Felipe Lucena: Mais de 80 disparos; muito mais que despreparo

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Neste domingo, 07/04, mais uma triste notícia no Rio de Janeiro. Triste é pouco. Algo inadmissível aconteceu. Um carro com uma família foi alvejado por mais de 80 disparos, feitos por militares do Exército. No veículo, que passava por Guadalupe, Zona Norte da Cidade, estavam Evaldo Rosa, sua esposa, seu filho de 7 anos, sua afilhada de 13 anos e seu sogro. Evaldo, segurança e músico morreu. O sogro foi ferido. Um rapaz que tentou ajudar, também foi atingido.

Muito se fala sobre o despreparo dos militares nessa ação. Isso é claro. E precisa ser resolvido mais que urgentemente. Não é a primeira e, infelizmente, não será a última vez que algo do tipo acontece.

O atual governo federal e o governo estadual do Rio de Janeiro defendem uma postura, digamos, mais “enérgica”, das forças militares – não estou falando do caso específico de Guadalupe. Postura da qual discordo frontalmente. No entanto, já que acreditam nesse tipo de policiamento, deveriam, no mínimo, dar o devido preparo a esses agentes da lei. Será que o farão ou seguirão apenas estimulando essas práticas mais que ultrapassadas?

Quando falo em preparo não é só técnico, militar, mas também preparo humano, reflexivo, uma nova visão sobre as ações e as consequências das forças de segurança. O Estado, com seus braços armados, deve agir com inteligência e estratégia para combater o crime e não se equiparar aos criminosos, disparando a esmo em qualquer situação um pouco mais complexa.

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Cada vez mais nos tornamos uma sociedade violenta, que por estar inserida em um contexto de insegurança, acredita que violência se resolve com barbárie. Precisamos de mais preparo e menos disparos. De mais base na estrutura social, que inclui, sim, esses trabalhadores da lei, muitas vezes pessoas pobres, batalhadoras.

E não adianta vir com discursos prontos e rasos, dizendo, ironicamente, que as forças militares devem jogar flores enquanto os criminosos dão tiros de fuzil. É evidente que os membros de segurança pública, uma vez armados, precisarão, em determinadas situações, usar esse seu instrumento de trabalho. Contudo, se houver inteligência e investigação de forma mais profunda, esses agentes da lei, cada vez menos, irão se deparar com situações de conflito, pois anteciparão os criminosos. Parece óbvio. E é.

Basta lembrar que a maior apreensão de fuzis da história do Rio de Janeiro, realizada no mês passado, na casa de Ronnie Lessa – detido por ter participado da execução da vereadora Marielle Franco (PSOL) -, foi uma missão da Polícia Civil que não efetuou um disparo se quer.

Mais preparo. Menos disparos. Se dar tiro resolvesse algo, o Rio de Janeiro já seria a Dinamarca há pelo menos umas duas décadas.

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