhando. Quando questionado pela mãe do amigo se não voltaria para casa, respondeu que não tinha casa. “Expliquei que sair de casa foi uma escolha difícil, mas necessária. Eu tava tentando, do meu jeito, mudar de vida.”

Na academia, o talento de Buiú apareceu rapidamente. Medalhas nas categorias de base, destaque nas competições e a confiança de seus professores o colocaram como instrutor ainda faixa-azul. Foi recebendo todas as faixas pelas mãos de Carlos Gracie Jr., até chegar à faixa-preta, em 2008.

Como faixa-preta, Kleber “Buiú” foi campeão sem kimono da IBJJF em 2012, campeão Pan-Americano sem kimono em 2010, bicampeão brasileiro sem kimono da CBJJ em 2010 e 2011, vice-campeão no Brasileiro sem kimono da CBJJ em 2017 e no Internacional Aberto da IBJJF Rio em 2010. Também conquistou o 3º lugar no Campeonato Mundial sem kimono da IBJJF e no Aberto Europeu da IBJJF, ambos em 2010.

De aluno passou a professor sênior da sede da Gracie Barra e, anos depois, fundou sua própria unidade da equipe no Parque Olímpico, na Zona Oeste do Rio. A trajetória foi marcada por superações, e cada conquista veio com suor, disciplina e um desejo constante de fazer diferente. “O dinheiro, pra mim, sempre foi consequência. Eu queria mais, queria viver diferente.”

A primeira vez que viu o mar, na Barra, foi um marco. Sentiu que aquele lugar representava a liberdade que sempre buscou. Começou a criar raízes, a ser reconhecido, e decidiu não voltar mais para a realidade da qual tinha fugido. O jiu-jitsu não só o tirou das ruas como também o conduziu por um caminho de propósito, onde hoje transforma a vida de outros jovens com histórias parecidas. “Cada passo que dei longe do que era cômodo me trouxe pra mais perto do que é verdadeiro. Escolhi viver, lutar, construir.”

Hoje, Buiú lidera a Gracie Barra do Parque Olímpico e segue transmitindo os valores que aprendeu no tatame. A mesma arte que o resgatou é agora o elo que o conecta a centenas de alunos em busca de disciplina, pertencimento e mudança. Assim como ele, milhares de brasileiros encontram no jiu-jitsu não apenas um esporte ou uma defesa pessoal, mas uma saída real, concreta e possível.

Além do trabalho na academia, Buiú também ministra aulas e seminários de defesa pessoal voltados a profissionais de segurança pública, como policiais militares e civis. Essa frente de atuação tem ganhado destaque por unir técnica, controle emocional e disciplina em um contexto de alta exigência. Por meio do jiu-jitsu, ele contribui para formar agentes mais preparados física e psicologicamente para os desafios das ruas, o que reforça o papel social da arte suave na proteção da sociedade.

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