Tarde de quarta-feira, e nos grupos de WhatsApp – principalmente os do colégio do meu filho – começam a pipocar: tem manifestação de novo em frente ao Palácio Guanabara e mais uma vez a Rua Pinheiro Machado está fechada em um dos sentidos. Foram duas vezes no mês de junho, sempre com consequências desastrosas, sempre com milhares de trabalhadores levando três horas para chegar em casa, e no meu caso atraso de uma hora para buscar meu filho na escola – e outra hora para ir de Laranjeiras até Botafogo.
Bom, ficar parado na Pinheiro Machado não é novidade: todo dia, a qualquer hora, ficamos no Viaduto San Tiago Dantas nossos 15, 20 minutos de tartaruguismo, porque afinal de contas são três sinais de trânsito, dois deles para pedestres, um para sair da Coelho Neto. Então fica assim: a rua que é acesso e saída de um dos principais túneis de ligação entre Zona Norte e Zona Sul, túnel que tem fluxo diário de CEM MIL VEÍCULOS, tem como entraves sinais de pedestres meio desnecessários (bom, tem um ali que só quem trabalha no Palácio Guanabara precisa, e olhe lá) e o fato de ser palco constante de manifestações.
Qualquer engenheiro de tráfego de outro país veria essa situação com o mesmo olhar com que um biólogo do século 18 olharia para um ornitorrinco: mas o que é isso, afinal? Uma ligação fundamental de uma cidade sujeita o tempo todo a retenções e paralisações?
E aí chegamos ao major theme (atenção Serginho, e desculpe-me leitores pela piada interna, um dia explico) deste artigo: está na hora de algum governador deixar um grande legado para os cariocas, que é simplesmente transferir a sede do governo estadual para um prédio comum, moderno – como já foi feito inclusive com o governo de Minas, em Belo Horizonte. E aqui me permito até deixar de apurar quem fez a mudança, para tirar o caráter partidário do texto. Mas certamente quem fez a mudança deve ter pensado: nós temos um governador, eleito para um mandato de quatro anos, que pode se reeleger para mais quatro. Não temos um Rei, um Príncipe, um monarca que precisa de palácios suntuosos para criar uma mística em torno de seu nome e de sua postura. É um governador, basicamente um servidor, uma pessoa que precisa de mesa, computador, sala de reuniões e alguns litros de café como todos nós, trabalhadores comuns e não-ungidos pelo poder.
A Assembleia Legislativa do Rio nos mostrou que é possível essa “virada” – e deixou para trás o suntuoso Palácio Tiradentes para ocupar o antigo prédio do Banerjão, com uma estrutura muito mais moderna, com elevadores inteligentes e uma capacidade 100 vezes maior de atender o público. Uma mudança que começou com um petista, o então presidente André Ceciliano, e se consolidou com o presidente atual, Rodrigo Bacellar, que é do União Brasil. Os opostos podem trabalhar e deixar legado, vejam só.
Um novo prédio para o governo do Estado poderia abrigar todas as secretarias, agilizar a tomada de decisões, melhorar as relações políticas, aumentar a integração entre as secretarias, tudo no mesmo prédio. O trabalho se intensificaria, os resultados seguramente seriam melhores. E tenho certeza de que a manutenção de um grande prédio – quem sabe com exploração de restaurantes, lanchonetes, creches – seria mais viável economicamente do que toda aquela estrutura na Pinheiro Machado. E sonhando mais alto: e se fosse perto da Prefeitura, na Cidade Nova? Seria também perto do moderno Centro de Comando e Controle criado pela Secretaria de Segurança há uns dez anos. E perto do CoRio, o centro de monitoramento da Prefeitura. Tudo próximo e integrado.
Do outro lado do Santa Bárbara, os engarrafamentos devidos a manifestações seriam reduzidos a zero. Pelo menos dois sinais seriam eliminados, acabando com os engarrafamentos diários, melhorando o escoamento da Praia de Botafogo e do próprio Catumbi, do outro lado. O tempo – essa commoditie tão subestimado – ficaria melhor para todos, tanto para quem pega ônibus quanto para quem está de carro particular, táxi ou Uber. Os motociclistas talvez até fizessem menos barbeiragens para ultrapassar os carros. Seria possível até mesmo uma obra na Pinheiro Machado para colocação de uma passarela subterrânea, unindo a Rua Paissandu ao novo Museu do Poder, onde ficariam em permanente exposição a arma de Getúlio Vargas, os óculos do Lacerda, e a cuia de chimarrão do Brizola.
Voltaríamos aos tempos da Rua Guanabara, quando ainda nem Túnel Santa Bárbara havia. Uma rua em que era possível ser feliz e até fazer uns piquetes em paz, sem atazanar a vida alheia com engarrafamentos. Esse seria um legado extraordinário para qualquer governador: se é para não termos mais a monarquia, então que se devolvam os palácios.
O trânsito agradece!
Votam ou fazem campanhas na surdina pra essas pestes de governos e depois propõem mudar de bairro, para se verem livres dos protestos, porque de longe “não” testemunharão as merdas que fazem. Simplíssimo assim.
No outro dia me vi retida no trânsito ali por todas as imediações, por conta de um enorme e saudável grupo num passeio ciclístico. E agora José?!
Kkkk ele só quer que o governo mude de sede pra ele nao ter engarrafamento….rs ai ai essa galera provinciana pseudo aristocrata… Aproveita e pede pra fechar o túnel de vez… Melhor, manda fechar o Rebouças tbm… Rs
Excelente. Temos que divulgar mais essa idéia aos cariocas. Tenho certeza que teremos o apoio de toda a população do Rio de Janeiro e consequentemente, dos parlamentares.