Márcia Silveira: Dois brasileiros na Paris da Belle Époque

Opinião da colunista Márcia Silveira sobre o livro "Cafeína", de Maurício Torres Assumpção

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Capa do livro Cafeína (Foto: Reprodução)

A narrativa da ficção histórica “Cafeína” se passa entre a vila de São
Sebastião do Ibirapiranga, no vale do Paraíba, e a Paris da Belle Époque. São
dois os personagens principais: um é o Barão de Lopes Carvalho, milionário
respeitado em Ibirapiranga, dono de uma fazenda de cultivo de café. Com o fim
da escravidão, e, por consequência, da falta de mão de obra escrava para suas
plantações, Carvalho decide diversificar seus negócios, mas acaba sendo
acusado de corrupção e precisa sair do país para fugir da justiça. Em Paris,
decide criar a Companhia do Café Carvalho, maior usina de torrefação da
Europa.

O outro protagonista é Tino, jovem negro criado por uma escrava e pelo
padre da cidade. Acusado de um crime que não cometeu, também se vê
obrigado a fugir do país para não ser preso. Chegando a Paris e sem
condições de se manter, descobre um esquema de tráfico de pó de café usado
– algumas pessoas recolhiam nos lixos o pó já coado e úmido e vendiam para
as fábricas de café, que reutilizavam o produto. No desespero de ganhar algum
dinheiro, a princípio Tino vê nessa atividade a sua única solução. Mais tarde,
as histórias de Tino e do Barão de Lopes Carvalho irão se cruzar, definindo o
destino dos dois personagens.

Autor de “Cafeína”, Maurício Torres Assumpção é jornalista. Foi durante
as pesquisas para seu primeiro livro, “A história do Brasil nas ruas de Paris”,
que ele teve a ideia de escrever “Cafeína”, utilizando algumas histórias e
personagens reais. No final do livro, uma nota do autor esclarece como se deu
a descoberta da usina de torrefação Cafés Carvalho, construída na região
metropolitana de Paris por um barão brasileiro. O livro conta ainda com
fotografias do verdadeiro edifício da usina.

Os capítulos se alternam entre a história de Tino e a do Barão. Em
alguns momentos, a habilidade jornalística do autor parece sobressair à de
romancista, pois encontramos longos parágrafos sobre a história do Brasil do
final do século XIX. A história deixa de ser pano de fundo para se tornar item
principal da narrativa, quebrando um pouco o ritmo da leitura. Porém, nada que
atrapalhe muito. Entre os temas abordados no livro, estão a primeira quebra da

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Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, conhecida como Encilhamento, e o
contexto em que ocorreu a abolição dos escravos no Brasil.

O início de um novo tempo, uma era de liberdade e, logo se descobriria,
de outro tipo de flagelo. Jovelino nunca entendeu o que o barão insinuava
quando dizia que a Abolição, feita daquela maneira, seria um presente de
grego para os pretos. Mas logo percebeu que a liberdade deixara a escravaria
ao deus-dará. E Deus dera: abandono, miséria, alienação, fome, ódio e
cadeia.

Cafeína” é uma boa leitura para quem se interessa por este período da
história do Brasil e aprecia o clima da Paris da Belle Époque. Primeiro livro de
ficção de Maurício Torres Assumpção, foi finalista do Prêmio Rio de Literatura
2019 e publicado em 2020 pela editora Leya.

Livro: Cafeína
Autor: Maurício Torres Assumpção
Editora: Leya
Páginas: 320 _
Nota: 3,5 (de 5)

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Nota
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Bacharel em Filosofia, pós-graduada em História da Arte. Escritora e revisora. Mãe do Bruno e da Daniela. Bibliófila.
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