Leila Marques: 1922, Cem Anos Depois

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre a Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil, ocorrida no Rio de Janeiro em 1922

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Por: Leila Marques

Não. Isso não é sobre a Semana de Arte Moderna de São Paulo. É sobre a Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil, ocorrida no Rio de Janeiro, em setembro do mesmo ano, que, apesar de muito menos comemorada, muito menos midiática nos dias atuais, foi um marco brasileiro em termos de evento internacional, e, diferentemente do evento de fevereiro em São Paulo, foi um sucesso de crítica, de público, de negócios, de arquitetura, de urbanismo, de brasilidade.

Como diz o próprio nome, a exposição foi criada, inicialmente, como um evento para um fortalecimento político-econômico da independência do Brasil com sua recente república proclamada há pouco mais de 30 anos. Seria de âmbito nacional, porém, durante os preparativos, a notícia acabou atraindo o interesse de vários outros países em participar e, em outubro de 1921, acabou se constituindo como uma exposição internacional, contando imediatamente com a confirmação de 14 nações estrangeiras. 

A localização da exposição foi outra ação de pioneirismo urbano no Rio de Janeiro, pois ocupou uma área que se tornou extensa, decorrente de aterramentos com materiais provenientes do desmonte do Morro do Castelo (o que sozinho já se constitui num evento de grande porte, que merece uma crônica exclusiva). Esta área foi nomeada como “Avenida das Nações”, e se estendia, no primeiro trecho, do (já demolido) Palácio Monroe, atual Praça Mahatma Gandhi, até a Ponta do Calabouço – antigo nome da região entre as praias de Piaçaba e Santa Luzia, onde foi construída no séc. XVII, a Fortaleza de Santiago, origem do conjunto arquitetônico que hoje abriga o Museu Histórico Nacional. O segundo trecho, para os expositores nacionais, ia da Ponta do Calabouço até o, também já demolido, Mercado Municipal da Praça XV, numa extensão total de 2500 m de exposição.

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Além de assistir às exposições, o público presenciou paradas militares, se divertiu em um parque de diversão montado para o evento, comia e bebia em locais que hoje chamaríamos de “praças de alimentação”, foi brindado com cânticos de louvor a Deus, celebrado na catedral Metropolitana (atual Igreja de Nossa Senhora do Carmo), e ainda com a ópera “O Guarani” transmitida do Teatro Municipal para a exposição, através de auto falantes. Grande parte disso tudo, incluindo o discurso do Presidente Epitácio Pessoa, pode ser ouvido de casa, com a primeira transmissão de rádio realizada oficialmente no Brasil.

Quando inaugurada, em 7 de setembro de 1922, a exposição recebeu, já na abertura, cerca de 200.000 pessoas que circularam ante os pavilhões de alguns países que traziam um pouco de sua arquitetura nacional, e da grande maioria de stands-monumentos criados em arquitetura neocolonial. Ao todo, mais de 6.000 expositores foram visitados por mais de 3 milhões de pessoas numa exposição que acabou permanecendo ativa até julho de 1923, e que tornou o Brasil reconhecido internacionalmente como um país bem receptivo, organizado, bonito e muito promissor.

Alguns pavilhões, de fato, teriam pouca utilização prática após a Exposição – embora não tenham sido concebidos como “arquitetura efêmera”, qual entendemos hoje em dia. Porém, mesmo os projetados em caráter permanente, como o pavilhão da Administração, das Grandes Indústrias, das Pequenas Indústrias, da Estatística e dos Estados Unidos, lamentavelmente, foram demolidos por motivos diversos, desde a passagem de novos arruamentos, até pela construção do Viaduto da Perimetral (hoje também já demolido).

Esse apagamento físico de memoráveis construções, junto ao objetivo maior da exposição de “fazer negócios” em vez de “expor arte”, e também por ela ter uma temática que remontava a um passado centenário e não a uma ode futurística, como se propunha a Semana de Arte Moderna, sejam os prováveis motivos dessa importante exposição, para o Rio de Janeiro e para o Brasil, acabar se tornando, injustamente, apenas coadjuvante na memória cultural dos eventos de 1922.

Para falar sobre isso, aprofundando em fatos históricos, arquitetônicos, trazendo curiosidades e outros dados, a UNIRIO apresenta a VI Semana de Arquitetura, Urbanismo e Turismo, (online), com convidados estudiosos da matéria, com apoio do Instituto Rio Antigo e transmissão ao vivo pelo canal Arquitetura em Movimento Debates.

Leila Marques é Arquiteta e Urbanista, pela Universidade Federal Fluminense, UFF, em 1985. Graduada em Licenciatura em Construção Civil pela Faculdade Bethencourt da Silva, 1987. Pós-graduação em Gestão Pública pela Faculdades Integradas de Jacarepaguá, FIJ. Mestra em Desenvolvimento sustentável e Doutoranda em Desenvolvimento Local, ambas pela Universidade Augusto Mota, UNISUAM. Servidora Pública Federal, desde 1984, cargo Arquiteta e Urbanista, função Chefe da Seção de Projetos do CEFET/RJ. Ex Diretora-Presidente da Associação dos Servidores do CEFET/RJ, de 2004 a 2012. Conselheira estadual do CAU RJ de 2018 a 2020 e em novo mandato de 2021 a 2023. Conselheira do Instituto Niemeyer de Políticas Urbanas, Científicas e Culturais. Autora e Organizadora do Livro “Coronavírus e as Cidades no Brasil: reflexões durante a pandemia”, Outras Letras, 2020. Organizadora do livro: “Cidades Vacinadas: ensaios urbanos e ambientais para um Brasil pós-pandemia”.

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