Justiceira do Capivari

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Dona Ildacilde do Prado Lameu, nasceu em Minas Gerais. Falava pouco da infância e dos pais biológicos, era filha adotiva. Sua família veio para o Rio de Janeiro na década de 1950. Os pais residiram em Copacabana e compraram uma Chácara no bairro Capivari em Duque de Caxias. Ilda passou a residir após o falecimento dos pais em 1968, definitivamente no bairro.

Na década de 1970, já atuava na busca por melhoria da região. Certa vez ou outra aparecia um corpo, fruto de uma desova de grupos de extermínio. Em um dos casos, um corpo foi abandonado nas proximidades da casa de uma de suas vizinhas. Dona Ilda chamou a polícia e não foi atendida, “enrolou o corpo” em um lençol e o “jogou” na porta da Prefeitura. Após esse episódio, todos os chamados de Dona Ilda eram atendidos.

Nas décadas de 1980 e 1990, a violência cresceu no Rio de Janeiro e também chegou no calmo bairro do Capivari. As Justiceiras do Capivari surgem após o desaparecimento a caminho da escola de Priscila Silva, de 8 anos. Apesar dos apelos constantes da família para que a polícia procurasse pela criança, nada é feito. O pai de Priscila resolve então recorrer a Dona Ilda.

Fui procurar sozinha no mato… nos brejo… no caminho que ela passava pra vim aqui pra estudar… aí acabei achando ela morta no mato, já decompondo a menininha pequena, magrinha. Peguei a menina lá no meio do matagal e trouxe para a rua e aí chamei a polícia pra levar o corpo e chamei a imprensa toda.”

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Priscila foi violentada sexualmente e depois assassinada. Após esse acontecimento, mulheres lideradas por Dona Ilda, se reuniam munidas de paus, faca, facão, foice, machado para levar e buscar as filhas na escola, acompanhar mulheres nos pontos de ônibus e na ida e volta para casa. Quando acontecia algum crime, buscavam os autores da violência para “fazer justiça com as próprias mãos”. Dona Ilda, reunia as mulheres também para capinar ruas e roçar os matagais próximos ao colégio, acreditando que essas ações poderiam dificultar potenciais estupradores. 

As mulheres andavam armadas e mantinham os rostos cobertos por lenços: “se eu apareço normal na imprensa igual você tá me vendo, preta, um metro e sessenta, quem vai ligar? Agora armada com a foice e o facão e vestida de roupa diferente, dá ibope”. disse Dona Ilda.

Rapidamente os casos de estupros desapareceram da área e foram zerados os registros policiais. Ilda virou uma lenda, sempre vista pelas estradas, sozinha ou acompanhada pelas Justiceiras do Capivari que mobilizadas, ocuparam todos espaços e impressionaram a população num exemplo de cidadania e mobilização popular.

Nos primeiros anos de 2000, a situação de violência agravou-se na Baixada Fluminense. Devido sua atuação, foi assinada no quintal de casa, em março de 2005 com cinco tiros. Se houvessem políticas públicas de segurança, não seria necessário Dona Ilda liderar um grupo para promover a defesa das crianças e mulheres dos constantes casos de estupros da região.

Sua história é um ato heroico da mulher que de próprio punho, buscou fazer aquilo que o Estado se negou. Sua história representa, todas as mulheres que no dia-a-dia buscam seu reconhecimento, sua proteção e o devido respeito que merecem.
A história das Justiceiras é contada no texto de Linderval Augusto Monteiro, “As Justiceiras de Capivari: Dinamismo popular e cidadania em uma periferia fluminense”. Para quem se interessou, vale a leitura. 

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Cidadão Baixada. Filho, neto e bisneto de pernambucanos é caxiense, portelense, tricolor, professor de História e Jornalista. É pesquisador na área da pessoa com deficiência, voluntário do Lions Clube Xérem e no Pré-Vestibular Comunitário da Educafro.
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