Joãozinho da Goméia será o enredo da Grande Rio em 2020

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Desde do Carnaval 2007, quando a Acadêmicos do Grande Rio apresentou o enredo “Caxias, o Caminho do Progresso, o Retrato do Brasil” e ficou em sua melhor colocação da história, um segundo lugar, a comunidade de Duque de Caxias não recebia tão bem o anúncio de um enredo para o Carnaval.

No dia de 20/06, justamente no dia que os descendentes da Goméia comemoram o dia de Mutakalambo, dia de festa na Goméia, dia do Nkisi de Tatá Londirá (Joãosinho da Goméia), a tricolor da Baixada apresentou através de sua redes sociais que “Tata Londirá: o Canto do Caboclo no Quilombo de Caxias” será o enredo para 2020. Trata-se uma homenagem a história de João Alves de Torres Filho, nascido em Inhambupe, interior da Bahia, em 1914 – mais tarde batizado Joãozinho da Goméia.

Homossexual assumido, o negro de personalidade forte fez sua despedida de Salvador em alto estilo, em 1948, quando apresentou ao público no Teatro Jandaia um espetáculo com danças típicas do candomblé – um escândalo para a época.

Já no Rio de Janeiro, instalado na Rua da Goméia – endereço incorporado ao nome -, recebia em seu terreiro políticos, embaixadores, artistas, aguçando a curiosidade da imprensa, que noticiava cada vez mais as excentricidades do pai de santo. Getúlio Vargas e Ângela Maria, a Rainha do Rádio, eram frequentemente vistos por lá. Sua figura foi, inclusive, inspiração para o humorista Chico Anysio criar o personagem “Painho”, um marco na carreira de Chico.

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Foi em 3 de abril de 1971 que a revista “Manchete” noticiou: “Quando seu corpo chegou à sepultura, no cemitério de Caxias, Estado do Rio, um raio cortou o espaço, e desabou toda a água dos céus, ensopando as três mil pessoas que erguiam os braços e gritavam: Epa Hey, Iansã!”. A narração caprichada descrevia o enterro de João Alves Torres Filho, o pai de santo Joãozinho da Gomeia. Apelidado à época pela imprensa de “rei negro”, “o maior babalorixá do Brasil” e até “Papa do candomblé”, ele morreu em 19 de março daquele ano vítima de um tumor no cérebro e problemas cardíacos. O relato sobre a cerimônia fúnebre pode conter excessos, mas não inverdades.


Não é fantasia, é fato. Era uma tarde muito quente de verão e, quando desceram o caixão, o tempo fechou. Começou uma chuva intensa, com trovoadas. Uma manifestação de Iansã recebendo seu filho. O sepultamento grandioso condiz com a trajetória de Joãozinho da Gomeia.

O pai de santo fez história no candomblé ao colocar a religião em páginas de jornais e revistas. É impossível falar em candomblé do Brasil sem falar do Joãozinho, ele foi essencial para mostrar o candomblé não só como algo exótico, como um culto primitivo, mas sim como uma religião que tinha uma estrutura própria.

Agora, a Grande Rio se prepara para juntar surdos e tamborins a atabaques e agogôs para homenagear o Rei do Candomblé, uma das figuras mais emblemáticas da Baixada Fluminense.

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Os carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad, responsáveis pelo desfile da Grande Rio, vão distribuir a sinopse do enredo para os compositores da escola, na próxima quinta-feira (27), às 20h. O encontro será na quadra da agremiação, em Duque de Caxias, quando será apresentado o modelo de disputa de samba-enredo para o próximo carnaval.

Em tempos de profunda intolerância religiosa, ameaças e perseguição as casas de santos no Rio de Janeiro e no Brasil, é a escolha mais acertada! Nona colocada no Grupo Especial de 2019, a Grande Rio tem tudo para trazer a comunidade de Caxias para dentro da escola. Um enredo com um nome de dentro, pode ser construído com as pessoas de dentro.

Exemplo é o ator Átila Bezerra. Ele incorpora Joãozinho na peça Joãozinho da Goméia – De filho do tempo a Rei do Candomblé. É um monólogo, que conta a vida do babalorixá, discutindo racismo, homofobia e intolerância religiosa. Será que a Grande Rio vai chamar esse brilhante ator que mora aqui na Baixada ou importará um global? Esperamos, que seja a primeira opção! Quanto a peça, está em curta temporada, no Goméia Galpão Criativo (R. Lauro Neiva – 25 de agosto – D. Caxias).

Além disso, grupo de pesquisadores, historiadores, movimentos culturais, artísticos, que trabalham com memória da cidade, pais, mães, filhos de santo de Joãozinho e antigos frequentadores do seu terreiro no bairro Jacatirão, podem e devem ser chamados para colaborar no desenvolvimento desse histórico enredo.

Por fim, é a proporção que o Carnaval dará a história de Joãozinho e sua resistência. Tudo que passará na Passarela Professor Darcy Ribeiro em 2020, aconteceu em um terreiro que encontra-se abandonado pelo poder público. Em 2015, a UFRJ junto com a Prefeitura, realizou escavações arqueológicas que localizou louças e objetos para comporem a promessa de um possível Centro Cultural. Quem sabe não é a hora?

Que a Grande Rio seja ousada e destemida como ele foi na religião e vida. Joãozinho, era filho de Oyá com Oxóssi e um ariano desbravador. Axé Grande Rio!

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Cidadão Baixada. Filho, neto e bisneto de pernambucanos é caxiense, portelense, tricolor, professor de História e Jornalista. É pesquisador na área da pessoa com deficiência, voluntário do Lions Clube Xérem e no Pré-Vestibular Comunitário da Educafro.
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4 COMENTÁRIOS

  1. Sou da cidade de inhambupe. A cidade do homenageado. Também conhecida como a terra do lobisomem. Depois da reportagem do fantástico. Fico honrado por essa homenagem. Axé a todos.

  2. PARABÉNS POR ESSA HONRROSA HOMENAGEM E DEVIDAMENTE MERECIDA,ESSE TAT’ETU LONDIRA FOI EM VIDA E HOJE COMO NOSSO ANCESTRAL E DE PURA ENERFIA8DE NGUNZOS…MOKOIU!

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