Márcia Silveira: A literatura e o mundo em transformação

A autora passa por temas como: o fazer do livro, artes plásticas, filmes, histórias de família, jardinagem, culturas, ancestralidade e psicanálise

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Em um mundo que passa por constantes destruições, à beira do colapso, o que pode a literatura? Esta questão é a linha que costura os ensaios do livro O mundo desdobrável – ensaios para depois do fim, da escritora Carola Saavedra, lançado em 2021 pela editora Relicário. A partir desta abordagem, a autora passa por temas como: o fazer do livro, artes plásticas, filmes, histórias de família, jardinagem, culturas, ancestralidade e psicanálise.

O mundo desdobrável fala sobre a necessidade de que a literatura aconteça além dos cânones, desconstruindo-os e expandindo-os para que se ouçam outras vozes, histórias e pontos de vista. Uma visão do texto em sua relação com o inconsciente, com outras formas de estar no mundo, com o que veio antes e com o que virá depois. Carola pensa sobre novas formas de encontrar realidade – e falar sobre ela – neste mundo em frequente transformação, como o rio de Heráclito, que a cada momento é outro.

“Essa crise nos traz a valiosa oportunidade de lançar um novo olhar sobre o que sempre esteve ali, mas não queríamos enxergar: as visões de mundo indígenas, afro-brasileiras, amefricanas, aborígenes, entre outras.”

Para quem está lendo, é como assistir à autora pensar em voz alta. E, tal qual acontece na mente, o livro não possui uma estrutura linear: os assuntos vão e voltam, pensamentos que se desdobram, sem, no entanto, se esgotar, como pede a tônica do ensaio. Porém, os textos que encontramos no Mundo desdobrável de Saavedra têm formato diferente dos ensaios tradicionais, pois são curtos. A leitura é muito agradável e o conteúdo mistura lembranças, referências artísticas e até ficção.

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No capítulo “Um teto todo nosso”, o protagonismo é das mulheres. Trazendo para o debate criadoras como Clarice Lispector, Hilma af Klint, Juana Inés de la Cruz, Laura Mulvey e, é claro, Virginia Woolf, chega-se ao questionamento: “(…) como pode a mulher contar sua própria história se o discurso majoritário já é dado, definido pelo homem? Se a imagem feminina que ela tem de si mesma foi construída em filmes, livros e arte em sua maioria feita por homens, a partir de um olhar masculino?”

Carola escreveu um livro para se ler e reler muitas vezes – e sempre se descobrirá um novo olhar, um assunto que possa ter passado despercebido numa leitura anterior. O mundo desdobrável é um exercício amoroso e filosófico de observação do mundo, do que está acontecendo e do que é possível, em termos literários, fazer para mudar. Sem respostas, mas trazendo algumas das perguntas mais importantes.

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Livro: O mundo desdobrável – ensaios para depois do fim

Autora: Carola Saavedra

Editora: Relicário

Páginas: 216

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Nota: 5 (de 5)

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