A noite de tempo bom, com a brisa fresca do mar de Copacabana, marcou o clima do que seria o maior show da carreira de Stefani Angeline Germotta, mundialmente conhecida como Lady Gaga. Dois milhões e cem mil pessoas, segundo a prefeitura do Rio, formaram uma maré humana de cores, idades e histórias. Um verdadeiro Caos de Boas Vibes, onde todos se aglomeravam em paz e respeito — sem a polarização que certos grupos tentam impor ao país em busca de protagonismo desnecessário.
O título do show não poderia ser mais preciso: Mayhem on the Beach. Caos, sim, mas daqueles que nascem da liberdade, não da destruição. Um caos vibrante, que arrebata sem machucar, que agita sem ferir. As Boas Vibes do Caos.
E foi isso que testemunhamos quando os primeiros acordes de Bad Romance incendiaram a noite.
Diferente de outros megaeventos recentes, onde a sombra do vandalismo pairou como um fantasma, aqui reinou a alegria. Nenhum arrastão, nenhum grito de pânico. Apenas pessoas — muitas, incontáveis — dançando, cantando, vivendo. Uma coreografia espontânea de felicidade.
Gaga, em seu auge técnico, entregou um roteiro impecável. Figurinos e cenários cheios de arte e carinho pela plateia, incluindo a icônica camisa amarelinha do Brasil, tão polêmica em outros contextos. Vocais afiados, engenharia de som perfeita e projeções que transformavam o céu em tela. Cada música era um ato de ópera moderna, uma narrativa de resistência e celebração. Diferente de Madonna, que em seu show de 2024, buscou polemizar com temas sensíveis e chocantes, Lady Gaga foi suave e, ainda assim, ocupou com maestria o espaço de musa pop, agradando a todos os públicos e gêneros, incluindo uma grande parcela da comunidade TGFs+.
Duas Inspirações e Uma Constatação
A primeira veio da própria Gaga. Ela lembrou de 2018, quando a fibromialgia a derrubou às vésperas de um show prometido no Rio. “A vida nos coloca de joelhos, como um soco no estômago, para vermos o mundo de outro ângulo”, disse, antes de mergulhar em Shallow. Ali, a artista global mostrou que o sofrimento não escolhe classe social — apenas faz parte da vida. E que a superação, quando vem, se transforma em arte.
“Isso aqui é mais que um show. É a prova de que a gente pode cair, mas também pode levantar — e dançar no meio do caos!”
A segunda inspiração foi a plateia. Casais de mãos dadas, avós dançando com netos, corpos que desafiam rótulos, bandeiras do Brasil transformadas em mantos, ao lado de todas as cores — vermelho, preto, azul — sem politicagem barata. No final, enquanto alguns cantavam “Sem anistia” e outros “Viva o Brasil”, ninguém se estranhava. A música era a única lei. E, por algumas horas, o radicalismo torpe — aquele que semeia ódio em nome de bandeiras — pareceu insignificante diante daquele mar de gente feliz.
Houve quem tentasse estragar a festa. Rumores de bombas, tentativas de plantar o caos do medo. Mas as autoridades agiram, e o povo, unido, ignorou o veneno.
A Constatação
O Rio provou, mais uma vez, a competência para megaeventos. A prefeitura, os produtores, os seguranças, os banhistas que cederam a areia — todos fizeram parte do espetáculo. Se Mayhem é desordem criativa, então que venha mais. Porque naquela noite, sob as estrelas e os holofotes, dois milhões de pessoas lembraram que, no meio do caos, ainda sabemos dançar juntos.
E Gaga, com seus saltos altos e seu coração nu, foi apenas a regente. A música, afinal, já estava em todos nós.