Por Leila Marques, Arquiteta e Urbanista, Doutoranda em Desenvolvimento Local, Servidora Pública Federal, Conselheira estadual do CAU RJ e Conselheira do Instituto Niemeyer de Políticas Urbanas, Científicas e Culturais.
Apesar da humanidade estar apta a ter consciência sobre os danos irreversíveis que o desenvolvimento predatório vem fazendo à “mãe natureza” desde os anos 70, quando, nesse dia 22 de abril, várias manifestações ecológicas ocorreram em várias cidades dos EUA, e a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, em Estocolmo, se reuniu em busca de discutir, divulgar e trazer soluções para nosso enfermo planeta, apenas quase quarenta anos depois, em 2009, o Dia Internacional da Terra, ou da Mãe-Terra, foi oficializado pela Assembleia Geral da ONU.
Evidentemente que o fato de se estipular uma “data” em prol de uma conscientização não é determinante nem conclusiva sobre a questão; mas a própria demora em criá-la corrobora com a realidade do quão lento o mundo, os governantes, as populações estão acolhendo essa questão vital (apesar do esforço das comunidades acadêmicas, de ativistas voluntários e de ações locais, sem os quais estaríamos em alguma situação ainda mais catastrófica).
20 anos após Estocolmo, foi a vez do Rio de Janeiro sediar a mesma Conferência da ONU, a Eco-92, ou Rio-92, que teve desdobramentos importantíssimos dos pontos de vista científico, diplomático, político, e é considerada até hoje como um grande sucesso. Foi a partir do principal documento do encontro, a Agenda 21, que se estabeleceram algumas políticas e ações de responsabilidade ambiental, e, principalmente, foi trazida por ela a preocupação direta em abordar os padrões de desenvolvimento que precisavam ser combatidos, como a pobreza e a dívida externa dos países em desenvolvimento. À conferência sediada na cidade do Rio de Janeiro coube o mérito de que a união entre meio ambiente e desenvolvimento realmente avançou, e os 178 chefes de governo assumiram o compromisso de juntar os componentes econômicos, ambientais e sociais ao debate, considerando-os como essenciais à agenda de todos os países. Hoje, o Rio de Janeiro integra os compromissos importantes assumidos em 1992 e renovados durante a Rio+20, em 2012, no seu Plano de Desenvolvimento Sustentável, ao qual precisamos monitorar e cobrar sua própria sustentabilidade.
Este ano temos eleições, presidencial, inclusive. O pensamento que reduz a natureza a apenas seu valor monetizável, tirando-lhe seu simples direito de sobreviver, tem sido um dos maiores pecados do Brasil, em todos os níveis de governo, até pela fartura de natureza a ser preservada. Embora saúde, emprego e renda, educação sejam as pautas principais dos candidatos (e não diminuo a importância dessas causas), a apresentação de uma proposta concreta e definitiva de uma preservação responsável, séria, inteligente, viável dos nossos recursos ambientais, incluindo políticas urbanas urgentes para as nossas cidades desequilibradas, áridas e vulneráveis, deve ser cobrada como agenda soberana sobre todas as outras.
Ou não viveremos o suficiente sequer para historiar a redução de “sustentabilidade” como a palavra que um dia foi moda.
Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.