Por: Leila Marques
A Tijuca é o bairro considerado a “zona sul da zona norte”, brincando com a ideia de que na zona sul carioca estariam as “classes” de melhor renda, logo, pessoas mais orgulhosas de seu endereço. Mas no quesito bairrismo, a Tijuca vai além, como muitos já sabem, sendo o único bairro a ter o seu próprio gentílico: Morador da Tijuca é TIJUCANO, e esse título sagrado é dado apenas para os que nascem e vivem muitos anos ali.
Com seu passado glorioso, moradia de nobres e até de nossos Imperadores, a Tijuca vivenciou mudanças urbanísticas marcantes e acabou se tornando cenário de muitas homenagens em forma de placas, fontes, efígies, bustos e estátuas de vários nomes da nossa história, e, só perde em número de tributos físicos, para os bairros do Centro, Gloria, Flamengo e Botafogo. Entretanto se juntarmos à Tijuca, o Alto da Boa Vista (que nem é tão separado assim) não perde para nenhum outro.
Monumentos como as estátuas do Prof. Oswaldo Diniz Magalhães, do cantor Tim Maia, da Fidelidade (cães em bronze), de Oswaldo Diniz Magalhães, de São Charbel Makhloufe bustos como do político Barlett George James, do Irmão Gonçalves Xavier, do Prof. Pinheiro Guimarães, do Pde. Elias Gorayeb, do Visconde do Bom Retiro, do Barão D’Escragnolle Dória, do Coronel Xavier de Brito, do (agora famosíssimo) Deputado Rubens de Paiva, além da efígie de Aldir Blanc, da máscara fúnebre de Lamartine Babo, entre outros artefatos de bronze, são alguns dos itens que fazem da Tijuca um portfólio de ótimas referências artísticas, mas também um mercado atraente para vândalos que atacam em vários pontos da cidade.
Dessa forma, o “Leão em pé”, estátua em mármore, e diversas fontes e bebedouros que eram caminhos de cavalos num passado não muito distante dos fazendeiros de café, no atual Alto da Boa Vista, estão se deteriorando ou sumindo por atitudes bárbaras. Até centenas de metros de grades usadas para proteger alguns monumentos são igualmente furtados. O busto do Dr. Delfino dos Santos na Pça Saenz Pena, por exemplo, segue ausente com uma placa da Prefeitura no seu lugar, informando que o monumento foi vandalizado, tendo sido furtado em 2020. Este ano de 2025, foi a vez do busto, da efígie e da placa identificadora do Educador Alfredo de Paula Freitas, na Praça Afonso Pena, “sumir” como magia do carnaval.
O trabalho de zelar pela integridade do Patrimônio público não pode depender da reposição de peças, pois são obras de arte e, como tal, devem ser únicas, de reprodução até desrespeitosa com o artista, em certos casos. O uso de gradis (que tiram totalente a função do monumento, bem como não garantem a distância necessária) não têm se mostrado como solução, e muito menos podemos contar com segurança policial para tantos itens.
Monumentos em praças públicas são mais que tributos a personalidades históricas. São a possibilidade de se entender mais e melhor a história, o modo de vida, as tradições, a arquitetura e os nomes importantes de uma nação, além de serem pontos de referência turística importantes, dando valor e respeito à sociedade. A Tijuca tem essa tradição e guarda no seio da sua floresta (da Tijuca), peças refinadas, nas quais muitas estão faltando “apenas” conservação e identificação.
Zelar por monumentos e chafarizes tem sido um desafio enorme das cidades brasileiras, significando o dever de pugnar pela educação e cultura da nossa sociedade (que em muitos casos evitariam ao menos os vandalismos fúteis), e por mecanismos de punição adequados e firmes. O monitoramento por câmaras não evita o furto, mas agregado ao programa de inteligência da polícia de reconhecimento facial, por exemplo, pode ser um caminho de diminuição desses incidentes.
Por outro lado, temos que reconhecer também, que estamos numa cidade, estado, país, onde as enormes diferenças sociais impedem que alguém, com dificuldades de sobrevivência, venha a dar qualquer tipo de valor à história ou à arte urbana e, por essas e outras, ainda vamos conviver muito tempo com esse tipo de calamidade.
Nesse cenário onde praça no Rio está sendo trocada por edifício, onde área verde é artigo de luxo e estátuas de bronze são objetos de desejo de criminosos, faço minha homenagem particular à minha Tijuca, aniversariante do dia 3 de março (fundada em 1850), e cujo traçado ainda mantém vivo a maior área verde urbana do Brasil (dizem que do mundo), uma dezena de praças e pracinhas, e incontáveis tributos em forma de monumentos que encantam e contam nossas histórias de resistência.
*Leila Marques é conselheira federal do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU/RJ) e do Climate Reality Leadership Corps.
Boa homenagem aos tijucanos este artigo da Leila Marques: “Tributos aos tributos tijucanos”, de 05/03/2025. Vivi mais de 45 anos neste bairro mas ainda não havia encontrado uma data de sua fundação. Fiquei então curioso em saber qual a fonte documental utilizada na pesquisa quanto ser 03 de março de 1850 a referida data da fundação do Bairro da Tijuca. Muito obrigado.
Boa homenagem aos tijucanos este artigo da Leila Marques: “Tributos aos tributos tijucanos”, de 05/03/2025. Vivi mais de 45 anos neste bairro mas ainda não havia encontrado uma data de sua fundação. Fiquei então curioso em saber qual a fonte documental utilizada na pesquisa quanto ser 03 de março de 1850 a referida data da fundação do Bairro da Tijuca. Muito obrigado.