Uma ação social distribuiu nesta segunda (03/05) e terça-feira (04/05) mil quentinhas por dia para pessoas em situação de rua nas imediações da Lapa, Glória, Catete e Cinelândia. Além dos sem-teto, a ação encontrou muita gente nas ruas sem dinheiro para voltar para casa. Um retrato da quebra da cadeia produtiva da economia e do turismo, que alimentava o comércio ambulante da região e está afetada pela pandemia. A ação continua nesta quarta.
“Eu vim aqui para tentar vender meus produtos de beleza, mas não tem ninguém na Lapa. Foi a primeira vez que pedi comida na rua”, disse uma senhora, que não quis se identificar, acompanhada do filho. Ela almoçou nas escadas da Sala Cecília Meireles e elogiou a comida, composta por arroz, feijão, farofa e um ensopado de peito de frango, cenoura e batata. O alimento foi preparado bem cedo numa das três creches administradas pelo RioSolidario. “Eu vou para Copacabana tentar alguma coisa lá. Mas vou a pé, não temos dinheiro para o ônibus”.
Outro senhor, de 60 anos, conhecido pelos colegas como Morgan Freeman carioca devido à semelhança com o ator americano, também aproveitava o almoço, enquanto mostrava seus chaveiros e lembranças que tentou vender em vão durante toda a manhã. “Irmão, não tem ninguém aqui. Esse rango caiu do céu”, disse, ao ver Shackal, que já esteve em situação de rua e conhece muitos dos moradores da região. “Agora deixa eu correr aqui que tem um grupo de gringos ali na praça e vou tentar vender alguma coisa”.
O diretor-executivo do RioSolidario, Himalaia Galvão, ajudou na distribuição das quentinhas, sempre feita em filas organizadas para evitar aglomerações.
“No RioSolidario nós temos meios e recursos para ajudar quem atua nos territórios. Não dá pra gente ficar de braços cruzados”. Além da quentinha, foram distribuídos talheres de plástico e aplicado álcool em gel nas mãos de quem recebia. “A Tropa já está habituada com este tipo de ação e por isso essa parceria tem tudo para dar certo. Estamos num projeto piloto”.
Andando de um lado para o outro, sempre em contato direto com os moradores de rua, Shackal se mostrava realizado. A Tropa da Solidariedade sempre distribui de 200 a 300 quentinhas diariamente e desta vez, com a meta multiplicada, conseguiu matar a fome de todo mundo. “Sei o que é passar fome, pois vivi nas ruas. Volta e meia, nas nossas ações, ficava gente sem comer e hoje isso não aconteceu”.
Nesta quarta a ação se repete e, se tudo der certo e surgirem novos doadores, pode virar permanente. Afinal, a fome não dá trégua.