Juliana Benicio: Essa historia poderia ser sua

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre os ânimos exaltados quando o assunto é a disputa eleitoral

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Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL)

Nesta última quarta-feira fui ao dentista, um amigo meu de longa data. Como temos intimidade, enquanto estou no tratamento, ele desanda a falar e contar histórias da sua vida. A última dele vale a pena ser recontada, preservando, obviamente, as identidades dos envolvidos. Mas eu garanto que ela é 100% real.

Bem, o causo começa quando a sobrinha do meu dentista, Beta, fanática por Lula, compartilha em seu Facebook o link da revista “Isto É” denunciando o vazamento da do áudio do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro onde ele admite priorizar solicitações de verbas feitas por prefeitos indicados pelos pastores. Ela postou o caso com o seguinte comentário: 

– Quem não vota em Lula, quer isso para o Brasil.

A postagem tinha pouquíssimo engajamento, mas seu tio Carlos, casado com a irmã da esposa do meu dentista, fanático por Bolsonaro, fez questão de comentar: 

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– Quero isso para o Brasil mesmo, pois eu não acredito nessas revistas compradas. Quem vota em presidiário é comunista e deveria estar morando em Cuba.” E ainda emendou uma hashtag #fechadocombolsonaro2022. 

Pronto! A faísca foi lançada. Toda família se colocou em alerta e a postos para acompanhar o desenrolar da conversa. Isso porque conhecem o gênio de Beta, e sabem que ela não leva desaforo para casa.  Em menos de 2 minutos Beta respondeu:

– E quem se informa em grupo de whats app é um boçal que deveria estar morando manicômio.

Meu dentista, quando viu a panela esquentando, ligou para Beta, pediu para ela relevar e que considerasse o fato do seu tio ter 70 anos. Implorou para que ela não revidasse mais. Beta, intransigente, argumentou que não podia se calar, já que o Brasil estava sendo tomado por radicais e que essa massa iria sustentar a implantação de uma ditadura. Antes de desligar, meu dentista ainda pediu para Beta que ela refletisse se ela não estaria sendo radical também ao construir um cenário hipotético arquitetado pela perspectiva da sua bolha. Quando desligaram o telefone, outro comentário de Carlos já tinha sido postado no Facebook de Beta, e dizia:

– Prefiro acreditar nas informações de whatsapp, do que de uma menina mimada que com 25 anos ainda vive sustentada pelos pais.


Beta, ao ler o comentário revida no mesmo tom.

– E você? Que vive sustentado por mulher, seu velho inútil.

Ai ai ai ai ai…. Fedeu. 


Carlos pegou o carro e foi até a casa de Beta. Começou a berrar no portão, chamando o pai de Beta para briga. Ou seja, o pai da Beta agora foi envolvido na história pelo simples fato de ter o progenitor da menina.

 
O pai de Beta desceu com a expectativa de acalmar Carlos. Mas Carlos sentia sua honra profundamente ofendida por Beta e não pensou duas vezes, lançou um soco na cara do desafortunado. 

Toda vizinhança saiu para rua para ver o acontecido e separou a briga. Depois desse dia fatídico o conflito de desenrolou. O Carlos processou a Beta por calúnia e difamação e o pai da Beta processou Carlos por lesão corporal. Lula e Bolsonaro estão bem. Continuam suas campanhas inflamando suas militâncias a enxergarem os opositores como inimigos. Do outro lado, a família de Carlos e Beta está destroçada. O post fatídico que desenrolou toda agressão foi tirado de ar, mas as cicatrizes serão eternas. 

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Mãe de 4 filhos: Neto, Hugo, Ana Júlia e Augusto. Política niteroiense, escritora do livro "Política e a Vida Real". Doutora em Engenharia de Produção, Mestre em Economia, Coordenadora de Propriedade Intelectual e Transferencia de Tecnologia do IFRJ e Avaliadora de Ensino Superior no INEP/MEC
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3 COMENTÁRIOS

  1. A polarização coloca um filtro miope sobre os problemas brasileiros. Os desafios reais não passam pela rotulação direita/esquerda.

    Lacunas de representação, patrimônio público, desenvolvimento, História e cultura, enfim, todos esses pontos ficariam melhor compreendidos sem a veia dura da ideologia.

    Aliás, as ideologias possuem uma finalidade distinta: dividir pessoas e promover a “res propria”. Cada qual em sua bancada. Em seu nicho…trancados em seus interesses.

    E a política é, ao contrário, a arte do outro.

    • Vixi… eu ouvi o grilo fazendo “cricricri” na mente da psedojornalista, onde dá esse exemplo ridículo, tentando falar que os políticos estão “tranquilos”, mas se esqueceu de lembrar das “manifestações democráticas” da esquerda… quebra quebra, ameaças e etc…

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