Márcia Silveira: O mundo como um sonho ruim

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A Redoma de Vidro, lançado no Brasil em 2014 pela Biblioteca Azul (tradução de Chico Mattoso), foi o único romance da poeta norte-americana Sylvia Plath (1932-1963).

A protagonista da trama, Esther Greenwood, é uma jovem de 19 anos do interior dos EUA, que estuda numa universidade de prestígio. Um dia, ganha um concurso de escrita e recebe uma bolsa para passar um mês estagiando numa revista de moda em Nova York, junto com outras 11 meninas. Sua vida social muda radicalmente e ela passa a frequentar muitas festas e a usar roupas da moda. Porém, Esther percebe que não consegue se divertir nos eventos tanto quanto suas colegas:

“Acontece que eu não estava conduzindo nada, nem a mim mesma. Eu só pulava do meu hotel para o trabalho e para as festas, e das festas para o hotel e então de volta ao trabalho, como um bonde entorpecido. (…) eu não conseguia me comover com nada. (Me sentia muito calma e muito vazia, do jeito que o olho de um tornado deve se sentir, movendo-se pacatamente em meio ao turbilhão que o rodeia.)”

O livro mostra o declínio progressivo na vida de alguém que sofre de uma doença mental. É uma história comovente sobre uma jovem cheia de planos que, aos poucos, vai perdendo o controle da sua vida em função da depressão. Nesse período de estágio, que parecia promissor, Esther começa a mostrar traços de uma melancolia que vai aumentando ao longo da história.

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Os indícios de depressão aparecem em diversos momentos do livro. A personagem faz planos, mas não consegue colocá-los em prática, tem insônia, sente-se inadequada, pensa em formas de morrer.

Esther sente-se sufocada e perdida ao pensar em sua vida e nos possíveis caminhos a seguir. Num dos trechos mais tocantes do livro, a personagem discorre sobre a forma como enxerga sua vida: como uma figueira cheia de galhos, na qual cada figo seria uma possibilidade.

“Um desses figos era um lar feliz com marido e filhos, outro era uma poeta famosa, outro, uma professora brilhante, (…) outro era feito de viagens à Europa (…)”

E logo após, fala sobre a angústia por não conseguir escolher um dos figos, pois “escolher um significava perder todo o resto“. As metáforas utilizadas pela autora conferem um tom poético ao romance.

 A autora Sylvia Plath levou dilemas autobiográficos para as páginas do livro, já que, assim como sua personagem Esther, também sofria de depressão. O livro é narrado em primeira pessoa, o que traz intensidade para a história e comove o leitor. A personagem Esther vive a angústia de quem quer conquistar o mundo, mas sente-se enfraquecida e impossibilitada pela doença – uma inquietude presente ao longo de toda a narrativa.

            “Para a pessoa dentro da redoma de vidro, vazia e imóvel como um bebê morto, o mundo inteiro é um sonho ruim.”

Com o intuito de preservar a identidade das pessoas representadas na obra, Sylvia lançou A Redoma de Vidro sob o pseudônimo de Victoria Lucas. A primeira edição do livro foi lançada em janeiro de 1963. Infelizmente, Sylvia Plath acabou vencida pela doença, suicidando-se algumas semanas após a publicação de seu romance.

Livro: A Redoma de Vidro
Autora: Sylvia Plath
Tradução: Chico Mattoso
Editora: Biblioteca Azul
Páginas: 280

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Bacharel em Filosofia, pós-graduada em História da Arte. Escritora e revisora. Mãe do Bruno e da Daniela. Bibliófila.
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